Saúde

Caberá a Anvisa e Butantan desfazer temores de interferência política na vacina, diz ex-presidente da agência

11 nov 2020, 17:26 - atualizado em 11 nov 2020, 17:27
Coronavac
Para Vecina, o episódio teve falhas de comunicação de ambos os lados (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Caberá à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e ao Butantan acalmar os ânimos em torno da CoronaVac, potencial vacina contra Covid-19 da chinesa Sinovac que está sendo testada no país pelo instituto ligado ao governo paulista, após a agência autorizar nesta quarta-feira a retomada dos testes com o imunizante, disse à Reuters o ex-presidente da Anvisa Gonzalo Vecina Neto.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Após a Anvisa anunciar na noite de segunda a interrupção dos testes com a CoronaVac, a terça-feira foi marcada por temores de interferência política no tema da vacina, após a comemoração do presidente Jair Bolsonaro pelo revés enfrentado pelo imunizante promovido por seu desafeto João Doria, além de uma troca dura de palavras entre o Butantan e a agência reguladora.

Para Vecina, a decisão da Anvisa na manhã desta quarta de autorizar a retomada dos teses tranquiliza os temores neste sentido, mas não garante que a temperatura irá baixar.

“Eu acho que tranquiliza bastante, e segue o barco. Agora, com certeza Bolsonaro e Doria vão continuar jogando gasolina nessa fogueira, eu não tenho dúvida nenhuma”, disse ele, que atuou na Anvisa de 1999, logo após sua fundação, até 2003.

“O que eu espero é que a Anvisa saiba controlar esse fogo e que o Dimas (Covas) seja o presidente do Instituto Butantan, e não o subordinado do governador Doria”, afirmou.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A decisão da Anvisa de interromper os testes com a potencial vacina chinesa foi tomada, de acordo com a agência, por causa de um evento adverso grave em um voluntário.

Já na segunda-feira, pouco após o anúncio da Anvisa, Dimas Covas, presidente do Butantan, disse que o evento era a morte de um voluntário não relacionada com a vacina.

Posteriormente, a Secretaria de Segurança Púbica do Estado de São Paulo disse que a morte do voluntário é investigada como suicídio.

Na terça, a Anvisa decidiu manter a paralisação, alegando não ter recebido informações completas do Butantan, incluindo a causa da morte do voluntário.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O instituto, por sua vez, reclamou que a agência não entrou em contato em busca de esclarecimentos antes de determinar a interrupção do estudo, como fez, por exemplo, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), que decidiu a favor da continuidade dos testes apesar da morte.

Para Vecina, o episódio teve falhas de comunicação de ambos os lados e o problema foi potencializado pela relação já atribulada entre Butantan e Anvisa.

“A causa mortis não é um detalhe. A causa mortis é a coisa mais importante que existe neste caso… A agência tratou o Butantan, como diz no ditado, ‘aos inimigos, a lei’, e assim foi. Então não houve diálogo, Não havendo diálogo, sobra espaço para o formal, e o formal é demorado.”

Na avaliação de Vecina, o Butantan poderia ter enviado informações mais detalhadas e a Anvisa também poderia ter buscado esclarecimentos. O clima de animosidade, no entanto, atrapalhou.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“Poderia ter havido (diálogo), se as duas instituições não estivessem deste jeito”, disse. “Eu acho que quando chegamos a este ponto, não assiste a razão a ninguém.”

Butantan e Anvisa já entraram em outros atritos, mais leves do que o desta semana, por causa da CoronaVac quando, por exemplo, o instituto reclamou publicamente de um suposto atraso na autorização pela agência da importação de doses prontas da CoronaVac e de insumos para formulação e envase da vacina pelo Butantan.

Na terça, claramente irritado em entrevista coletiva, o presidente do Butantan disse que a decisão da Anvisa causava indignação, e autoridades de saúde do Estado de São Paulo a classificaram como injusta, cobraram ética e lisura do órgão regulador e pediram respeito aos médicos e cientistas envolvidos no estudo.

Em Brasília, também em uma coletiva de imprensa, o presidente da Anvisa, Antônio Barra, e diretores da agência rechaçaram a possibilidade politização da agência e também pediram respeito ao trabalho técnico realizado pelo órgão regulador.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Com os ânimos acirrados, Vecina diz ser impossível prever o que acontecerá daqui para frente, conforme os testes com a CoronaVac avançam até o ponto de o imunizante ter seu pedido de registro analisado pela Anvisa.

“Pode ser qualquer uma das duas coisas. Ou isso sirva para aplainar, ou isso sirva para ter subido o nível da desgraça”, avaliou.

“Temos que esperar a próxima, porque certamente vai ter mais alguma bobagem. Ou a importação de alguma coisa, ou a questão do controle de qualidade, a visita da Anvisa à fábrica que tem que ser feita. Tem bastante problema para acontecer ainda para frente.”

Compartilhar

A Reuters é uma das mais importantes e respeitadas agências de notícias do mundo. Fundada em 1851, no Reino Unido, por Paul Reuter. Com o tempo, expandiu sua cobertura para notícias gerais, políticas, econômicas e internacionais.
reuters@moneytimes.com.br
A Reuters é uma das mais importantes e respeitadas agências de notícias do mundo. Fundada em 1851, no Reino Unido, por Paul Reuter. Com o tempo, expandiu sua cobertura para notícias gerais, políticas, econômicas e internacionais.