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Caio Mesquita: Apostando contra a América

14 jun 2025, 15:47 - atualizado em 14 jun 2025, 15:48

A máxima de Warren Buffett sobre nunca apostar contra a América está caindo em desuso.

A economia americana ainda entrega. As empresas são produtivas, inovadoras, têm gente boa. Mas o dinheiro está saindo.

A saída líquida de capitais já é uma realidade. Fico aqui pensando: se não forem os Estados Unidos, vai ser quem?

A Europa segue estagnada. A China tropeça. Mas o mundo é grande. E o capital sempre encontra uma casa.

Desde 2008, o planeta investe como se só existisse Nasdaq. Agora, o jogo está virando.

O juro real americano subiu. O fiscal desandou. O tesouro americano perdeu seu rating. As big techs ainda carregam a bolsa nas costas, mas o cansaço é visível.

Contrariando Buffett, cresce o time dos que apostam no “Sell America”, dando combustível ao processo global de desdolarização.

Na Ásia, Indonésia, Malásia, Japão, entre outros, buscam ativamente alternativas ao dólar nas suas reservas e pagamentos.

Por quê? Geopolítica. Custo. Autonomia.

Depois das sanções contra a Rússia, o dólar virou arma. E olha que isso aconteceu ainda antes do governo Trump. Imagina agora.

E as apostas contra o dólar se multiplicam.

Esta semana, o renomado gestor Paul Tudor Jones foi direto: “o dólar pode cair 10% nos próximos 12 meses”. Segundo ele, os membros do Fed vão cortar drasticamente os juros de curto prazo. E Trump deve indicar um presidente do Fed ainda mais dovish que Powell.

Resultado? Pressão adicional sobre a moeda americana.

O mercado já sente. O Bloomberg Dollar Spot Index caiu quase 8% em 2025, o pior início de ano desde a criação do índice. E operadores de opções continuam apostando na queda.

Tudo isso acontece junto com a tal “grande rotação” dos fluxos globais. A confiança nos EUA começa a se esfarelar.

E aí está a janela.

O Brasil, apesar de tudo, aparece bem posicionado.

Temos juro real alto, empresas com valuation razoável e um mercado de capitais que amadureceu bastante nos últimos anos.

Existe uma chance real de surfarmos uma onda de valorização importante nos ativos brasileiros, com impacto real em nosso patrimônio financeiro.

cenário otimista da WHG, uma das mais importantes empresas de wealth management do Brasil, aponta para um ganho de 69% para quem investir no Ibovespa, até o fim de 2026.

Mas, e aqui vem o alerta, isso não é convite à imprudência.

O investidor brasileiro sofre de home bias. Investe demais aqui. Por costume. Por medo. Por comodidade.

Muitas vezes, mais de 90% do patrimônio está no Brasil. Isso é insensato. Não porque o Brasil seja o problema — mas porque concentrar risco nunca é boa ideia.

Diversificar é mais do que ir para os EUA.

É pensar geograficamente.

Olhar para Ásia, emergentes não óbvios, commodities, tecnologia europeia, infraestrutura global. Explorar os pontos cegos do mercado.

A desdolarização é um aviso. Não é motivo para fechar fronteiras.

O capital vai onde é melhor tratado. Talvez estejamos prestes a receber uma visita. Mas não confunda isso com salvação nacional.

Continue diversificado. Continue fora da manada.

E, acima de tudo, continue longe do excesso de convicção.

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Sócio-fundador e CEO da Empiricus
É administrador pela FGVUSP e possui MBA pela Columbia University de Nova York. Foi professor de Mercado de Capitais no IBMEC São Paulo. Trabalhou no Bank Boston e foi diretor de mercado de capitais no Banco Paribas e Banco Brascan. Antes de fundar a Empiricus, foi fundador e sócio-diretor da rede de restaurantes Wraps/Gofresh.
CaioMesquita@moneytimes.com.br
É administrador pela FGVUSP e possui MBA pela Columbia University de Nova York. Foi professor de Mercado de Capitais no IBMEC São Paulo. Trabalhou no Bank Boston e foi diretor de mercado de capitais no Banco Paribas e Banco Brascan. Antes de fundar a Empiricus, foi fundador e sócio-diretor da rede de restaurantes Wraps/Gofresh.
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