Mercados

Caio Mesquita: Dinheiro Louco 2

06 abr 2019, 16:32 - atualizado em 17 jun 2019, 15:30

Por Caio Mesquita, CEO da Acta Holding

Fiquei muito feliz com a repercussão da minha newsletter da semana passada, Dinheiro Louco.

Além das dezenas de comentários positivos recebidos, o tema foi abordado em algumas reuniões de que participei durante a semana.

Todas as interações tinham em comum a admiração pelo formato do programa de Jim Cramer e o desejo de que algo nos mesmos moldes aparecesse por aqui.

O mais incrível é que Jim Cramer e seu Mad Money são apenas um exemplo de uma vasta coleção de gurus de investimento que participam de programas de TV destinados ao investidor pessoa física americano.

Somente na CNBC, o braço de notícias da gigante NBCUniversal, há uma dezena de programas diários falando de economia, negócios e investimentos. Veja a grade de programação para os dias de semana:

• Mad Money
• Closing Bell
• Fast Money
• Fast Money: Halftime Report
• Power Lunch
• Squawk Alley
• Squawk Box
• Squawk on the Street
• Worldwide Exchange

O foco é a Bolsa e a pegada é investimento na prática.

A Empiricus, desde a sua concepção, sempre pregou que aprender a investir é uma atividade eminentemente prática, vivida e experienciada. Já imaginou aprender a jogar tênis ou a tocar guitarra apenas com aulas teóricas?

Nesta semana, os nossos sócios da Agora me informaram da contratação dos Najarian Brothers para serem os gurus de uma publicação sobre opções.

Se você gostou da história do Jim Cramer, vai adorar os Najarian.

Jon e Pete Najarian apresentando o Fast Money: Halftime Report

Ambos foram jogadores profissionais de futebol americano (Jon atuou pelo Chicago Bears e Pete pelo Tampa Bay Buccaneers e Minnesota Vikings), traders na Chicago Board Options Exchange e fundaram a optionMONSTER, uma publicadora de conteúdos financeiros especializada em opções e derivativos.

Os Najarian fazem recomendações diárias de opções de ações. A profundidade e amplitude do mercado americano de derivativos de ações proporcionam uma infinidade de alternativas às frenéticas mentes dos traders.

É uma pena que não tenhamos nada minimamente parecido por aqui. Lamentavelmente, duas barreiras impedem nossa versão brasileira da CNBC.

O primeiro desafio tratei na semana passada. A baixa participação da pessoa física na Bolsa limita a audiência, inviabilizando comercialmente o canal.

O outro desafio é regulatório. Lá nos Estados Unidos a regulação de valores mobiliários estabeleceu limites para sua própria atuação, isentando quem trabalha exclusivamente com conteúdo (publishers) da supervisão da SEC (equivalente à nossa CVM). Produzir e divulgar recomendações de investimento para o público em geral é tratado como conteúdo jornalístico, portanto, protegido pela liberdade de expressão.

É isso que permite que Jim Cramer e os irmãos Najarian tragam aos seus seguidores as suas recomendações do que comprar e do que vender. Obviamente, caso estivessem ligados a instituições financeiras, ou seja, participando do mercado de capitais, tanto Cramer como Najarian teriam que prestar satisfação à regulação de valores mobiliários, já que conflitos de interesses poderiam contaminar e determinar suas recomendações.

Aqui no Brasil, a regulação da CVM não faz essa distinção entre o analista conflitado de instituição financeira e quem meramente publica ideias e comercializa diretamente seu conteúdo editorial de investimentos. Na prática, isso quer dizer que o Jim Cramer brasileiro teria que ter o mesmo tom dos relatórios de análise dos bancos de investimento, estar credenciado na Apimec e submeter-se a eventuais punições de uma associação dominada por analistas de bancos.

Creio que o painel de efeitos sonoros do Mad Money, com seus botões de “Train Wreck”, “Sell, Sell, Sell” e “Ka-Ching”, não estaria condizente com a linguagem serena e moderada prevista pela instrução da CVM que regula os analistas. Ou seja, nada de Mad Money para nós.

E note que ficamos travados naquela sinuca que perpetuamente inibe a participação da pessoa física na Bolsa. Não há interesse, pois poucos conhecem, e poucos conhecem porque não têm seu interesse despertado por uma comunicação efetiva.

O pleito das nossas empresas de publicações financeiras é justamente o modelo vencedor norte-americano, consolidado desde o Investment Advisers Act, de 1940. Sobre esse tema, recebemos com entusiasmo a manifestação do diretor da CVM Carlos Rebello, em seu voto no Colegiado da CVM desta semana.

Apesar dos desafios, tenho grande esperança de que, num futuro não tão distante, possamos assistir à versão tupiniquim dos Najarian e ao Felipe Miranda como o Jim Cramer “brazuca”.

Deixo você agora com os destaques da semana.

Um abraço e boa leitura!  Caio Mesquita

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