Caio Mesquita: É mais difícil do que parece

A Nvidia fez história na semana passada. Foi a primeira empresa do mundo a atingir US$ 4 trilhões em valor de mercado, um marco que parecia impensável há pouco tempo. Para colocar em perspectiva, isso equivale a 5 vezes o valor de mercado de todas as empresas brasileiras.
Só para você ter uma ideia, em meados de 2022, a companhia valia menos de US$ 600 bilhões. Desde então, suas ações dispararam mais de 500%, agregando ao seu valor de mercado uma Apple inteira.
Assim foi a corrida dos trilhões:
- Apple foi a primeira a chegar a US$ 1 tri;
- Também foi a primeira a bater US$ 2 tri;
- A Microsoft cravou os US$ 3 tri;
- E agora a Nvidia lidera a corrida do US$ 4 tri.
A empresa virou a espinha dorsal da inteligência artificial, setor que, sozinho, carrega os mercados neste momento. A Nvidia representa hoje 7% do S&P 500, o maior peso individual desde a Apple em 2020.
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Desde abril, o papel já subiu mais de 70%. E o mais interessante: não é só hype.
O mercado de chips para data centers voltados à IA, basicamente criado nos últimos dois anos, adicionou bilhões em receita e margem para a empresa. Mesmo com múltiplos elevados, o crescimento e a rentabilidade sustentam o preço.
Claro, as taxas de expansão devem cair. Em vez de crescer 1.000% como em 2023, a expectativa agora é algo entre 15% e 20% ao ano. Há também incertezas envolvendo a China e a crescente competição. Mas o que já foi construído é extraordinário.
Ironicamente, talvez nada disso tivesse acontecido se Jensen Huang, o fundador e CEO da Nvidia, soubesse o que enfrentaria no caminho.
Sua história é impressionante. Nascido em Taiwan, viveu parte da infância na Tailândia e foi enviado aos nove anos para os Estados Unidos, fugindo da guerra do Vietnã. Trabalhou lavando pratos no Denny’s. Sofreu bullying, racismo, ameaças. Mais tarde, formou-se em engenharia elétrica, fez mestrado em Stanford e, com apenas US$ 40 mil, fundou a Nvidia em 1993.
Mas o que mais me marcou foi sua resposta, numa entrevista recente, quando perguntado se, com o que sabe hoje sobre o presente da Nvidia, faria tudo de novo:
“Não. Foi um milhão de vezes mais difícil do que imaginei. Se soubéssemos tudo o que enfrentaríamos – dor, vergonha, vulnerabilidade, fracassos –, ninguém começaria uma empresa. A ingenuidade é o superpoder do empreendedor.”
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Empreendo há mais de duas décadas. Fundamos a Empiricus em 2009, criamos um mercado que não existia, enfrentando resistência, crise reputacional, batalhas regulatórias… e vencemos. Em 2021, nos associamos ao Banco BTG Pactual, numa transação que selou minha independência financeira.
Mas, sinceramente? Também tenho dúvidas se faria tudo de novo.
Não porque não tenha valido a pena. Claro que valeu. Mas porque o risco era enorme.
Na verdade, ajustando pelo risco, empreender simplesmente não vale a pena.
Por mais preparado, dedicado e resiliente que você seja, as chances de dar errado são grandes demais para serem ignoradas. E, no caso do empreendedor, o erro costuma ter consequência pessoal, familiar, patrimonial.
É por isso que essa fala do Huang me tocou tanto. Porque, por trás do brilho do valuation, há sempre a sombra do risco. E isso vale para qualquer um que esteja tentando criar algo do zero.
Ainda acredito que empreender é o caminho mais direto para a liberdade. Não o mais fácil, nem o mais seguro, mas talvez o mais transformador.
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Se você está nesse caminho, fica o recado: não é glamouroso. É difícil, dolorido, exaustivo. Mas pode ser profundamente recompensador. Só não se iluda com o mito do “empreendedor heroico”.
Até os que chegaram ao topo pensam duas vezes.