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Caio Mesquita: Pra não dizer que não falei das ações

04 dez 2021, 12:00 - atualizado em 04 dez 2021, 2:23
Caio Mesquita, Empiricus
“Analistas começam a notar pontos positivos em nossa situação fiscal. Os dados recentes indicando superávit fiscal primário precisam ser considerados na avaliação do risco Brasil”, aponta o colunista (Imagem: Divulgação/Empiricus)

Acredito que temos pelo menos uma coisa em comum: nossas carteiras de ações brasileiras estão com performance recente negativa.

Fechamos novembro completando o quinto mês seguido de queda do Ibovespa.

Toda a segunda metade de 2021 tem sido uma longa e dolorosa ladeira de retornos negativos e ajustes para baixo em nossas posições de investimentos.

Daniel Kahneman, o papa das finanças comportamentais, já nos ensinou sobre a aversão a perdas, o viés cognitivo que nos faz dar mais importância às perdas do que aos ganhos.

Sendo assim, nós, investidores brasileiros, seguimos especialmente doloridos por conta de nossa redução patrimonial.

Será que existe esperança para as ações brasileiras?

Difícil não se contaminar pelo passado recente.

Trago novamente Kahneman, que nos ensinou um outro viés cognitivo, a Regra do Pico-Fim.

O Pico-Fim relata a tendência do ser humano em avaliar uma experiência pelo seu pico emocional ou pelo seu final.

Produtores de cinema, especialmente os de Hollywood, entendem isso, tanto que capricham no encerramento de um filme. Espectadores satisfeitos com a boa conclusão da obra tendem a indicar aos seus reconhecidos o programa que acabaram de experienciar.

Se nosso filme com ações brasileiras terminasse agora, sairíamos decepcionados e pouco inclinados a recomendá-lo.

A conta deste semestre trágico pode ser colocada, em grande parte, nas trapalhadas do governo, que enfileirou uma sequência de imbróglios iniciada pela fracassada iniciativa de reformar o Imposto de Renda, com seu auge na questão dos Precatórios e o estouro do teto de gastos.

Somado a isso, tivemos também o combate à alta da inflação promovido pelo Banco Central, que apertou a torneira monetária aumentando juros. O brilho de uma renda fixa novamente atraente tem pesado nos fluxos financeiros de saída da Bolsa, exercendo pressão vendedora constante

Consequentemente, vemos a Bolsa brasileira extremamente barata, posto que esse desânimo generalizado encontra-se refletido no preço atual das ações

O Matheus Spiess, do nosso time de análise, enviou-me dois gráficos que demonstram o quanto o Ibovespa está historicamente desvalorizado.

O primeiro gráfico mostra um Ibovespa sendo negociado a um múltiplo de 10 vezes o lucro projetado para o ano que vem, nível semelhante ao verificado em 2015-16 (segundo mandato Dilma) e em 2008 (quebra do Lehman Brothers). Note que Petrobras (PETR3;PETR4) e Vale (VALE3) foram excluídas do cálculo. Com elas, o múltiplo cai para 8 vezes.

O segundo é ainda mais emblemático. O earnings yield do Ibovespa mede o prêmio de risco embutido nos preços das ações em relação à renda fixa. Neste gráfico a comparação foi feita contra a NTN-B de dez anos. O prêmio de 4,6% é o mais alto de toda a série histórica mostrada, com exceção do pico do estresse da pandemia no início do ano passado.

Nada impede, claro, de o barato ficar ainda mais barato.

Em 2015 a Empiricus foi a primeira casa a anunciar que havia chegado a hora de voltar a comprar ações, depois do desastre do “Fim do Brasil” do ano anterior. Convidamos nossos assinantes a “virar a mão”, passando a recomendar a compra de ações de qualidade que estavam sendo negociadas a valores atraentes.

Apesar de ter sido uma dos maiores acertos de nossa história, a “Virada de Mão” de 2015 sofreu alguns meses antes de se tornar positiva, com o Ibovespa caindo mais de 10% antes de começar a virar.

Dito isso, entendemos, porém, que podemos estar diante de uma boa oportunidade de aproveitar a assimetria de retornos esperados dentro de ações brasileiras.

Do lado macro, o cenário parece ter, no mínimo, estabilizado

Analistas começam a notar pontos positivos em nossa situação fiscal. Os dados recentes indicando superávit fiscal primário precisam ser considerados na avaliação do risco Brasil.

Bem ou mal, o bode dos Precatórios começa a sair da sala com a definição da PEC que regula o tema. Além disso, percebe-se um notável arrefecimento na relação entre os Poderes, especialmente no embate entre Executivo e Judiciário, desde quando Michel Temer voltou à cena política.

No micro, as empresas seguem produzindo bons resultados, com balanços saudáveis.

Difícil dizer ainda se teremos um rali de fim de ano. Esta semana, contudo, parece indicar que, pelo menos, o Ibovespa parece ter encontrado um suporte acima dos 100 mil pontos.

As próximas semanas merecem um monitoramento mais cuidadoso.

 

CEO da Empiricus e Presidente da Acta Holding
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