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Carreira e filhos são, mesmo, incompatíveis? Eis o que mostram os números

22 jun 2023, 11:49 - atualizado em 22 jun 2023, 11:54
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Não se iluda: a foto é mais bonita que a realidade, quando se trata de carreira da mulher e filhos (Imagem: Pixabay/ Stephanie Pratt)

Agora que as campanhas para o Dia das Mães passaram e as do Dia dos Pais ainda não começaram, temos um intervalo para falar sobre as reais condições de mães e pais no ambiente de trabalho.

Sempre ouvimos histórias de mulheres demitidas após a licença maternidade, ou que nem chegaram a ser contratadas pelo simples fato de serem mães. E, pior, sabemos o que está por trás desses movimentos.

Eu mesma ouvi um chefe questionar se uma profissional deveria ser promovida, já que não tinha filhos, estava em idade fértil e poderia vir a querer tê-los. Também escutei de CEOs de multinacionais que era certo as mulheres ganharem menos, pois podiam passar até sete meses ausentes da empresa na licença maternidade.

Mas palavras são palavras. Alguém sempre pode argumentar que elas foram retiradas de contexto ou mal interpretadas. Os números são precisos. Por isso, decidimos fazer uma pesquisa para explorar como ter filhos impacta a vida profissional e se o trabalho influenciou de alguma forma a decisão de ser mãe ou pai.

A pesquisa mostra que quem não tem filhos vê um impacto negativo maior da parentalidade em 46 dos 57 fatores avaliados, principalmente aqueles ligados a crescimento profissional, saúde financeira e nível de ansiedade. Enquanto 56% das pessoas sem filhos acreditam que a parentalidade diminui as chances de conseguir uma promoção, por exemplo, a porcentagem entre pais e mães é de 39%.

Talvez seja um reflexo das histórias ouvidas de colegas de profissão e amigos. Eu mesma tenho uma amiga que foi demitida logo após voltar da licença maternidade, e outra que foi trabalhar no dia seguinte após ter tido um aborto espontâneo, com medo de ser julgada no emprego. Quando perguntamos se a decisão de não ter filhos foi influenciada pela carreira, 46% dos respondentes empregados afirmam que “sim”.

Em contrapartida, quem não tem filhos percebe que a parentalidade fortalece o desenvolvimento de algumas competências, como a arte de ser multitarefa. Quase 90% dos profissionais sem crianças enxergam essa habilidade nos colegas que são pais ou mães; 80% dos que têm filhos se vêm assim.

Carreira e filhos: Mulheres são as mais discriminadas

Além dessas curiosidades, os dados representam bem as histórias que conhecemos e que se resumem na dura realidade: o impacto da parentalidade sobre a carreira é muito maior para a mulher do que para o homem. Cerca de 30% das respondentes contam que não foram contratadas ou promovidas por serem mães – 10% afirmam que ouviram da própria empresa que o cargo mais alto não veio por terem filhos.

Entre os homens, não houve esse relato. Apenas 4% deles relataram demissões por conta de serem pais, enquanto para elas a proporção é de 11%.

O número de mães que já se sentiram preteridas no trabalho é cinco vezes maior do que o de pais. Depois que têm filhos, elas são menos chamadas para participar de projetos. Consequentemente, têm menos exposição, o que prejudica a busca por promoções e aumentos.

A desigualdade da parentalidade começa em casa. Segundo os respondentes, as mães, em geral, são as grandes responsáveis pela maior parte das tarefas ligadas à criação dos filhos. Na visão dos pais, 54% acreditam que o cuidado dos filhos é compartilhado de maneira igualitária. Do ponto de vista das mães, isso é verdade para menos de 40%. A divisão de tarefas foi acordada previamente por 79% deles; entre elas, apenas 55% concordam com essa afirmação.

Mães e pais entrevistados na pesquisa revelam que, nos últimos três meses, tiveram de faltar no trabalho o equivalente a 2,5 dias para cuidar dos filhos. Entre as mulheres, a média foi superior em quase um dia.

O resultado desse descompasso são as consequências já vistas na carreira da mulher. E a falta de políticas claras de gestão de pessoas, além da inabilidade dos gestores, só piora a situação. Apenas 5% das companhias possuem uma política que permite que os funcionários se ausentem do emprego quando há uma emergência na família.

Na maioria dos casos, a decisão fica por conta dos chefes. Esses, por sua vez, consideram que fazem um bom trabalho na forma como lidam com as questões familiares de seus liderados. Quem tem filhos, contudo, tem uma percepção diferente.

Segundo a pesquisa, praticamente um a cada quatro profissionais com filhos já foi questionado pelo líder quando teve de resolver alguma demanda familiar durante o expediente (as mulheres são quase quatro vezes mais questionadas do que os homens). Resultado? Mais de 70% dos respondentes tiveram de mentir para conseguir atender à demanda familiar.

Conciliar parentalidade e carreira não é tarefa fácil, e as organizações ainda têm deixado muito a desejar. Em um momento em que as taxas de natalidade em todo o mundo caem a níveis perigosamente baixos, é preciso assegurar que ninguém tenha de escolher entre ter filhos e crescer profissionalmente.

 

Tatiana Sendin é fundadora e CEO da Think Work. Jornalista especializada em negócios e recursos humanos, nos últimos 20 anos, tem escrito sobre carreira, mercado de trabalho, gestão de pessoas, empreendedorismo e tecnologia.
Tatiana Sendin é fundadora e CEO da Think Work. Jornalista especializada em negócios e recursos humanos, nos últimos 20 anos, tem escrito sobre carreira, mercado de trabalho, gestão de pessoas, empreendedorismo e tecnologia.
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