Entre Altas e Baixas

Carros populares podem beneficiar grupo de ações na Bolsa; veja a lista de campeãs

07 jun 2023, 14:25 - atualizado em 07 jun 2023, 14:25
Carros populares
Programa de carros populares do governo pode destravar valor para grupo de ações na Bolsa brasileira em 2023, conforme analista da Empiricus. (Imagem: REUTERS/Roosevelt Cassio)

Que o governo anunciou medidas para impulsionar a venda de carros populares, você já deve saber. Mas, fica a pergunta.

Essa política tem o potencial de beneficiar algum segmento em específico? Se sim, qual seria? E, por outro lado, será que alguma indústria terá impacto negativo?

Antes de responder essas perguntas, vale a pena um breve resumo das medidas para que todos fiquem na mesma página.

Nos últimos dias, o presidente Lula se juntou a outras autoridades governamentais para anunciar medidas para impulsionar a atividade industrial, especialmente o setor automobilístico.

Houve divulgação uma redução no IPI e nos impostos PIS/COFINS para carros com preço de até R$ 120 mil e para caminhões e ônibus.

Carros populares com desconto

Inicialmente, o que foi ventilado pelo vice-presidente Alckmin, é que os descontos de preço variariam de 1,5% a 10,79%, com base em critérios como o preço do carro, bem como sua eficiência energética.

Além das isenções fiscais, o programa também tem como objetivo estimular a compra de veículos via lançamento de uma linha de crédito subsidiada.

Nos últimos dias, a proposta inicial passou por alguns ajustes.

De acordo com o novo texto da Medida Provisória, ao invés de descontos de 1,5% a 10,79%, haveria geração de créditos entre R$ 2 mil a R$ 8 mil na nota fiscal do consumidor e compensado depois pelas montadoras no recolhimento dos tributos.

No caso dos caminhões e ônibus, os descontos serão de R$ 33,6 mil a R$ 99,4 mil.

O teto de financiamento do programa é de R$ 1,5 bilhão e será dividido em R$ 500 milhões para veículos leves, R$ 700 milhões para caminhões e R$ 300 milhões para ônibus.

Dessa forma, o período de duração do programa estará condicionado a utilização completa do benefício.

De todo modo, independente da metodologia aplicada, o efeito mais imediato da redução do preço dos veículos novos é uma redução também no preço dos veículos usados, o que afeta todas as locadoras de veículos, uma vez que pressiona os preços médios de venda de carros na divisão de seminovos.

Carros populares mexem com ações na Bolsa

Quer dizer então que as locadoras de carros poderiam ser as grandes afetadas pela medida?

Na minha visão, não. Para fundamentar essa opinião, vale a pena voltarmos alguns anos e analisar a história.

Em 2008, quando houve a redução do IPI para o setor automotivo, a Localiza (RENT3) sentiu uma queda no preço dos carros usados.



Assim, teve que reconhecer uma perda de R$ 88 milhões em sua demonstração de resultados, conforme demonstrado abaixo:

Localiza
(Release de resultados do 4T08 de RENT3/ Fonte: Localiza)

O reconhecimento de uma perda dessa magnitude afeta o lucro líquido da companhia.

Dessa forma, poderá fazer com que haja uma revisão negativa dos seus lucros no curto prazo, o que, em um primeiro momento, seria negativo.

No entanto, existe o lado positivo dessa história.

Boa notícia para locadoras de carros

Embora ainda não seja sabido o período do benefício, caso ele permaneça por um tempo suficiente e resulte em preços de carros estruturalmente mais baixos, o capital investido das locadoras para renovação de frota se reduzirá, o que será positivo em termos de investimento, retorno sobre o capital investido (ROIC) e crescimento de lucro para frente.

Foi justamente esse movimento que ocorreu no passado.

Em 2010, com o fim do incentivo do IPI, a companhia reportou ganhos na unidade de Seminovos, além de reduzir a depreciação da frota, impactando positivamente o lucro do período.

Dessa forma, acredito que no curto prazo poderíamos ver uma queda no lucro das locadoras de veículos, mas no médio prazo esse movimento seria mais do que compensado pelo aumento de ROIC e de lucro.

Com isso, na minha opinião, as locadoras têm impacto positivo com a medida.

Outros segmentos que poderiam se beneficiar com essa política seriam as seguradoras de automóveis e companhias que participam de algum modo do processo de fabricação e/ou logística dos veículos.

Carros populares e ações com potencial

No grupo das seguradoras, destaco a Porto Seguro (PSSA3), que é líder do segmento de seguro auto no país com uma frota superior a 5,7 milhões.

Caso as projeções de crescimento de produção de veículos realizadas pelo governo se concretizem, veremos um aumento da frota potencial assegurada, o que seria uma opcionalidade interessante para a Porto, tendo em vista que o segmento de seguro auto representa a maior parcela de seu faturamento.

Indo mais adiante, empresas com a Iochpe Maxion (MYPK3) e a Tegma (TGMA3) também poderiam se beneficiar.

A primeira é líder mundial na produção de rodas automotivas e um dos principais produtores de componentes estruturais automotivos nas Américas.

Já a segunda atua na logística de veículos novos para praticamente todas as montadoras instaladas no país e as principais importadoras.

Pela ótica dos veículos pesados, acredito que Randon (RAPT4), Tupy (TUPY3) e a Marcopolo (POMO4) seriam as grandes beneficiadas.

Enquanto isso, não vejo nenhuma empresa que poderia sofrer uma perda estrutural de rentabilidade ou de faturamento com o programa.

Forte abraço,

Graduado em Engenharia Mecânica pela UFRJ e com MBA em Finanças pela mesma instituição, Fernando Ferrer atua na Empiricus como analista de investimentos há 5 anos. Atualmente, é responsável pela série best-seller As Melhores Ações da Bolsa e faz parte da equipe que comanda o Carteira Empiricus, o portfólio multimercado que é o carro-chefe da casa. Colunista da newsletter Day One, Fernando passará a integrar o time de colunistas do Money Times com sua série quinzenal Entre altas e baixas.
Graduado em Engenharia Mecânica pela UFRJ e com MBA em Finanças pela mesma instituição, Fernando Ferrer atua na Empiricus como analista de investimentos há 5 anos. Atualmente, é responsável pela série best-seller As Melhores Ações da Bolsa e faz parte da equipe que comanda o Carteira Empiricus, o portfólio multimercado que é o carro-chefe da casa. Colunista da newsletter Day One, Fernando passará a integrar o time de colunistas do Money Times com sua série quinzenal Entre altas e baixas.
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