CEO do Banco XP faz alerta para incentivos que turbinam renda fixa

O Brasil deverá passar mais um ano sem abertura de capitais. Com os juros nas alturas, a 15%, e uma fadiga no mercado financeiro, alguns analistas veem abertura de janela somente em 2027.
Para o CEO do Banco XP (XPBR31), José Berenguer, isso é um mau sinal. Em evento do BNDES, que discutiu o papel do mercado de capitais, o executivo recordou que, enquanto a Índia realizou 100 IPOs em 2024, a bolsa brasileira não ganhou nenhuma empresa.
‘É muito difícil que a economia se desenvolva de forma constante e sustentável se esse mercado não funcionar’, afirma.
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Entre as causas para esse atraso, Berenguer cita o nível atual da taxa de juros e, principalmente, ‘os incentivos fiscais que a renda fixa tem‘.
‘Eu sei que há uma série de setores aqui representados que dependem desses incentivos para terem funding, mas, se lembrarmos, esses incentivos começaram quando não havia mercado de capitais’.
Entre os produtos que possuem incentivos estão as debêntures incentivadas, letras de crédito imobiliário (LCI) e letras de crédito do agronegócio (LCA).
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Segundo Berenguer, essas ferramentas faziam sentido quando havia hiperinflação, não existia curva de juros ou recurso de longo prazo, algo diferente da atual situação.
‘Nós continuamos com esse capricho de criar incentivos fiscais que acabam turbinando a renda fixa e eliminando qualquer possibilidade de o mercado de equities se desenvolver’.
Ainda segundo Berenguer, isso é, de fato, bom para alguns setores e muito bom para o investidor. Mas é aí que mora o perigo.
‘Não há como o mercado de renda variável se desenvolver enquanto isso perdurar. Então fica aqui uma provocação para que tenhamos uma discussão sobre a importância desse mercado e como podemos diminuir a dependência da economia em relação aos incentivos fiscais’.
Custo de capital
Já o CEO do Itaú Unibanco (ITUB4), Milton Maluhy, que também participou do debate, citou o custo de capital como um desafio para o mercado.
‘Todo investidor de equity olha o custo de equity: qual é o custo de capital que ele precisa ter, que retorno ele espera no investimento líquido de imposto’.
Além dos juros, Maluhy cita o aspecto institucional.
‘Ajuda a reduzir o custo de equity, permitindo que investidores estrangeiros olhem para o Brasil como um ponto seguro, um lugar onde percebam que as instituições funcionam e o ambiente jurídico garante segurança’.
Em sua visão, na hora em que a Selic entrar em trajetória de queda, somada a um avanço importante no aspecto institucional e no ambiente jurídico, ‘conseguiremos trazer o custo de equity do Brasil para um patamar mais baixo e ampliar muito o nível de investimento’.
A expectativa é de que os juros caiam entre o final do ano e o começo do ano que vem.
‘Lembrando que o investimento estrangeiro tem um papel muito relevante para o desenvolvimento do país e precisamos abrir novas fronteiras e estimular esse mercado’, completa.
Meia culpa
Na visão de Roberto Sallouti, CEO do BTG Pactual (BPAC11), o próprio mercado também possui culpa no atual cenário.
‘Enquanto a taxa de juros longa estiver no nível atual, o investidor age de forma racional. Se ele consegue receber em torno de 1% ao mês, sem risco direto, é natural que invista nesse caminho’.
Para ele, é necessário mudar as expectativas em relação à trajetória da dívida.
‘Não estou nem falando da Selic de curto prazo ou da inflação deste ano, mas sim do que é guiado por expectativas: o juro real de 30 anos‘.
‘Se conseguirmos endereçar essa questão com as medidas que estão sendo feitas – e o ministro Fernando Haddad também destacou que será necessário aprimorar o arcabouço fiscal –, quanto antes isso acontecer, mais cedo veremos o crescimento do mercado de capitais‘.