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CEO do Carrefour diz que não vai comercializar carne do Mercosul e gera indignação no Brasil; entenda

21 nov 2024, 12:09 - atualizado em 21 nov 2024, 16:12
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Ações do Carrefour sofrem queda na bolsa. (Imagem: Reuters/Paulo Whitaker)

O CEO Global do Carrefour (CRFB3), Alexandre Bompard, afirmou em suas redes sociais na última quarta-feira (20), que a empresa assumiu o compromisso de não comercializar nenhuma carne proveniente do Mercosul.

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Em carta endereçada ao presidente da organização francesa FNSEA (Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores), o executivo ainda diz que o projeto de acordo de livre comércio entre União Europeia (UE) e Mercosul traz um risco de “inundação” no mercado francês, de uma carne que “não respeita as exigências e normas”.

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A declaração foi rechaçada por entidades brasileiras e as ações da empresa registram queda. Por volta das 11h, o Carrefour caía 3,57% na B3.



Na visão de Fernando Iglesias, analista de proteína animal da Safras & Mercado, os supermercados do grupo Carrefour podem sofrer uma tentativa de boicote, que deve gerar transtornos e causar impacto na bolsa.

Além disso, Iglesias ressalta que a produção europeia de carnes está encolhendo ano após ano e que o Brasil “é o único país do mundo que tem as condições necessárias para atender a todas as exigências que a Europa faz”. Portanto, excluindo o Mercosul, o Carrefour pode ter dificuldades de abastecimento.

“Se eles não vão comprar carne da América do Sul, eles vão ter que trazer de outras regiões. A carne da Austrália é mais custosa que a da América do Sul e dos Estados Unidos nem se fala. Então, eles têm uma necessidade de compra muito ampla e não podem descartar esse tipo de região”, diz.

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Em nota enviada ao Money Times, o Carrefour afirmou que a medida se aplicará apenas às lojas na França, sem alteração na operação da empresa no Brasil e na Argentina.

Mapa responde

A resposta do Governo brasileiro veio por uma nota oficial do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que rechaçou o posicionamento de Bompard. “O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”.

A nota ainda diz que o ministério não acredita em um movimento orquestrado por parte de empresas francesas visando dificultar a formação do acordo Mercosul – UE, discutido no G20. A pasta destacou que o Brasil atende todos os padrões regulatórios e que as carnes produzidas no Brasil são consumidas pela UE há mais de 40 anos.

“O Mapa lamenta tal postura que, por questões protecionistas, influenciam negativamente o entendimento de consumidores sem quaisquer critérios técnicos que justifiquem tais declarações”, afirma.

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Além do posicionamento oficial do Mapa, o próprio ministro Carlos Fávaro se pronunciou. Diferente da nota publicada, Fávaro disse que parece uma ação orquestrada por companhias francesas e lembrou o caso da Danone. Na visão dele, as empresas procuram encontrar alguma forma de pressionar o Governo francês a não assinar o acordo.

Entidades do setor defendem a carne do Mercosul

A ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção e Exportações e Investimentos) considerou a declaração “lamentável” e reforçou o cumprimento dos padrões sanitários e ambientais, dizendo que não há motivos razoáveis para restrições à carne produzida no Mercosul.

“Muito estranhamos tal movimento por parte da gigante do varejo francês, em meio a pressões protecionistas em seu país, no momento em que Mercosul e União Europeia estão próximos de fechar o ambicionado acordo que formará o maior mercado do planeta, beneficiando enormemente as populações dos países signatários”, afirmou.

Em nota, a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) lamentou o posicionamento do CEO do Carrefour e apontou contradição, já que a empresa opera cerca de 1.200 lojas no Brasil.

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“Em 2023, o Brasil respondeu por 27% das importações de carne bovina da União Europeia fora do bloco, enquanto o Mercosul, somado, alcançou mais de 55%. Essa parceria, que há décadas atende aos padrões europeus, reafirma o potencial de cooperação entre as nações”, diz a associação das indústrias exportadoras”, disse.

A ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) também se manifestou, afirmando que o executivo utilizou argumentos equivocados e claramente protecionistas. “Ao impulsionar o bloqueio injustificado a produtos provenientes de regiões com melhor capacidade de produção com respeito às questões ambientais, Bompard coloca os consumidores de suas lojas em uma lógica de consumo com mais emissões e sob maior pressão inflacionária e menor acesso às classes menos favorecidas”.

Outra entidade que manifestou repudio e reforçou a posição do Brasil como o maior exportador de carne bovina do mundo foi a FABB (Frente das Associações de Bovinos do Brasil). Em nota, disseram que o posicionamento “precisa ser reconsiderado de maneira urgente, uma vez que não possui qualquer respaldo científico ou técnico que o justifique.

Carrefour se posiciona

Na manhã desta quinta-feira (21), o Carrefour disse que a declaração do CEO global não irá afetar as operações da empresa na América do Sul.

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“O Carrefour França informa que a medida anunciada ontem, 20/11, se aplica apenas às lojas na França. Em nenhum momento ela se refere à qualidade do produto do Mercosul, mas somente a uma demanda do setor agrícola francês, atualmente em um contexto de crise”, diz.

“Todos os outros países onde o Grupo Carrefour opera, incluindo Brasil e Argentina, continuam a operar sem qualquer alteração e podem continuar adquirindo carne do Mercosul. Nos outros países, onde há o modelo de franquia, também não há mudanças”, finaliza.

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Repórter estagiário no Money Times, graduando em jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP). Cobre empresas, mercados e agronegócio desde 2024.
gustavo.silva@moneytimes.com.br
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