Entrevista

CEO e CFO da Americanas (AMER3) veem fim da supervisão judicial no horizonte e apostam no apelo emocional e nas lojas físicas

28 nov 2025, 7:00 - atualizado em 21 nov 2025, 8:21
CEO da Americanas, Fernando Soares
CEO da Americanas, Fernando Soares (Divulgação)

A cada trimestre de resultados, a Americanas (AMER3) dá mais um passo em direção ao fim da recuperação judicial e se distancia do escândalo contábil que a colocou neste processo. Ao Money Times, o CEO da varejista, Fernando Soares, falou sobre os resultados do terceiro trimestre e o processo de mudança de posicionamento da companhia.

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Soares deixou a vice-presidência de operações para assumir o cargo de CEO em agosto deste ano, posição antes ocupada por Leonardo Coelho, que havia assumido a cadeira após a fraude bilionária vir ao olhar do mercado, em janeiro de 2023.

Neste mês, a companhia reportou um recuo de 96,4% no lucro líquido em base anual, para R$ 367 milhões, refletindo a ausência de ganhos contábeis não recorrentes observados no terceiro trimestre de 2024. O relatório de resultados mostrou ainda forte retração nas operações online e o impacto da normalização de efeitos contábeis que haviam inflado o lucro no ano anterior.

O GMV (volume bruto de mercadorias) digital da varejista somou R$ 167 milhões, uma queda de 74,6% em relação ao mesmo período de 2024. Em contrapartida, o GMV físico ficou praticamente estável, em R$ 3,4 bilhões. No consolidado, o volume bruto de vendas (GMV total) caiu 11,6%, para R$ 3,7 bilhões.

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Soares não vê no resultado um desempenho mais fraco do digital, mas, sim, o reflexo da transformação da companhia no segmento. O executivo recorda que, de 2021 até 2025, a Americanas operava com o físico, o digital e a Ame (carteira digital) apartados, mas isso mudou. Neste sentido, a companhia se desfez de parte da Ame e optou pela integração do canal físico com o digital.

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“Essa é a fase em que a gente reconstrói o nosso digital a partir da loja. O que era a operação antiga, com o 1P (estoque próprio) e o 3P (marketplace), não existe mais. O que existe é uma operação nova que parte da loja e conversa com o consumidor de loja”, diz Soares, enfatizando que a companhia vive uma nova dinâmica de integração.

Já sobre o GMV físico, por conta da otimização do chamado “parque de lojas”, o olhar da companhia se voltou para a métrica de Same Store Sales (vendas de mesmas lojas, em tradução livre).

“O nosso Same Store Sales no acumulado do ano é de 10% e neste trimestre é de 6,5%. Então, temos, sim, um crescimento de mesmas lojas bastante importante e em um trimestre em que o varejo tem considerado como desafiador”.

O que esperar da Americanas?

Do lado estratégico, o CEO Fernando Soares enfatizou o foco da Americanas em integrar o digital ao físico, movimento já adotado por outros nomes do setor, para o qual a varejista caminha só agora.

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Somado a isso, a companhia aposta no programa de fidelidade Cliente A. O desenvolvimento do programa visa fortalecer o relacionamento com o cliente e impulsionar a rentabilidade, por meio do acúmulo de pontos que se convertem em benefícios.

Em um cenário de “equilibrar pratinhos” vivido pelo varejo quando se trata do físico e do digital, o CEO enfatiza que a Americanas tem o foco no cliente traçado.

“A loja física é o centro da estratégia e o consumidor é onde vamos colocar todos os nossos recursos e esforços. Esses dois elementos, somados ao nosso time, fizeram a história de 96 anos [da Americanas]. Nós entendemos que vão ser os mesmos elementos que vão levar a gente para os próximos 100 anos”, disse ao Money Times.

O principal fator que muda agora, segundo Soares, é o posicionamento. A companhia, após se encontrar em frangalhos devido ao rombo contábil, direciona os esforços para a transformação de uma mera experiência de compra para uma jornada que aproveite o fluxo de quase 50 milhões de pessoas que frequentam as lojas, por meio do novo programa de fidelidade e a reorganização das lojas.

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O CEO conta que a companhia está no processo de otimização de parque de lojas, com análise sobre os atuais pontos e shoppings e avaliação de possíveis fechamentos e aberturas de pontos.

Selic em 15%

Com a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano e a perspectiva de um longo ciclo de queda — isso quando começar —, Fernando Soares afirma que a Americanas está olhando para dentro da empresa, de maneira a entender como pode apoiar o consumidor em meio ao cenário de volatilidade.

“Desde a inteligência promocional, até o cartão de crédito, passando pelo programa de fidelidade que tem descontos inteligentes para o perfil de compra, essa é a maneira que a gente responde”.

A companhia, segundo Soares, está focada no que pode controlar para navegar no cenário econômico — este fora do seu controle.

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O executivo destaca as expectativas da varejista para 2026, com datas que abrem oportunidades, como a Copa do Mundo.

Fim da RJ no horizonte

Ao Money Times, a CFO da Americanas, Camille Faria, destacou que o plano de recuperação judicial prevê a realização de processos competitivos de venda para a Uni.co e o Hortifruti Natural da Terra (HNT).

Sobre a Uni.co, recentemente a Americanas aceitou a proposta da BandUP!, dona de marcas como Imaginarium e Puket. O acordo prevê um valor base de R$ 152,9 milhões, que considera a empresa avaliada em R$ 180 milhões.

A companhia também anunciou ao mercado que o processo para venda da HNT está em andamento, mas há confidencialidade sobre os detalhes. A CFO abriu ao Money Times que a operação está em estágio avançado, com expectativa para uma decisão até o final deste ano.

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“Concluindo esses processos, a nossa intenção é pedir para o juiz avaliar a suspensão da supervisão judicial no fim de fevereiro [de 2026]. Não vemos razão para não acontecer, dado que o nosso plano [de recuperação judicial] foi executado bastante no início”, disse a CFO em entrevista.

Sobre uma eventual busca por “limpar a imagem” da Americanas após o escândalo contábil, Fernando Soares afirma que não se trata disso.

“A resposta é seguir construindo e usando um negócio que a gente tem de muito valor, que é a conexão emocional com o consumidor”, disse.

O executivo afirma que limpar a imagem nunca esteve em pauta porque, de acordo com pesquisas internas, 94% dos consumidores não deixaram a empresa devido ao caso.

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“A intenção é mostrar mudança de sortimento para uma Americanas que remete a um cuidado com você [cliente], com a sua família e com a sua casa. Eu acho que é uma construção natural de marca. A marca faz esses movimentos. Ela fica mais varejista, depois ela fica mais emocional”, afirma Soares.

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Repórter
Formada em jornalismo pela Universidade Nove de Julho. Ingressou no Money Times em 2022 e cobre empresas, com foco em varejo e setor aéreo.
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