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Chama o Max: Novos tempos, novas perspectivas

18 set 2020, 11:09 - atualizado em 18 set 2020, 11:09
“Não importa se a empresa está cara ou não”, diz o colunista

Apesar de estar sendo um ano complicado em inúmeros sentidos, em que a falta de visibilidade vem assumindo o protagonismo nas economias e nos mercados, há um ponto que eu não tenho como negar: paradigmas estão sendo quebrados em 2020.

Quem era consolidador, virou alvo de aquisição. Quem era historicamente bullish, virou um urso em pessoa, e vice-versa. Quem era value investor, hoje compra sem medo uma “growth stock” (ação de crescimento). Quem sempre foi vocal em nunca entrar em IPOs, hoje não quer perder oportunidades na oferta inicial.

A cada dia é uma surpresa. Uma notícia diferente, um acontecimento novo nos mercados. Isso faz a gente refletir: será que a pandemia está mexendo com a cabeça do investidor? A abundância de dinheiro no mundo e as taxas de juros em níveis mínimos em várias economias estão contribuindo para uma busca ferrenha por novas formas de aplicar seu dinheiro e obter retornos mais atrativos?

Nos dias de hoje, deixar dinheiro em caixa é perder dinheiro. Por isso, estamos vendo uma corrida por aquisições, desenvolvimento de novas tecnologias, produtos e serviços e investidores cada vez mais demandando empresas de grande crescimento de receita para investir, não importando se o lucro delas ainda é tímido.

Nesse âmbito, o assunto da semana foi o IPO da empresa norte-americana Snowflake, considerado a maior oferta do ano na Bolsa americana, levantando US$ 3,4 bilhões.

Essa oferta de ações está cheia de peculiaridades.

A ação foi precificada a US$ 120. Você sabe qual foi a cotação de fechamento no dia do IPO? US$ 253. Sim, isso mesmo. O valor de mercado da companhia mais que dobrou no primeiro dia de negociação, ficando acima de US$ 64 bilhões, sendo um dos unicórnios mais valorizados do mundo.

A startup de armazenamento de dados em nuvem fez US$ 264 milhões de receita no ano passado, crescendo a passos largos, mas ainda registrou um prejuízo gigantesco de US$ 348 milhões. Tudo que fatura ainda vai para o ralo, como acontecia com a Amazon nos primórdios.

Assim, ela se tornou a ação mais cara da Bolsa americana com um múltiplo preço/receita de mais de 60 vezes.

Agora pasmem. Sabe quem foi um dos investidores que estava empolgadíssimo com a empresa, tendo ancorado a oferta e já se comprometido a comprar mais 4 milhões de ações em uma transação secundária? Simplesmente o maior investidor de todos os tempos: Warren Buffett.

Mas calma. Só um minuto de reflexão. Uma startup que entrega centenas de milhões de dólares em prejuízo com um dos valuations mais caros do mundo e o Buffett todo animadinho para investir nela?

“Do alto de seus 90 anos, Buffett está mudando a sua visão de investimento, mostrando que nunca é tarde para mudar para melhor”, afirma Max Bohm (Imagem: Reuters/Scott Morgan)

De fato, o mundo está mudando.

Será que é o fim do value investing? E aquele papo de somente comprar ações que valem muito menos do que o seu valor intrínseco?

A verdade é que Buffett gosta é de ganhar dinheiro (com a alta desta semana, seu conglomerado Berkshire Hathaway já lucrou US$ 1 bilhão com a Snowflake).

Não importa se a empresa está cara ou não. Se é value ou growth investing. Se ele está enxergando retornos atrativos de longo prazo no negócio, Buffett vai investir.

Nesse sentido, estamos vendo recentemente vários casos de empresas que são caras e que ficam ainda mais caras, pois continuam entregando bons resultados, surpreendendo o mercado. Magazine Luiza (MGLU3) é o caso que vem primeiro à cabeça, mas não é a única. Diversas empresas possuem esse perfil, estão crescendo a taxas expressivas e, mesmo com valuation esticado, têm atraído vários investidores.

Não podemos fechar os olhos para este novo momento que estamos vivendo no mercado. Talvez seja a hora de nos rendermos aos novos negócios e pagarmos mais caro por eles.

Veja. Do alto de seus 90 anos, Buffett está mudando a sua visão de investimento, mostrando que nunca é tarde para mudar para melhor. Anos atrás, ele não injetaria capital em uma empresa cara e com prejuízo, mas está quebrando barreiras, sem preconceitos.

O maior investidor de todos os tempos hoje possui uma carteira mais diversificada aliando empresas tradicionais com valuation atrativo a companhias de expansão acelerada e que podem trilhar o caminho de uma Amazon, uma Apple, uma Netflix.

Se ele está fazendo desta maneira, quem sou eu para discordar?

Brincadeiras à parte, acredito que esta combinação de valor e crescimento dentro de um portfólio bem balanceado e diversificado seja atualmente sinônimo de sucesso.

Se você investe somente na Bolsa brasileira, que tal comprar algumas ações de setores que estão fora do radar neste momento e atrasados em termos de performance como bancos e shopping centers junto a investimentos em ações de tecnologia e de negócios disruptivos com alto crescimento?

Opções não faltam. Essa mescla pode gerar bons retornos para você nos próximos meses.

Lembre-se sempre: não tenha rigidez de pensamento e de filosofia; sem preconceitos. Cabeça aberta para seus investimentos.

Um grande abraço!

Equity Research, CNPI, CGA
Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
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Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
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