Chile estuda limitar pagamento de dividendos durante pandemia
O governo do Chile estuda planos para limitar o pagamento de dividendos depois que uma das maiores varejistas do país causou indignação ao aparentemente priorizar acionistas em detrimento dos trabalhadores.
Parlamentares da oposição e do governo criticaram a Cencosud, controlada pelo bilionário Horst Paulmann, que anunciou o pagamento de 80% dos lucros de 2019 como dividendos, mesmo depois de algumas unidades da varejista terem dispensado trabalhadores temporariamente e pedido ajuda do governo para pagar salários.
“Não entendemos por que uma empresa usaria esse instrumento e, ao mesmo tempo, distribuiria dividendos acima do mínimo legal”, disse o ministro da Fazenda, Ignacio Briones, em entrevista à EmolTV na segunda-feira. “São sinais contraditórios que os chilenos e o governo acham difícil de entender.”
A questão é particularmente sensível em um país que foi sacudido por meses de manifestações contra o governo no fim do ano passado.
Manifestantes se queixavam de injustiça social e só pararam quando as medidas de quarentena proibiram aglomerações.
A ministra do Trabalho, María José Zaldivar, disse aos congressistas que o governo pedirá ao órgão regulador que avalie a situação.
Como parte do plano para combater os efeitos econômicos do confinamento, o governo chileno concordou em pagar parte dos salários dos trabalhadores dispensados pelas empresas, desde que estas continuem pagando impostos da previdência social e seguro de saúde.
O governo agora pode alterar o sistema impondo limites ao pagamento de dividendos por empresas que ingressam no programa.
As regras corporativas chilenas obrigam empresas a distribuir no mínimo 30% dos lucros como dividendos, como forma de proteger acionistas minoritários.
A suspensão de todos os dividendos exigiria o apoio de 100% dos acionistas. A Cencosud teve lucro de 114 bilhões de pesos (US$ 163 milhões) em 2019.
Cerca de 7.700 trabalhadores das unidades da Cencosud concordaram voluntariamente em participar do programa de proteção ao emprego do governo e nenhum funcionário direto da Cencosud ou da Cencosud Shopping decidiu participar, disse o diretor-presidente da empresa, Matias Videla, em comunicado na segunda-feira.