Coluna Robert Lawrence Kuhn

China: O que aconteceu com o gigante asiático em 2023

18 dez 2023, 11:29 - atualizado em 18 dez 2023, 11:29
china retrospectiva 2023
Ao longo de 2023, não houve injeção massiva de estímulos na atividade na China, como aconteceu na crise financeira de 2008.(Imagem: REUTERS/Florence Lo)

Nesta retrospectiva sobre a China em 2023, irei me concentrar na forma como o país asiático lidou com sua complexa economia, buscando dinamizar a atividade no curto prazo, de forma a beneficiar, sem sacrificar, o crescimento econômico a longo prazo.

Os desafios não eram pequenos: uma economia em desaceleração, limitada pela retomada pós-covid; contração da manufatura e queda nos preços; baixo confiança do consumidor e, portanto, baixa consumo e gastos; setor imobiliário com problemas – sendo que a atividade representa cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) chinês, o principal ativo do setor financeiro e uma importante fonte de receitas para os governos locais.

Aliás, a dívida dos governos locais foi estimada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em mais de US$ 9,3 trilhões, montante que representa cerca de metade do PIB da China. Ao mesmo tempo, os investimentos em ativos fixos tornaram-se menos produtivos e os aportes diretos de empresas estrangeiras afundaram.

O desemprego entre jovens atingiu níveis recordes – mesmo antes que os relatórios com os dados fossem interrompidos – enquanto a população está envelhecendo e diminuindo. Para completar a lista, a demanda externa cai e as tensões internacionais aumentam.

Retrospectiva 2023: O que a China fez?

Diante de tudo isso, é importante lembrar o que o governo chinês fez para enfrentar esses desafios. Porém, antes de tudo, a primeira coisa a dizer é o que o governo chinês não fez.

Para começar, não houve injeção massiva de estímulos na atividade, como aconteceu na crise financeira de 2008. Isso porque a liderança chinesa sabe que os benefícios de curto prazo não valem o custo do endividamento a longo prazo.

Além disso, o presidente Xi Jinping enfatiza a importância do desenvolvimento de alta qualidade, que não pode ser alcançado com dinheiro rápido. Portanto, a ausência de estímulos massivos foi um bom sinal – inclusive para a produtividade.

Assim, o que o governo chinês fez foi elaborar diversas políticas de ajustes direcionados. Entre elas:

  • redução das taxas de juros;
  • ajuda às empresas do setor privado para acessar financiamento mais barato;
  • ajuda aos consumidores na compra de bens de consumo duráveis, como eletrodomésticos e móveis;
  • subsídio para a aquisição de carro novo, especialmente de veículos elétricos;
  • flexibilização das restrições para comprar imóveis;
  • renovação urbana;
  • redução do imposto de selo sobre negociações de ações.

E a lista continua. Uma abordagem inovadora foi a decisão de tornar os governos locais em ventures capital, assumindo os riscos de negócios via participações minoritárias em empresas privadas. O sucesso dessa empreitada proporciona empregos locais.

Insight chinês

O resultado final é que não existe uma política perfeita, nem uma solução mágica. Muitas medidas específicas e ajustes direcionados são experimentados, testados e monitorados. Quando necessário, há uma correção de curso, buscando sempre otimizar e melhorar, reconhecendo que as condições estão sempre mudando.

Mas as correções de curso não significam mudança de curso. Esse tem sido um princípio da China desde o início da Reforma e Abertura, que completou 45 anos em 2023. A longevidade desse processo mostra que é isso que a China faz muito bem.

Renomado especialista em China, estrategista corporativo internacional e banqueiro de investimentos que assessora corporações multinacionais sobre estratégias e negócios na China. Foi premiado com a “Medalha da Amizade da Reforma da China” do Presidente Xi Jinping, sendo um dos apenas dez estrangeiros homenageados por suas contribuições ao longo de 40 anos da Chin. Autor do livro “Como os Líderes Chineses Pensam”, publicado no Brasil pela Autonomia Literária.
Renomado especialista em China, estrategista corporativo internacional e banqueiro de investimentos que assessora corporações multinacionais sobre estratégias e negócios na China. Foi premiado com a “Medalha da Amizade da Reforma da China” do Presidente Xi Jinping, sendo um dos apenas dez estrangeiros homenageados por suas contribuições ao longo de 40 anos da Chin. Autor do livro “Como os Líderes Chineses Pensam”, publicado no Brasil pela Autonomia Literária.
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