Mercados

China tem um problema de capital estrangeiro (e o Brasil pode se dar bem com isso)

14 nov 2023, 14:28 - atualizado em 14 nov 2023, 16:15
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China vê evasão falta de apetite de estrangeiro após a guerra da Ucrânia (Imagem: REUTERS/Chaiwat Subprasom)

2023 está se provando um ano cheio de desafios para a economia da China. O sonhado boom econômico advindo do relaxamento das restrições pós-covid-19 não apenas não se realizou, como agora o país se vê numa posição oposta: lutando contra tendências deflacionárias para cumprir a meta de crescimento de 5% colocada pelo governo.

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Mas além do consumo doméstico fraco, aumento da poupança e empresas endividadas no setor imobiliário, o gigante asiático lida com a falta de apetite de estrangeiros em investir no país.

Desde o primeiro trimestre de 2022, quando atingiu um recorde de US$ 101 bilhões investidos, os passivos de investimento estrangeiro direto, que constam na balança de pagamentos do país, estão em uma descendente.

Entre julho e setembro de 2023, essa trajetória chegou ao seu ponto mais baixo, com a saída de US$ 11,8 bilhões do país. Trata-se da primeira vez que a segunda maior economia do mundo anota uma evasão de capital estrangeiro desde 1998.

Embora as empresas estrangeiras correspondam a menos de 3% do total de companhias ativas na China, elas correspondem a 16% da receita tributária do país e empregam até 10% de toda a população urbana. Os dados são da mídia estatal chinesa.

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O declínio do investimento estrangeiro desde março de 2022 transparece uma correlação difícil de ser ignorada com a invasão russa à Ucrânia. 

Segundo analistas do mercado, a proximidade da China com Vladimir Putin fez com que empresas ocidentais nos Estados Unidos e na Europa começassem um processo de separação das suas atividades com relação ao mercado chinês (de-risking).

Essa tendência foi objeto da fala de Christopher Garman, diretor das Américas para a Eurasia Group, ao Money Times. Em fevereiro deste ano, o especialista havia pincelado a ideia que mais empresas deverão buscar regionalizar suas cadeias de produção, mesmo que paguem mais por isso.

Também para a BlackRock, a volta da “geopolítica” é a nova realidade dos negócios no mundo.

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A preocupação desses clientes institucionais é que suas operações sofram com o fogo-cruzado de restrições e sanções econômicas impostas no contexto de crescente hostilidade entre as duas principais economias do mundo.

Ante a pressão de fuga estrangeira, quem se machuca é o reinmibi onshore da China (CNY). A moeda da China continental tem sido negociada consistentemente próxima nos menores níveis desde 2007.

Perda de atratividade da China é brecha para outros mercados emergentes

Devido algumas similaridades estruturais entre o mercado chinês e pares emergentes, especialistas veem uma “opção natural” de investidores estrangeiros por países como Brasil, Colômbia e México.

Em 2022, o Brasil reteve 41% de todo o investimento estrangeiro direcionado à América Latina, tendo terminado o ano com um aporte de US$ 90,5 bilhões – praticamente o dobro do que havia sido colocado em 2021. Para este ano, a estimativa inicial do Banco Central é que o país receba cerca de US$ 88 bilhões.

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Mas apesar da posição privilegiada do Brasil diante desse movimento geopolítico, Anya Prusa, do Albright Stonebridge Group, salienta que a defesa de uma agenda fiscal responsável é igualmente necessária para captar o fluxo.

Além do Brasil, um outro mercado emergente vem se posicionando com ainda mais favoritismo para colher o “espólio” de investimentos estrangeiros que saíram da China nos últimos 18 meses. Trata-se do México.

A proximidade geográfica do país com os Estados Unidos, bem como a vigência do acordo de tarifas preferenciais USMCA, tem tornado o México uma sede de multinacionais (nearshoring) que desejam ter acesso fácil ao mercado estadunidense.

Segundo estudo da distrital de Dallas do Federal Reserve, os departamentos mais procurados para o investimento estrangeiro estão na porção norte do México; o ramo mais beneficiado, é o automotivo.

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A instituição também salienta que o país já superou a China enquanto maior fornecedor de bens para os Estados Unidos.

De toda forma, o avanço do peso mexicano ante o dólar em 2023 dá reflexos dessa reorientação do fluxo estrangeiro no comércio global. Nos 11 meses até aqui, o “super peso” avançou cerca de 12%, enquanto o real avançou 8,6%.

México China Fed Estados Unidos

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Economia complexa, mensagens conflitantes

Embora a visão do mundo ocidental sobre a China esteja de alguma forma mudando, isso não significa que o país deixará de ser um centro atrativo de capital estrangeiro.

Para Zhou Xin, que é colunista e editor do South China Morning Post, o tamanho da segunda economia do mundo torna possível diferentes interpretações sobre a relação da China com o mundo.

“Quem quiser argumentar que as multinacionais estão deixando a China encontrarão dados sólidos para isso, mas também não é difícil encontrar evidências de que a China permanece sendo um destino-chave de investimento estrangeiro”, escreve.

Xin exemplifica a permanência da força da China para com investimentos estrangeiros através da assinatura de um memorando de entendimento da Moderna, farmacêutica multibilionária dos Estados Unidos, om o governo local de Shangai há quatro meses.

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A empresa pretende instalar um centro de pesquisa e desenvolvimento na cidade, visando a produção de medicamentos à base de mRNA.

Outro exemplo do apelo chinês para investidores estrangeiros foi a presença da Micron Technology na Feira Internacional de Importações do país, mesmo após o regulador chinês ter vetado a empresa de semicondutores a vender seus produtos a operadores estratégicos para a segurança nacional.

Para Robin Brooks, economista-chefe do Instituto Internacional Financeiro (IIF), a China possui muitos desafios, “mas o de-risking das empresas ocidentais não está acontecendo na velocidade que alguns pensam que está”, diz o economista.

Brooks salienta que a China ainda produz muitos dos bens que os Estados Unidos consome e “mesmo que estejamos observado uma reacomodação do comércio global, não há uma mudança na relação de quem produz versus quem consome”.

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Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
jorge.fofano@moneytimes.com.br
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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