Chinesa ByteDance vende TikTok nos Estados Unidos para Oracle e investidores
A ByteDance, proprietária chinesa do TikTok, assinou nesta quinta-feira (18) acordos vinculantes para transferir o controle das operações do aplicativo de vídeos curtos nos Estados Unidos a um grupo de investidores, incluindo a Oracle, em um grande passo para evitar um banimento no país e encerrar anos de incertezas.
O acordo representa um marco para o aplicativo, usado regularmente por mais de 170 milhões de americanos, após anos de disputas iniciadas em agosto de 2020, quando o então presidente Donald Trump tentou, sem sucesso, banir o app por preocupações com a segurança nacional dos EUA.
Os termos financeiros do acordo, anunciados em um memorando interno do TikTok (EUA) visto pela Reuters, não foram divulgados.
Outros detalhes do acordo estão alinhados aos apresentados em setembro, quando Trump adiou até 20 de janeiro a aplicação da lei que proíbe o aplicativo caso seus proprietários chineses não o vendam, em meio aos esforços para separar os ativos do TikTok nos EUA da plataforma global. Ele também declarou que o acordo atendia aos requisitos de desinvestimento previstos em uma lei de 2024.
A nova empresa americana será avaliada em cerca de US$ 14 bilhões, afirmou o vice-presidente JD Vance em setembro. O valor ficou abaixo das estimativas de analistas e o número final não foi tornado público nesta quinta-feira.
Pelo acordo, investidores americanos e globais, incluindo a gigante de computação em nuvem Oracle, o grupo de private equity Silver Lake e a MGX, sediada em Abu Dhabi, deterão 80,1% da nova TikTok USDS Joint Venture LLC, enquanto a ByteDance ficará com 19,9%.
Dúvidas sobre o papel contínuo da China
A Casa Branca afirmou em setembro que a nova joint venture operará o aplicativo do TikTok nos EUA, mas permanecem dúvidas sobre o acordo, incluindo as relações comerciais entre a nova empresa e a ByteDance.
O CEO do TikTok, Shou Zi Chew, disse aos funcionários que a joint venture “operará como uma entidade independente, com autoridade sobre a proteção de dados nos EUA, segurança do algoritmo, moderação de conteúdo e garantia de software”, segundo o memorando visto pela Reuters.
Chew acrescentou que as entidades americanas do TikTok controladas pela ByteDance “gerenciarão separadamente a interoperabilidade global do produto e determinadas atividades comerciais, incluindo comércio eletrônico, publicidade e marketing”.
Rush Doshi, que atuou no Conselho de Segurança Nacional durante o governo do presidente Joe Biden, afirmou que não está claro se o algoritmo foi transferido, licenciado ou se continua sendo de propriedade e controle de Pequim, com a Oracle apenas fornecendo “monitoramento”.
Em setembro, a Reuters informou, citando fontes, que a ByteDance manteria a propriedade das operações comerciais do TikTok nos EUA, mas cederia o controle dos dados, do conteúdo e do algoritmo do aplicativo à joint venture.
Segundo as fontes, a joint venture serviria como operação de bastidores da empresa americana, lidando com os dados dos usuários dos EUA e com o algoritmo. Uma divisão separada, que continuaria sendo integralmente controlada pela ByteDance, ficaria responsável pelas operações comerciais geradoras de receita, como comércio eletrônico e publicidade.
Esses arranjos formaram o desenho do acordo anunciado nesta quinta-feira, disseram à Reuters duas fontes com conhecimento do assunto na sexta-feira.
A entidade do TikTok nos EUA controlada pela ByteDance seria a responsável pela geração de receitas, enquanto a nova joint venture receberia uma parte da receita por seus serviços de tecnologia e dados, afirmaram as fontes.
As fontes pediram anonimato devido à sensibilidade do tema. A Casa Branca, a ByteDance e o TikTok US não responderam imediatamente aos pedidos de comentário da Reuters sobre os detalhes do acordo.
O jornal estatal China Daily informou nesta sexta-feira (19) sobre o acordo de divisão de receitas entre as duas entidades.
O acordo, com conclusão prevista para 22 de janeiro, encerraria anos de esforços para forçar a ByteDance a se desfazer de seu negócio nos EUA por preocupações com a segurança nacional.
O deputado John Moolenaar, republicano que preside o Comitê Seleto da Câmara sobre a China, disse anteriormente que pretende receber a liderança da nova entidade do TikTok em uma audiência em 2026.
O acordo sobre as operações do TikTok nos EUA inclui a nomeação, pela ByteDance, de um dos sete membros do conselho da nova entidade, com americanos ocupando a maioria dos demais assentos.
A Oracle atuará como “parceira de segurança confiável”, responsável por auditar e validar a conformidade, incluindo a “proteção de dados sensíveis de usuários dos EUA, que serão armazenados em um ambiente de nuvem confiável e seguro nos Estados Unidos operado pela Oracle”, afirmou o TikTok no memorando aos funcionários.
“Tomada bilionária”
Trump creditou ao TikTok parte de sua vitória na reeleição no ano passado e tem mais de 15 milhões de seguidores em sua conta pessoal na plataforma. A Casa Branca também lançou uma conta oficial no TikTok em agosto.
A senadora democrata Elizabeth Warren disse que há muitas perguntas sem resposta sobre o acordo.
“Trump quer entregar ainda mais controle do que você assiste a seus amigos bilionários. Os americanos merecem saber se o presidente fechou mais um acordo nos bastidores para essa tomada bilionária do TikTok”, afirmou ela em rede social.
Trump mantém uma relação próxima com o bilionário e CEO da Oracle, Larry Ellison, e sua família. A Paramount Skydance tenta adquirir a Warner Bros Discovery em uma oferta hostil, com apoio financeiro da família Ellison.
Trump disse em setembro que Michael Dell, fundador, presidente e CEO da Dell Technologies, Rupert Murdoch, presidente emérito da Fox Corp (controladora da Fox News) e da News Corp, além de “provavelmente quatro ou cinco investidores absolutamente de classe mundial”, fariam parte do acordo. Não ficou claro se Dell e Murdoch participaram do acordo final.