Selic encerrará o ciclo em 14,75%? Ata reafirma cenário de incerteza e analistas fazem suas apostas sobre futuro dos juros

A taxa básica de juros (Selic) foi elevada em 0,50 ponto percentual (p.p.), para 14,75% ao ano, na reunião do Copom da semana passada. Com isso, o mercado estima que esse ciclo de alta tenha acabado e, para a reunião de junho, a autoridade monetária deve manter esse mesmo patamar.
Na ata da última reunião do Comitê, divulgada nesta terça-feira (13), o Comitê de Política Monetária (Copom) afirmou que as incertezas em torno da política econômica nos Estados Unidos e a guerra tarifária contra a China têm impacto sobre expectativas e inflação, onde o ambiente externo “mostra-se adverso e particularmente incerto”.
Para os diretores, o cenário continua exigindo cautela por parte de países emergentes em ambiente de maior tensão geopolítica. Contudo, o ambiente externo está conturbado “em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente pela incerteza acerca de sua política comercial e de seus efeitos”.
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O que esperar das próximas reuniões do Copom?
Para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, a autoridade não deverá elevar o juro novamente na próxima reunião, interrompendo o ciclo de alta da Selic em 14,75%.
Para ele, o Comitê continuou demonstrando insatisfação com a inflação, sua dinâmica e perspectivas, mas sugeriu que os canais de transmissão da política monetária impactarão os preços em breve.
“Essa conclusão pode ser extraída da linha lógica traçada pelo BC ao descrever que a atividade já mostra sinais de moderação, o crédito atingiu um ponto de ‘inflexão’ e até mesmo o mercado de trabalho deverá apresentar arrefecimento”, pondera.
Já na análise de Caio Megale, economista-chefe da XP, o conteúdo da ata foi neutro em relação ao comunicado. Isso porque, o Comitê reiterou a necessidade de “cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade”, em linha com o esperado de que o ciclo de aperto monetário está encerrado ou muito próximo do fim.
Para ele, o Copom apresentou elementos que indicam que a política monetária restritiva “já tem contribuído e seguirá contribuindo para a moderação de crescimento”. Tal constatação sustentaria a decisão de fazer uma pausa, adotando uma postura de aguardar e observar.
No entanto, ao mesmo tempo, a ata destacou que “os vetores inflacionários seguem adversos”, e nesse contexto, um ajuste adicional na reunião de junho pode ser adequado, dependendo das informações que vierem a público até lá, segundo o economista.
“As projeções de inflação do Comitê permanecem acima da meta nos horizontes relevantes, conforme já havia sido indicado no comunicado pós-reunião. A ata, no entanto, trouxe um detalhamento maior sobre o balanço de riscos”, destaca.
Dessa forma, fica evidente à XP que os membros consideram esse balanço “menos assimétrico” do que anteriormente, embora não haja consenso sobre sua neutralidade. “Em nossa visão, qualquer risco assimétrico em um cenário cuja projeção já está acima da meta mantém aberta a possibilidade de um aumento adicional da taxa de juros“, completa.
“Em suma, mantemos a avaliação de que o plano atual do Comitê parece ser manter a taxa Selic inalterada nas próximas reuniões, ainda que sem um compromisso firme nesse sentido”, diz. “A flexibilidade continua sendo essencial”.
Megale ainda pontua que acredita que as pressões inflacionárias domésticas — incluindo medidas fiscais recentes de estímulo ao crescimento e expectativas de inflação desancoradas — acabarão por convencer o Copom a realizar um último aumento de 0,25 p.p. em sua próxima reunião.
Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg, aponta dois trechos que merecem destaque. O primeiro, refere-se à discussão sobre o balanço de riscos, visto que o Comitê avaliou que o aumento da incerteza elevou tanto os riscos de alta quanto de baixa para a inflação.
No documento é afirmado que foi debatido se esse balanço permanecia levemente assimétrico, porém, menos do que na reunião anterior, ou se já poderia ser classificado como neutro.
“Embora o Banco Central não tenha declarado explicitamente que enxerga o balanço de riscos como simétrico, a inclusão de três riscos de alta e três de baixa no último encontro sugere um maior equilíbrio entre esses fatores”, diz.
Já o segundo destaque diz respeito à análise dos vetores inflacionários, que continuam adversos. Para Serrano, entre os principais desafios, encontra-se a resiliência da atividade econômica, as pressões no mercado de trabalho, as expectativas de inflação desancoradas e as projeções de inflação persistentemente elevadas.
“Esse cenário reforça a necessidade de uma política monetária significativamente contracionista por um período prolongado, garantindo a convergência da inflação à meta”, pondera.
Contudo, Serrano pontua que a ata reafirma a mensagem já transmitida no comunicado anterior: “para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.
Dessa forma, a casa mantém a perspectiva de que a taxa Selic permanecerá no atual patamar de 14,75% ano a ano na reunião de junho. “Acreditamos que os juros seguirão nesse nível por um período prolongado, com possibilidade de cortes no final de 2025 ou início de 2026, caso o cenário evolua conforme nossas projeções”, completa.
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