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Cogna (CONG3), Yduqs (YDUQ3) e mais: Censo do INEP acende alerta para educacionais da Bolsa

24 set 2025, 17:31 - atualizado em 24 set 2025, 17:31
educação
(Imagem: Wokandapix/Pixabay)

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) divulgou nessa terça-feira (23) o resultado do Censo Superior de 2024, com estatísticas sobre o ensino superior. E os números acenderam alguns alertas para analistas do setor que acompanham companhias como a Cogna (COGN3), Yduqs (YDUQ3) e outras. 

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Entre os destaques do documento está a desaceleração do crescimento da base de estudantes no ensino superior privado. O número total, de 8,2 milhões, cresceu apenas 3,2% em 2024, contra 7,3% em 2023 e 6,6% em 2022. 

“Nossa leitura preliminar é que o censo aponta para uma clara desaceleração no crescimento do setor”, fala o time de analistas do BTG Pactual, encabeçado por Samuel Alves. “Mantemos uma postura cautelosa em relação ao setor de educação no Brasil”.

Além disso, a evasão de alunos também aumentou, chegando a 17,5% — contra 16% em 2023 e 15,8% em 2022.  

Macroeconomia e barreiras ao EaD pesam para educacionais

Para o BTG, a desaceleração do crescimento e o aumento da evasão estão diretamente ligados ao atual nível de juros do país, que deve continuar pressionando a captação nos próximos ciclos. 

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Victor Bueno, analista da Nord Investimentos, vai na mesma linha. “O principal motivo é o cenário macroeconômico desafiador. Inflação e juros elevados corroem a renda das famílias e muitos alunos, então, preferem adiar ou interromper seus estudos”, diz.

Além disso, tanto os especialistas do BTG Pactual quanto o da Nord mencionam que a educação à distância, ou EAD, pode estar dando sinais de ter atingido o seu pico — com o agravamento, ainda, de que o marco da educação acrescenta incertezas regulatórias a esse modelo de negócio. 

“O ensino à distância ganhou espaço por ser mais barato e conveniente, com alta de 300% em dez anos. Hoje, já temos mais estudantes matriculados em cursos EAD do que presenciais”, fala Bueno. “Por outro lado, começamos a ver sinais de que esse crescimento acelerado do EAD pode ter atingido um pico. O Ministério da Educação vem endurecendo regras, especialmente em cursos que exigem atividades práticas ou laboratórios”, completa.

Recentemente, segundo Bueno, a percepção do agente regulatório é de que o avanço rápido do EAD poderia comprometer  a qualidade do ensino e a formação dos profissionais, incentivando a proliferação de cursos sem a estrutura adequada. 

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“Em nossa visão, as novas exigências de maior presença física reduzirão, em última instância, o mercado endereçável do setor de EAD”, corrobora o time do BTG Pactual.

Cogna, Yduqs e outras também sofrerão por questão demográfica

Além da questão macroeconômica e regulatória, Gianluca Di Mattina especialista em investimentos da Hike Capital, alerta que os números podem ilustrar a recente mudança demográfica. Recentemente, o número de jovens no Brasil vem diminuindo, conforme as pessoas optam por ter menos filhos.

“A taxa de natalidade brasileira está em queda há anos e o país passou a conviver com uma população jovem cada vez menor. Isso reduz naturalmente a base de alunos na idade escolar”, fala Di Mattina. 

A desaceleração, para Bueno, não é novidade. Segundo ele, a tendência já vem aparecendo nos últimos anos, tendo se agravado no pós-pandemia. “No momento, preferimos a cautela. Não temos recomendação de compra para nenhuma empresa no setor. O cenário ainda é bastante incerto”, diz. 

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A cautela aumenta pelo fato de os papéis das companhias virem acumulando altas em 2025, esticando os valuations. As ações ordinárias da Cogna subiram mais de 200% e as da Yduqs, mais de 50%. A Ser Educacional (SEER3) avança quase 150%, as da Cruzeiro do Sul (CSED3), quase 65%, e as da Vitru (VTRU3), quase 90%. 

“As ações do setor estavam esquecidas nos últimos anos e agora a gente viu um movimento forte de alta para grande parte desses papéis”, fala Bueno. 

Entre as explicações para as altas, as companhias estão trazendo reflexos de reestruturações realizadas nos últimos anos. Apesar das altas em 2025, todas as grandes companhias de educação da Bolsa ainda acumulam fortes quedas nos últimos cinco anos. 

As empresas do setor, por fim, não estão vendo as mudanças paradas. Para fugir das tendências, como o recuo da base e da alta da evasão, algumas companhias vêm apostando, por exemplo, nos cursos de medicina, que têm tickets maiores, demanda alta e menor evasão. 

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Por fim, apesar das dificuldades, há também quem enxergue que as grandes empresas sairão vitoriosas em um processo de consolidação do setor em meio a um cenário mais difícil. 

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vitor.azevedo@moneytimes.com.br