Com R$ 60 bilhões, resgate do Master é o maior da história do FGC; há risco sistêmico?
O Banco Master entrará para história do sistema financeiro como o maior resgate da história dos 30 anos do FGC (Fundo Garantidor de Crédito).
Segundo dados de março do BC, o banco soma ativos de R$ 87 bilhões e passivos de R$ 83 bilhões.
Ainda de acordo com o sistema IF.data, do BC, o Master tinha aproximadamente R$ 60 bilhões em depósitos elegíveis à cobertura, número distante do socorro do Banco Nacional, que quebrou em 1995, com rombo de R$ 5 a R$ 10 bilhões, que poderia chegar a R$ 25 a R$ 50 bilhões nos valores atuais.
Veja outros bancos que foram resgatados:
O tamanho do buraco Master
Mais cedo, a Polícia Federal (PF) prendeu, na manhã desta terça-feira (18), Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, durante a Operação Compliance Zero, que cumpre cinco mandados de prisão preventiva, dois de prisão temporária e 25 de busca e apreensão no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e no Distrito Federal.
De acordo com informações da Reuters, o empresário foi preso pelos agentes federais quando tentava embarcar para o exterior.
A ação da PF mira um esquema de emissão e negociação de títulos de crédito falsos por instituições financeiras que integram o Sistema Financeiro Nacional. O órgão apura crimes como gestão fraudulenta, gestão temerária e organização criminosa.
Segundo o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, em depoimento na CPI do Crime Organizado, no Senado, a fraude que desencadeou a prisão do banqueiro Daniel Vorcaro pode girar em torno de R$ 12 bilhões.
“Essa operação de hoje a fraude é de R$ 12 bilhões. Não sei quanto que vamos conseguir bloquear. Sei que já em dinheiro apreendemos na residência de um investigado R$ 1,6 milhão em dinheiro nessa operação de hoje”, disse.
Risco sistêmico?
Apesar do tamanho do Master, especialistas que conversaram com o Money Times descartam que a intervenção no banco possa provocar algum efeito no sistema.
Isso porque o Master é considerado um banco menor e sem tanta correspondência bancária.
“O Master não é um banco com relacionamento interbancário significativo. Sim, alguns bancos compram papéis, mas não na magnitude de grandes instituições. Então, o Master não oferece risco sistêmico”, diz Luis Miguel Santacreu, gerente de análise da Austin Rating.
Quem perderia, segundo ele, seriam os depositantes acima de R$ 250 mil e algumas entidades que compraram letras financeiras.
“Mas isso não afeta o sistema bancário. Risco sistêmico seria um Itaú ou Bradesco, que têm milhões de depositantes. O Master tem milhares”.
Outro ponto importante é que o Master captou recursos de forma pulverizada.
“Muitos aplicaram até o limite de R$ 250 mil, protegidos pelo FGC. Então, em caso de liquidação, o grande perdedor seria o FGC”.
O FGC é uma entidade privada que protege investidores, mas não oferece crédito.
No primeiro trimestre, o patrimônio do fundo atingiu R$ 153,5 bilhões, crescimento de 6,1% em relação a dezembro de 2024, quando o valor registrado foi de R$ 132,7 bilhões.
“Claro, se tiver que honrar muitos depósitos, os bancos terão de recompor o fundo, o que pode aumentar custos. Isso pode refletir em juros mais altos, mas não em risco de quebra em cadeia”.
Ou seja, não é um risco sistêmico. Haveria impactos no FGC e, indiretamente, no custo do crédito.
Claudio Gallina, diretor da Fitch, em entrevista ao Money Times em setembro, afirmou que o Master é um banco administrável, de menor relevância.
“Mesmo que tivesse problema, não haveria impacto estrutural em outros bancos. Ele não é sistemicamente importante. Por isso, classificamos como No Support, diferente de bancos como Bradesco (BBDC4) ou Itaú (ITUB4), que têm suporte implícito do governo”, afirma.