Com menos crédito nos bancos, construtoras buscam outras formas de financiar obras

As construtoras estão recorrendo cada vez mais a fontes alternativas aos bancos para financiar seus empreendimentos imobiliários. Entre as principais opções estão o mercado de capitais, por meio da emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), e a captação de crédito com fundos de investimento imobiliário (FIIs).
O financiamento via caderneta de poupança destinado à construção de imóveis no país caiu 54% no primeiro semestre de 2025 em relação ao mesmo período de 2024, somando R$ 9,1 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
Como o volume de lançamentos imobiliários não recuou, as empresas têm buscado novas fontes de recursos. “Houve apenas um redirecionamento para outras estruturas de financiamento”, avaliou o presidente da Abecip, Sandro Gamba, durante o Abecip Summit. “No financiamento à produção, a diversificação do funding já está acontecendo”, completou.
Carlos Martins, sócio da Kinea, lembrou que o mercado de capitais já participava do setor, inicialmente com foco na compra de terrenos. Hoje, a maior parte das operações é voltada diretamente para a construção. Segundo ele, pequenas e médias empresas enfrentam mais dificuldades para acessar crédito bancário.
Essa tendência deve se intensificar, já que a poupança dificilmente voltará a ter o mesmo peso nos financiamentos bancários. “O funding da poupança não vai acabar, mas a participação do mercado de capitais está cada vez maior”, disse Martins, ressaltando que o problema não é falta de liquidez nos bancos, mas sim o patamar elevado das taxas.
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De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o volume financeiro do setor imobiliário no mercado de capitais cresceu 5% entre dezembro de 2024 e junho de 2025, passando de R$ 649 bilhões para R$ 681 bilhões.
Bruno Bianchi, diretor do Itaú BBA, explicou que a queda do crédito bancário no primeiro semestre também foi resultado de antecipações de recursos feitas no fim de 2024, em meio à expectativa de alta nas taxas no início de 2025. “Muitas construtoras adiantaram contratações do Plano Empresário do primeiro trimestre de 2025 para o quarto trimestre de 2024”, disse.
Segundo Bianchi, há muitos empreendimentos lançados que ainda não contrataram financiamento. “As empresas estão cautelosas e esperando ver o rumo das taxas”, afirmou. Para ele, o crédito deve se recuperar no segundo semestre caso haja sinalização de queda nos juros. “Há projetos represados que podem ser contratados. A taxa de juros arrefecendo permitirá ajustes, e devemos ter um volume relevante no semestre. Não será recorde, mas também não veremos nova queda de 50%”, projetou.
Miguel Mickelberg, diretor financeiro e de RI da Cyrela, destacou que os juros dos financiamentos bancários subiram, enquanto o custo de captação no mercado de capitais caiu. “O mercado de capitais, em termos de taxa, passa a fazer muito sentido”, disse. Ainda assim, a empresa prefere o crédito bancário por entender que ele facilita o repasse aos clientes na entrega das chaves. “Abrir mão disso em um momento de escassez de funding não é nossa opção”, afirmou.
Levantamento de mercado
Pesquisa da Brain Inteligência Estratégica, em parceria com a Abrainc, mostrou que as incorporadoras têm encontrado dificuldades para acessar crédito bancário. Para 52% das empresas, contratar financiamento ficou “mais difícil” neste ano, e para 34%, “muito mais difícil”. O levantamento envolveu cerca de 200 companhias de diferentes portes e regiões. “A taxa de juro está impactando muito o dia a dia das empresas”, disse o presidente da Brain, Fábio Tadeu Araújo.
Segundo a pesquisa, 54% das companhias acreditam que o papel de investidores tende a crescer, com maior aporte de sócios ou terceiros; 24% devem recorrer mais ao caixa próprio; e 32%, ao FGTS, via programa Minha Casa Minha Vida (MCMV).
O levantamento ainda mostrou que 54% das empresas veem o mercado de capitais como solução, embora com restrições, enquanto 46% não pretendem acessá-lo por considerarem o custo elevado em relação às fontes tradicionais.
Fernanda Mello, presidente da securitizadora Vert Capital, observou que o acesso ao mercado de capitais exige alto nível de governança. “Não é qualquer empresa que consegue acessar esse bolso”, afirmou.