Como a Embraer (EMBR3) saiu ilesa da ofensiva tarifária de Trump

A Embraer (EMBR3) saiu ilesa na quarta-feira (30) das tarifas comerciais mais elevadas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que isentou as aeronaves do aumento, poupando a fabricante de aviões de impactos que poderiam prejudicar sua receita de forma semelhante como aconteceu durante a pandemia de Covid-19.
A decisão veio após a Embraer e seus parceiros nos EUA intensificarem os esforços para explicar que tarifas altas poderiam causar interrupções nas entregas e afetar negócios locais, além de destacar que os jatos da empresa são essenciais para voos regionais nos Estados Unidos.
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Depois que Trump ameaçou impor tarifas adicionais ao Brasil no começo de julho, companhias aéreas norte-americanas pediram ao governo Trump, nos bastidores, que isentasse as exportações brasileiras do setor de aviação, disseram fontes à Reuters.
As aéreas regionais Envoy Air, Piedmont Airlines e Republic Airways escreveram ao Departamento de Comércio expressando preocupações.
Enquanto isso, o presidente-executivo da Embraer, Francisco Gomes Neto, correu para se reunir com várias autoridades de alto escalão do governo Trump. Entre elas estavam o secretário de Comércio, Howard Lutnick, e o secretário do Tesouro, Scott Bessent, conforme entrevista do executivo ao Valor Econômico.
Os argumentos eram simples: a Embraer emprega milhares de pessoas nos EUA, e as companhias aéreas do maior mercado de aviação do mundo não têm um substituto claro para o jato E175.
O avião é o único jato atualmente em produção que atende à cláusula de escopo nos contratos trabalhistas, que restringe o uso de aeronaves com mais de 86 mil libras e mais de 76 assentos em rotas regionais.
A Embraer tem cerca de 200 entregas pendentes do E175 para companhias aéreas dos EUA, incluindo American, SkyWest, Alaska e Republic. Clientes norte-americanos também são responsáveis pela compra de 70% dos jatos executivos da empresa.
A SkyWest alertou, em teleconferência com analistas na semana passada, que não estava disposta a pagar uma tarifa de 50% sobre novas entregas de aeronaves e que planejava trabalhar com a Embraer e outros parceiros para adiá-las até que a situação fosse resolvida.
A Alaska também afirmou que poderia considerar o adiamento das entregas.
Após o alívio na quarta-feira, analistas classificaram a Embraer como a principal beneficiada pelas isenções de Trump, decisão que fez as ações da empresa subirem mais de 20% em relação às mínimas do dia.
“Diante dessa notícia, esperamos que as ações da Embraer atinjam novas máximas históricas”, afirmou o JP Morgan em nota a clientes.
Laços com os EUA
Gomes Neto disse no início deste mês que o impacto das tarifas sobre a empresa poderia ter sido semelhante ao da crise da Covid-19, quando a Embraer viu sua receita cair 30% e reduziu seu quadro de funcionários em cerca de 20%.
A fabricante de aviões era a maior preocupação do governo brasileiro após a ameaça tarifária de Trump. Uma fonte disse à Reuters que o governo brasileiro solicitou aos EUA que excluíssem as aeronaves da Embraer da tarifa de 50%.
A Embraer tentou convencer o governo Trump de que uma prorrogação também seria benéfica para os EUA. A empresa enfatizou que tem cerca de 3.000 funcionários e linhas de montagem final para jatos executivos no país, seu mercado número 1.
Grande parte das peças que a Embraer utiliza em suas aeronaves vem dos EUA, incluindo motores da General Electric. A empresa estimou que até 2030 poderá comprar US$21 bilhões em produtos norte-americanos.
A American Airlines, uma grande cliente, expressou otimismo na semana passada de que a situação poderia ser resolvida.
“Estamos prontos para ajudar de qualquer forma, e garantimos que o governo e a Embraer saibam do nosso interesse”, disse o presidente-executivo Robert Isom em uma teleconferência com analistas, apontando para a “enorme quantidade” de conteúdo dos EUA nas aeronaves.
Em comunicado, a Embraer comemorou a decisão de Trump, afirmando que a medida confirma o impacto positivo e a importância estratégica de suas atividades para as economias brasileira e norte-americana.
A Embraer permanecerá sujeita à tarifa de 10% imposta inicialmente por Trump sobre produtos brasileiros em abril, que a empresa considerou prejudicial, mas administrável. A empresa prometeu continuar defendendo o retorno à política de tarifa zero.
Ainda assim, a SkyWest observou que as taxas reais sobre o E175 estavam abaixo dos 10% devido aos componentes norte-americanos do jato, estimando-as entre um terço e metade disso.
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