Opinião

Como a OPEP+ gera ineficiência mercadológica?

01 maio 2020, 22:20 - atualizado em 19 maio 2020, 1:26
Petroleo
No começo do mês de março, houve discussões em relação a diminuição da produção de petróleo dos principais países exportadores (Imagem: Pixabay)

Na segunda passada (dia 20/04) os contratos de maio do barril de petróleo da West Texas Intermediate (WTI), petróleo comercializado na bolsa de Nova Iorque, estavam sendo negociados a -US$ 37,63.

Basicamente, os vendedores estavam dando dinheiro para quem quisesse comprar o produto. Um dos motivos desse fenômeno é o custo elevado de mantê-lo estocado criando assim um incentivo para aliviar esse mesmo estoque.

Apesar do preço atípico do barril de petróleo do tipo WTI, o preço do barril do tipo Brent (esse, usado como preço de referência no Brasil) teve uma queda grande mas não nas mesmas proporções que o WTI. Alguns analistas dizem que o preço do barril pode chegar a US$ 10,00 ainda esse mês.

No começo do mês de março, houve discussões em relação a diminuição da produção de petróleo dos principais países exportadores.

Possuindo 13 membros, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP+) é um cartel que abastece quase 40% do mercado mundial de petróleo.  A Rússia, segunda maior exportadora de petróleo do mundo, decidiu não ser conivente com o cartel e não reduziu a quantidade ofertada do ouro negro.

Além de não aceitar esse acordo, o presidente russo Vladimir Putin, como forma de retaliação, ordenou a estatal russa Saudi Aramco aumentar a produção em 50%.

Depois dessa retaliação, a estatal russa decidiu produzir menos do que realmente pode e seguir as recomendações da OPEP+ no que tange a essa inundação de oferta no mercado mundial de petróleo.

Como o cartel possui uma grande fatia do mercado, acordos que objetivam diminuir a produção refletem diretamente no preço mundial do barril.

A lógica que sustenta esse raciocínio é a de que com a diminuição da produção, o preço é definido pelas autoridades do cartel, e não pelo mercado.

Com todo esse cenário de incertezas, agravou-se ainda mais a pandemia que travou praticamente toda a atividade econômica mundial, diminuindo a quantidade demanda da commodity.

Um exemplo já basta para ilustrar o raciocínio: o mercado de querosene. Com as medidas dos vários chefes de estado em fechar suas fronteiras para diminuir o contágio do Covid-19, o mercado de passagens aéreas teve forte retração. O petróleo é a matéria prima para a fabricação de querosene.

Fora os voos internacionais, há também a drástica redução do transportes rotineiros como ir ao trabalho, à escola, à igreja ou até para divertimentos pessoais. Fotos de “cidades fantasmas” tornaram-se constantes nos noticiários eletrônicos e televisivos.

Com essa queda na quantidade demanda em virtude do vírus chinês, somado aos cortes de produção feitos pela OPEP+ e seus aliados, há uma mudança no equilíbrio no mercado que pode ser representada, genericamente, pelo gráfico abaixo:

A oferta mundial de petróleo foi restringida. No gráfico, a quantidade produzida antes do vírus chinês e antes da crise da OPEP+, pode ser representada pelo ponto A.

Com os acordos firmados pelo cartel e pelo agravamento do coronavírus, há uma retração na curva de oferta, passando da curva AS1 para a curva AS2. Agora, o novo ponto de equilíbrio do mercado é o ponto B.

Numa situação mercadológica sem a presença de cartéis, os preços aumentariam (de P1 para P2) e o mercado definiria um novo preço de equilíbrio.

Como a OPEP+ detém uma considerável fatia de mercado, seus membros entram em conluio e estabelecem limites de produção para cada membro e para alguns que não são membros (como é o caso da Rússia). Com isso, a quantidade produzida pelo cartel é necessariamente ineficiente. Mas nem tudo é tão simples assim.

Na literatura microeconômica, existe um dilema que ajuda a explicar o porquê da cooperação entre países ser bem difícil, mesmo que essa cooperação seja mutuamente benéfica.

O chamado dilema dos prisioneiros faz parte de um campo da teoria dos jogos e que contém uma lição geral aplicável a qualquer grupo que tente manter a cooperação entre seus membros.

Dilema dos prisioneiros

Esse exemplo clássico da teoria dos jogos diz respeito a dois prisioneiros que foram acusados de terem colaborado na prática de um crime. Eles foram colocados em celas separadas não podendo haver comunicação um com outro.

As autoridades solicitam que cada um confessasse. Se ambos os prisioneiros confessarem, cada um será condenado a 5 anos de prisão. Se nenhum entregar o outro, o julgamento do processo será dificultado e os prisioneiros serão condenados a apenas 6 meses.

Se um confessar e o outro se negar a confessar, o prisioneiro que confessou sai livre e o outro será condenado a 10 anos de prisão.

A tabela a seguir resume todos os possíveis resultados das decisões dos prisioneiros:

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Dilema_do_prisioneiro.

A melhor decisão a ser tomada é os dois se negarem a confessar.  No entanto, eles estão impossibilitados de estabelecer qualquer forma de diálogo e, se pudessem fazer isso, não existe nenhuma garantia que o outro cumprisse com sua palavra.

Os membros da OPEP+, com frequência, estão em uma situação semelhante a esse dilema. Mesmo que exista acordos para a produção em conjunto do petróleo, algum país pode vender petróleo por meios ilegais sem notificar o cartel, aumentando assim sua receita total nesse mercado.

Do mesmo modo que os prisioneiros podem não cumprir com sua palavra, os membros do cartel podem sentir-se estimulados a não cumprir os acordos, como aconteceu com a OPEP na década de 1980.

Por mais desejável que a cooperação seja, toda empresa deveria ficar preocupada com a possibilidade de outra empresa praticar uma competição ativa e obter uma fatia maior do mercado.

Com os membros da OPEP+ não é diferente. A falta de cooperação entre os membros reduz o lucro desses países produtores de petróleo, beneficiando assim os consumidores de todo o mundo. O mercado agradece.

Por Maxwell Marcos, estudante de graduação do curso de Economia pela Universidade de Taubaté.

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terraco.economico@moneytimes.com.br
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