Como consultores enganaram o sistema da Natura e lucraram cerca de R$ 6 milhões
Uma fraude complexa, que explorava brechas no sistema de cashback e distribuição de brindes da Natura (NATU3), provocou um prejuízo estimado em R$ 6 milhões à gigante brasileira do setor de cosméticos.
- SAIBA MAIS: Quer garantir uma aposentadoria tranquila? Descubra quanto investir por mês na previdência privada; simule agora com a ferramenta do Money Times
De acordo com a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), o golpe partiu de onde menos se esperava: de dentro da própria rede de consultores da marca. A operação, batizada de Espelho de Vênus, foi deflagrada para desarticular o grupo, que usava falhas no sistema digital da empresa para obter descontos indevidos e revender produtos com lucro em plataformas online e lojas físicas.
A ação policial mobilizou 25 agentes e cumpriu nove mandados de busca e apreensão em Belo Horizonte, Contagem e Betim. Durante as buscas, foram apreendidos milhares de cosméticos — entre perfumes, cremes e kits — armazenados em condições precárias e revendidos com descontos de até 60%.
O golpe dentro da rede de consultoras
Segundo a investigação, o grupo era formado por 11 consultores, entre eles uma mulher de 51 anos, considerada a líder do esquema. Com mais de 20 anos de atuação na Natura, ela utilizava sua experiência e influência para recrutar parentes e amigos e manipular o sistema de compras da empresa.
Os golpistas identificaram uma falha no sistema de brindes do site da marca. Quando o estoque desses brindes se esgotava, o sistema automaticamente convertia o item em crédito financeiro (cashback). Aproveitando-se disso, os consultores realizavam compras simultâneas de um mesmo produto até forçar o esgotamento dos brindes e, assim, geravam créditos em dinheiro.
Esses valores eram usados para adquirir novos produtos com custo reduzido, que depois eram revendidos em marketplaces e lojas físicas com preços até 60% abaixo do mercado.
“Os produtos comprados com cashback fraudulento eram revendidos em plataformas conhecidas, prejudicando a competitividade de outras consultoras que agiam de boa-fé”, afirmou a delegada Cristiana Pereira Gambassi Angelini, chefe da Divisão Especializada em Crimes Cibernéticos da PCMG.
Fraude em escala e suspeita de conivência interna
Ainda conforme a delegada, o esquema funcionou entre março e outubro e movimentou cerca de R$ 300 mil em aportes diretos. Com isso, o grupo teria lucrado milhões com a revenda de aproximadamente 50 mil produtos.
Mesmo após o bloqueio de contas suspeitas, os envolvidos continuaram operando por meio de novos cadastros em nome de familiares, o que levantou a suspeita de possível envolvimento de funcionários internos.
“A internet não é terra sem lei. Vamos responsabilizar todos os envolvidos, inclusive eventuais colaboradores internos”, afirmou Angelini.
A polícia também apura se fraudes semelhantes ocorreram em outros estados, como São Paulo, onde prejuízos do mesmo tipo foram identificados.
Em nota, a Natura informou que “segue colaborando com as autoridades e reitera seu compromisso inegociável com a ética, o respeito e a integridade em todas as suas relações”.
A companhia destacou que a falha já foi corrigida, os consultores envolvidos foram bloqueados e novas medidas de segurança foram adotadas para evitar reincidências.
Segundo informações do g1, os investigadores encontraram estoques clandestinos de cosméticos armazenados de forma irregular, com presença de baratas e poeira em galpões e residências.
O que vem pela frente
Ao todo, 12 pessoas são investigadas e podem responder por fraude eletrônica, associação criminosa, estelionato, apropriação indébita, lavagem de dinheiro e crimes contra a economia popular.
A Operação Espelho de Vênus deve ter novos desdobramentos nas próximas semanas. A Polícia Civil ainda busca rastrear o fluxo financeiro do grupo e calcular o prejuízo total da fraude.
“Mesmo com um esquema sofisticado, sempre há uma brecha. E foi por ela que a investigação entrou”, concluiu a delegada Angelini.