Como perpetuar as empresas familiares
Paulo Cury é Fundador e Sócio da Condere. Conselheiro de Administração
É indiscutível a importância das empresas familiares para a economia, Porém o principal desafio dessas empresas é se perpetuarem, geração após geração. Existem alguns fatores relevantes que podem comprometer a sobrevivência dessas empresas no médio e longo prazos; e que precisam ser tratados pelos acionistas antes que se tornem problemas com potencial destrutivo. Escolhi quatro pontos principais, como ponto de partida, para iniciar nossa reflexão sobre o tema.
Em primeiro lugar, é necessário preparar adequadamente os herdeiros para que eles possam gerar valor para o negócio. Conforme as gerações vão se afastando do(s) fundador(es) fica mais difícil para que elas entendam os desafios de se criar e manter uma empresa. Por essa razão, esses herdeiros precisam ser expostos a organizações externas antes de trabalharem na empresa da família. Essa exposição cria a necessidade de se provarem num ambiente desconhecido e agrega valor para os jovens . A pior coisa que se pode fazer com um jovem herdeiro é coloca-lo, na partida, como um executivo na organização da família. Perde o herdeiro, perde a família e perde a empresa.
Outro ponto, é que as empresas familiares precisam contar com uma estrutura de capital estrategicamente pensada para alavancar seu crescimento. Ainda mais num momento, como o atual, em que o grau de competitividade e o ritmo das inovações é crescente. Muitas empresas familiares pecam por operar somente com capital próprio, e muitas vezes confundem capital de curto prazo (ex. linhas para giro) com capital de médio e longo prazos estruturado. O capital externo, se bem utilizado e amarrado na partida, pode mudar consideravelmente o ritmo de crescimento dessas empresas, reduzindo a exposição dos recursos da própria família.
Além disso, é necessário criar uma estrutura de gestão e governança, e promover a separação entre a família e a empresa. É factível começar um processo de governança de forma mais simples, via um conselho consultivo. O importante é trazer conselheiros independentes que aportem uma visão externa e desvinculada dos acionistas. Junto com a governança, precisam ser estruturados os controles e processos que permitirão à empresa captar recursos no momento oportuno, de forma pública ou privada, com investidores institucionais.
Finalmente, as empresas familiares precisam buscar continuamente o “bom” crescimento, seja via orgânica (ex. novos segmentos, extensões de linha) ou inorgânica (ex. Joint ventures ou fusões/ aquisições). Crescer, a partir de bases sólidas, precisa fazer parte da agenda prioritária dos acionistas o tempo inteiro. Até porque, uma empresa familiar que não cresce, não gera espaço para as diferentes gerações de herdeiros, que sempre são em maior número que os fundadores, que se interessam e possam participar do negócio.