Como um surto de varíola animal ameaça a produção — e o preço — de queijos feitos com leite de cabra e ovelha
Um surto de uma doença altamente contagiosa entre cabras e ovelhas vem derrubando o tamanho dos rebanhos na Europa e acendendo um alerta para a produção de queijos tradicionais, como o feta. A perda massiva de animais pressiona a oferta de leite e já levanta preocupações sobre a alta nos preços dos queijos neste fim de ano.
A Grécia é, até agora, o país mais afetado. Desde agosto de 2024, os casos vêm aumentando de forma consistente.

Vírus contagioso paralisa a criação de cabras e ovelhas
A doença — descrita como uma “peste da ovelha e da cabra” — se espalhou rapidamente pelo país. Para conter o avanço, autoridades sanitárias determinaram o abate de todos os animais infectados e a descontaminação das áreas atingidas. Só na Grécia, mais de 417 mil ovinos e caprinos já foram sacrificados, o equivalente a 4% a 5% do rebanho nacional.
O impacto na cadeia produtiva é direto: queijos fabricados exclusivamente com leite de ovelha ou cabra enfrentam risco de escassez. O caso mais emblemático é o feta, que sozinho consome cerca de 80% de todo o leite desses animais produzido no país.
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Vale lembrar que o feta possui designação de origem protegida na União Europeia. Isso significa que um queijo similar até pode ser produzido fora da Grécia, mas não poderá receber o nome “feta”. Em 2024, o produto movimentou cerca de € 785 milhões — aproximadamente R$ 4,8 bilhões — em exportações, segundo a Associação Grega de Exportadores.
Menos leite, menos queijo — e preços em alta
Com a queda na produção de leite, produtores alertam para risco real de desabastecimento.
Mesmo após declarações iniciais garantindo oferta suficiente, novos surtos e mais abates obrigatórios já levaram parte da indústria a reduzir o volume produzido.
O desequilíbrio entre oferta e demanda aponta para alta nos preços dos queijos. Especialistas em mercado lácteo e comércio ouvidos pela BBC afirmam que a falta prolongada de matéria-prima pode gerar escassez nas próximas semanas ou meses — especialmente em países que importam grandes quantidades de feta e de queijos feitos com leite de cabra ou ovelha.
Críticas à resposta do governo grego
O governo da Grécia também enfrenta críticas pela condução da crise.
Um Comitê Científico Nacional para o Manejo e Controle da Varíola Ovina e Caprina só foi criado no fim de outubro — 14 meses depois do primeiro caso. Até então, nenhuma zona de confinamento havia sido definida nas regiões que registraram os surtos iniciais, no fim do verão de 2024. Além disso, críticos afirmam que o serviço veterinário estatal sofre com falta de pessoal, o que teria atrasado a reação oficial.
Enquanto isso, episódios graves agravaram a situação:
- agricultores foram presos por transportar ilegalmente animais para áreas consideradas livres da doença;
- relatos apontam que animais infectados foram enterrados sem notificação às autoridades sanitárias.
À BBC, um porta-voz do Ministério do Desenvolvimento Rural e da Alimentação afirmou:
“Implementamos o plano para erradicar a varíola ovina desde o início, conforme previsto nos protocolos europeus.”
Segundo ele, a Grécia chegou a registrar quase zero casos na primavera de 2025, mas o comitê científico só foi criado mais tarde porque muitos agricultores descumpriram as medidas de biossegurança, o que teria provocado uma nova explosão de contaminações.