Zona do Euro

Congelamento de preços na França prova que a Europa não sabe lidar com a inflação

23 ago 2022, 16:28 - atualizado em 23 ago 2022, 16:28
Bolsas Europeias
Em julho, a inflação na Zona do Euro atingiu a maior taxa desde que a moeda única foi criada em 1999. (Imagem: REUTERS/Kai Pfaffenbach)

Ontem, o Carrefour anunciou que vai congelar os preços de 100 produtos de uso diário nos supermercados da França até 30 de novembro. A decisão foi tomada após pressões do governo de Emmanuel Macron para que as empresas ajudem no controle da inflação.

O país viu o preço dos produtos subir 6,8% em julho. Trata-se da taxa mais alta desde que a França adotou a metodologia da União Europeia para calcular os dados, nos anos 90. No entanto, por mais que a situação assuste, o congelamento de preços não é a melhor opção e só mostra que a Europa se esqueceu de como é lidar com a inflação.

Os brasileiros que viveram na pele a hiperinflação dos anos 80 devem se lembrar que, quando o presidente José Sarney lançou o Plano Cruzado, ele também promoveu o tabelamento de preços de produtos nos supermercados como uma tentativa de controlar as altas.

O resultado não demorou muito para aparecer: as pessoas continuaram comprando, enquanto as fabricantes reduziram a produção – afinal, o custo de produção seguiu o caminho de alta. Em pouco tempo, os supermercados começaram a sofrer com o desabastecimento. E quanto menos produto tem à venda, maior é o seu valor, nem que seja no mercado paralelo.

Inflação alta

A verdade é que a última vez que a Europa vivenciou a hiperinflação foi após a Segunda Guerra Mundial. Em julho de 1946, por exemplo, a inflação na Hungria chegou à casa dos trilhões: 41.900.000.000.000.000%.

Mais de 70 anos depois, a inflação que se encontra na Zona do Euro é significativamente menor. Em julho, os preços acumularam alta de 8,9% em 12 meses – a maior taxa desde que a moeda única foi criada em 1999.

A pressão inflacionária na região é resultado das medidas para manter a economia aquecida durante a pandemia, somada à crise que a guerra entre Rússia e Ucrânia vem gerando no abastecimento de alimentos e energia.

Tanto que os dados mostram que a energia mais cara foi responsável por 4,02 ponto porcentual, enquanto alimentos, bebidas e tabaco responderam por 2,08 pp do índice.

A Rússia é o principal fornecedor de energia para o continente, sendo que 40% do gás natural consumido na Zona do Euro é russo. As sanções econômicas obrigaram a uma redução das exportações de petróleo e gás.

Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, lembra que a Zona do Euro ficou muito dependente do gás russo por causa de duas estratégias que, hoje, se mostraram equivocadas.

“A primeira foi a decisão da Alemanha de reduzir a energia nuclear, o que fez o país ficar muito mais dependente de um só fornecedor. A segunda é que tem uma pressão política da pauta ESG de ter uma energia mais limpa, que é importante no longo prazo. O problema é que isso levou as empresas das energias sujas, como petróleo, a reduzir bastante os investimentos no setor e não conseguem lidar de forma rápida com o aumento da demanda”, diz.

Agora, os países estão à beira de uma crise energética. Esse gás é usado não apenas para o aquecimento das casas, mas também pela indústria. Se a energia fica mais cara, a produção também fica encarece e reflete nos preços dos produtos (especialmente no setor de alimentação e transportes).

Banco Central atrasado

Além do recente congelamento de preços na França, outro sinal de que a Europa se esqueceu de como é estar em um período de inflação é a demora do Banco Central Europeu em modificar a sua política monetária.

“Não só demoraram demais para subir juros, como começaram em um ritmo muito devagar. Já tinham que ter aumentado a taxa em 1%”, afirma Fabio Fares, especialista em análise macroeconômica da Quantzed.

Ele ainda destaca que o BCE também está financiando os títulos das dívidas dos países que estão com problemas como Portugal, Espanha e Grécia, o que pressiona ainda mais a economia na região.

No entanto, Marco, do Original, lembra que o diagnóstico de alta inflacionária não estava tão claro quando a pandemia começou, mesmo porque não era esperada uma guerra no continente logo no início da reabertura econômica.

O ano de 2023 será difícil para a Europa, que é uma candidata a ter recessão por mais tempo.

“A região terá um problema sério porque a população é idosa e a inflação está muito alta. Estamos em um momento de desglobalização em que as empresas voltam trazendo mão de obra para casa. E aí vamos ter mão de obra desqualificada e cara. Ou seja, a inflação tende a ser mais alta por mais tempo”, afirma Fabio, da Quantzed.

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Formada em Jornalismo pela PUC-SP, tem especialização em Jornalismo Internacional. Atua como editora-chefe no Money Times e já trabalhou nas redações do InfoMoney, Você S/A, Você RH, Olhar Digital e Editora Trip.
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