Contaminação de Covid por alimento embalado ainda é mistério

Evidências indicam que a comida é uma rota improvável de transmissão do coronavírus de um país para outro, mas itens contaminados continuam chamando a atenção.
Há maior incerteza sobre se a cadeia de alimentos congelados, que movimenta US$ 220 bilhões, poderia estar envolvida na disseminação da Covid-19.
A China encontrou várias vezes traços do patógeno em embalagens e alimentos, aumentando o temor de que os produtos importados estejam ligados ao recente ressurgimento do vírus em Pequim e na cidade portuária de Dalian.
Na ação mais contundente do país desde o início dos testes em alimentos em junho, uma grande cidade chinesa proibiu no domingo a importação de carne congelada de locais com alta incidência da doença.
Instalações de armazenamento a frio e frigoríficos são locais ideais para o vírus se espalhar, uma vez que o patógeno se desenvolve melhor em ambientes frios e secos. Porém, não há qualquer evidência concreta de que o vírus possa ser transmitido pelos alimentos e especialistas têm dúvidas de que esse meio seja uma grande ameaça.
“Sabemos que vírus geralmente sobrevivem congelados. Teoricamente, é possível que a infecção se espalhe dessa forma”, disse Benjamin Cowling, chefe de epidemiologia e bioestatística da Universidade de Hong Kong. “Mas, na realidade, o risco de isso acontecer é muito baixo porque muitas etapas precisariam ser envolvidas.”
O vírus precisaria sobreviver ao congelamento e depois ao descongelamento. Precisaria chegar às mãos de alguém e, em seguida, ao nariz ou à boca e ainda sobreviver. “Não acho que seria um modo de transmissão frequente, mas é possível”, disse ele.
O principal especialista em doenças respiratórias da China, Zhong Nanshan, que assessora Pequim na resposta à Covid-19, minimizou o papel que os alimentos congelados podem desempenhar na transmissão.
“É relativamente raro detectar o vírus em alimentos congelados importados”, disse ele. “Não vamos exagerar.”
Veto em Guangzhou
Na falta de provas conclusivas, a China toma precauções, criando grandes obstáculos para seus parceiros comerciais. A associação da cadeia de congelados de Guangzhou, cidade costeira no sul do país, determinou que todas as empresas associadas suspendessem a importação de carne congelada e frutos do mar das áreas afetadas pelo coronavírus.
A ordem foi emitida depois que o governo local da vizinha Shenzhen encontrou o vírus em uma amostra de asas de frango vinda do Brasil. Hong Kong também suspendeu as importações daquela planta.
Nacionalmente, a China evitou medidas mais abrangentes contra a carne importada porque a população depende dessa fonte de alimento.
A Nova Zelândia considerou inicialmente a possibilidade de que um novo grupo de casos — surgido repentinamente na semana passada após 102 dias sem qualquer caso de vírus contraído localmente — poderia ter se originado em uma unidade de armazenamento a frio. Isso porque a primeira pessoa com teste positivo trabalhou em uma instalação da Auckland Americold.