O jogo de xadrez do Google: Três jogadas que mudaram a história da internet
 
						Ao longo de quase 30 anos, o Google (GOOGL | GOGL34) realizou jogadas precisas que redefiniram o rumo da internet.
Como em uma partida de xadrez, a big tech tomou três decisões fundamentais que garantiram a construção de um dos impérios mais poderosos da era digital.
Em 2004, alguns anos após a sua criação, o Google já era considerado o “rei da busca”, mas a internet ainda era controlada pela Microsoft e seu sistema operacional Windows.
Na época, era como se o “portão de entrada” da web estivesse nas mãos da Microsoft, o que criava uma dependência direta do Google com a companhia.
Sair dessa armadilha exigia um ataque frontal.
Apesar de a criação de um novo sistema operacional para competir com o Windows estar entre uma das opções de ataque, ela não era viável. Por isso, os fundadores da companhia decidem fazer o exato oposto.
No segundo episódio da temporada do Tech Riders – dedicada à história das 5 principais big techs: Alphabet, Apple, Microsoft, Meta e Amazon –, o analista de tecnologia da Empiricus Asset, Pedro Carvalho, conta o desenrolar dessa história.
“Ao invés de eles lutarem pelo controle do sistema operacional, eles decidiram tornar o sistema operacional completamente irrelevante. A aposta foi minar o poder do Windows por baixo, transformando a própria web na plataforma”, explica o analista.
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O escudo de aplicativos que permitiu que o Google organizasse a informação do mundo
O primeiro grande ato que permitiu que o Google avançasse com suas peças no tabuleiro foi a criação de três ferramentas centrais: o Gmail, o Maps e o Docs.
O novo “escudo de aplicativos” passou a permitir que os usuários migrassem sua vida digital para dentro do navegador e “se elas vivem no navegador, tanto faz o sistema operacional que está rodando por baixo”, diz Carvalho.
A criação do Gmail, em abril de 2004, foi uma declaração de guerra explícita contra a Microsoft. Segundo o analista de tecnologia, o Gmail estava mostrando para o mundo que a web era a nova plataforma universal.
E a gigante de tecnologia não parou por aí.
Em fevereiro de 2005, o Google lançou o Maps, que foi o principal catalisador para o que hoje se chama de web 2.0 – segunda geração da internet, focada na interatividade, colaboração e criação de conteúdo pelos usuários.
“De repente, centenas de startups começaram a surgir usando o Maps do Google como base de seus negócios (Airbnb, Uber, Ifood). Na prática, o Google bancou a nova geração de empresas na web, alinhado com a sua missão de organizar a informação do mundo”, ressalta o especialista.
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No entanto, ainda faltava atacar a “joia da coroa” da Microsoft: o pacote Office.
Em 2006, o Google lançou o Docs e o Sheets, oferecendo aos usuários ferramentas gratuitas que, pela primeira vez na história da internet, permitiam o trabalho colaborativo em tempo real.
“Com essas três jogadas, o Google provou que a vida digital podia acontecer inteiramente dentro de um navegador, diminuindo a dependência do Windows e mudando o centro de gravidade do poder tecnológico”, afirma Carvalho no Tech Riders (assista na íntegra aqui).
As jogadas bilionárias do Google que lhe renderam o controle da informação
Apesar de ter avançado algumas casas, o jogo não estava ganho.
Para expandir seu império, o Google utilizou uma das armas mais poderosas do Vale do Silício: a aquisição estratégica.
Sua primeira grande aquisição ocorreu no final de 2006 com a compra do YouTube por cerca de US$ 1,65 bilhão.
Na época, a plataforma de vídeo tinha uma ferramenta chamada “embed”, que permite incorporar vídeos em qualquer site ou blog, o que fez o negócio escalar de maneira exponencial.
Segundo Pedro Carvalho, essa aquisição rendeu ao Google a liderança global em vídeos online e transformou o YouTube em uma fonte inestimável de dados, hoje fundamentais para treinar os modelos de inteligência artificial.
E, se, por um lado, o YouTube foi um negócio bilionário, por outro, o acordo da big tech com a empresa por trás do Android foi uma “pechincha histórica” que permitiu ao Google entrar no segmento mobile.
“Ao invés de eles criarem um sistema fechado e caro, eles abriram o código. A ideia era dar o sistema para que empresas como a Samsung, LG, Motorola pudessem criar um ecossistema gigante de celulares para competir com o iPhone”, conta o analista.
O objetivo do Google com isso era um só: garantir que a busca e seus anúncios continuassem sendo a porta de entrada para a internet no bolso de bilhões de pessoas.
“Com o YouTube e o Android, o Google estava comprando o seu passaporte para o futuro, garantindo que não importava onde a internet fosse consumida, o Google estaria lá, no centro de tudo”, complementa Carvalho no Tech Riders (assista na íntegra aqui).
A criação do Chrome e o xeque-mate final do Google para controlar o ‘portão’ de entrada da internet
Naquela altura do campeonato, já estava claro que a disputa entre Microsoft e Google valia o domínio da internet.
Por isso, em 2009, a Microsoft resolveu contra-atacar os movimentos do Google com a criação do Bing, mecanismo de busca próprio da big tech.
Com o risco iminente de perder o controle do portão de entrada da web, o Google decidiu apostar seus investimentos em um projeto secreto que vinha sendo pensado desde 2001: o Google Chrome.
Diferente de tudo que havia sido criado até ali, o navegador revolucionou a internet ao possibilitar que os usuários acessassem um sistema rápido, estável e simples de usar.
Como parte do plano estratégico, eles abriram o código-fonte do projeto, seguindo a seguinte lógica: se existissem dezenas de navegadores baseados na mesma tecnologia do Chrome, a Microsoft não iria mais controlar o padrão da web sozinha.
De acordo com Pedro Carvalho, a criação do Chrome foi o xeque-mate para o Google controlar o próprio destino. “Eles não precisavam mais pedir permissão para ninguém, eles eram os donos do portal”.
Anos depois, em 2015, durante um processo de reestruturação, o Google é incorporado ao guarda-chuva de empresas da Alphabet.
O futuro do Alphabet (GOOGL)
A mudança marcou o início de uma nova fase.
Com dados em escala global, infraestrutura robusta e os maiores talentos do mundo, o Google pavimentou o caminho para a era da inteligência artificial generativa.
Mas o sucesso trouxe um dilema.
Embora tenha criado a tecnologia-chave da IA, o Google hesitou em lançá-la para não comprometer seu negócio mais lucrativo: a busca. Essa pausa abriu espaço para que a OpenAI corresse à frente e lançasse o ChatGPT.
Agora, a dúvida é inevitável: a empresa que dominou a internet conseguirá se reinventar mais uma vez — mesmo quando a maior ameaça vem de sua própria criação?
Para saber a continuação dessa história, fique ligado no próximo episódio do Tech Riders, indispensável para quem se interessa por tecnologia, investimentos e inovação.
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