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Para Felipe Miranda, CIO da Empiricus, Evergrande pode trazer problemas, mas não colapso

27 set 2021, 16:27 - atualizado em 01 out 2021, 16:10

Evergrande

Na última semana, o caso da Evergrande dominou a discussão entre os analistas de mercados, com alguns especialistas temendo algo parecido com o que foi visto em 2008 durante a crise do subprime e outros afirmando que o problema não deve ser tão grave assim. De qualquer forma, o caso foi sentido nas bolsas de valores mundo afora – inclusive no Brasil. Apesar da turbulência, o Ibovespa fechou no positivo na semana passada. 

“A semana, contudo, foi boa no final, corroborando a nossa ideia de que a bolsa está barata. Há problemas, mas há mais descontos. É hora de ter estômago de avestruz e aguentar a volatilidade” afirmou Felipe Miranda, CIO e estrategista-chefe da Empiricus, maior casa de research do país, em sua live, que acontece todo domingo no seu Instagram (@ofelipe_miranda).

Para Miranda, que já entregou 502% de lucro a quem segue as recomendações da sua carteira Oportunidades de Uma Vida, o mais provável é que a crise da Evergrande traga alguns problemas, mas sem surpresas exageradas. “Precisamos parar de olhar o mundo com essa visão de que ou não é risco nenhum ou é um super risco. O mais provável é que teremos algumas mazelas, mas dificilmente um grande colapso. É necessário olhar para o setor imobiliário da China. E haverá impactos no setor de metais e de mineração.”, comentou.

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No final de semana, o Banco Central do Povo da China fez uma nova injeção de liquidez para tranquilizar o sistema bancário local em meio às incertezas. Na sexta, porém, boatos surgiram de que o governo chinês estava alertando autoridades locais para se prepararem para o pior, o que ligou alerta para a possibilidade de um não resgate.  

Os sinais, então, são dúbios. “É difícil para um ocidental entender a China. Não só pela falta de transparência, mas pela matriz filosófica. É uma base confuciana que a gente não entende muito bem”, contextualiza o CIO da Empiricus. “Acho que é um risco importante. Pode dar errado. Mas acho baixa a probabilidade de vir a ser uma crise generalizada”.

Mesmo diante de todo o barulho, Felipe Miranda lembrou que, em novo relatório, a Jefferies, referência no setor de análise de siderurgia e mineração, recomendou a compra da Vale (VALE3), da Rio Tinto e da BHP. 

A crença para os analistas da casa é que essas companhias estão precificadas levando em conta um minério a US$ 80 e que, mesmo com a queda, a commodity ainda deve ficar por volta dos R$ 100. “Eles falam que é um momento de compra. Entendem que não vem uma grande crise com Evergrande. Completo dizendo que a Vale ainda tem o dividendo a ser distribuído, com quase 10% de yield. Muito desse retorno deve ser reinvestido na própria companhia”, contextualiza Miranda.

Falas do Copom e do Fed  são bem vistas 

Além do caso da Evergrande, Felipe Miranda comentou também sobre a ‘Super quarta’, que aconteceu na semana passada, com decisões e falas do Federal Reserve e do Banco Central brasileiro.

“As coisas estão indo no caminho certo. Parece que estamos, com muito cuidado, construindo uma economia capaz de tolerar um tappering”, disse, primeiramente, sobre a decisão do Federal Reserve. 

Apesar de optar pela manutenção da taxa de juros nos Estados Unidos por enquanto, o presidente do Fed Jerome Powell afirmou, na coletiva após a decisão, que o país irá, em breve, reduzir a recompra de títulos públicos e também que, provavelmente, o ciclo de alta de juros deve começar no fim de 2022. Segundo o estrategista-chefe da Empiricus, o mercado esperava, majoritariamente, que isso acontecesse apenas em 2023.

“Os bodes estão sendo retirados da sala. O tappering já foi escrutinado. Acredito que não será um grande problema. Quando chegar acredito que será até um alívio”, comentou. 

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Para o cenário brasileiro, Felipe Miranda acredita que o Banco Central sinaliza que prefere arcar com os custos da inflação ao invés de elevar os juros de maneira mais abrupta, o que pesaria contra a performance do produto interno bruto (PIB). “O cenário de PIB a 0,4% e juro a 9%, desenhado pelo Itaú para 2022, não me parece tão provável neste momento. Acho que a Selic não vem acima de 8,5%”, comentou em relação a uma visão mais negativa do banco publicada em relatório. 

Mercado começa a se “acalmar” com cenário político

Além da questão do tapering, outro “bode” que estaria saindo da sala (ou ao menos ficando mais calmo) é o das eleições do próximo ano. 

Após a elevação de tom, agora o mercado, segundo Miranda, começa a se distanciar dos “ânimos exaltados de Bolsonaro”, bem como do medo do governo Lula. “Eu acho que o Lula, mesmo que eleito, terá de escrever uma espécie de nova carta aos brasileiros e colocar um quadro muito técnico na economia, como já fez anteriormente. Joaquim Levy, Marcos Lisboa, essa turma da pesada, que são ‘nomes nossos’”, explicou.

Apesar disso, Miranda aponta que o cenário preferido pelo mercado financeiro seria de uma candidatura de centro que, apesar de distante, ganhou mais força na última semana, após a Eurásia divulgar que Eduardo Leite estaria na frente na disputa pelas primárias do PSDB. Leite tem menor rejeição do que João Dória, o outro presidenciável do partido, e é visto, por alguns, como um nome mais forte.

Bitcoin e cenário micro

Além da Vale, impactada pela Evergrande e pela China, Felipe Miranda comentou, ainda sobre o país asiático, a decisão do Partido Comunista anunciada na sexta (24) de proibir totalmente as criptomoedas. “Tentar coibir não é o caminho. É uma dinâmica que tem caráter antifrágil. Quando você tenta banir um livro, ele fica mais popular. O bitcoin caiu na sexta, mas agora já está subindo”, afirmou.

O estrategista-chefe da Empiricus, por último, apontou para alguns cases de companhias brasileiras. 

Falou sobre a Infracommerce (IFCM3), dizendo que esperava uma aquisição por parte da empresa especializada em serviços na internet – o que se consolidou nesta segunda -, sobre o cenário para as companhias de Real Estate brasileiras, que tiveram uma semana conturbada, com relatórios apontando caminhos diferentes e sobre as sinalizações de negócios entre a Stone (STOC31) com o Banco Inter (BIDI11). 

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