Internacional

Conversas com o ‘além’ e abolição do Banco Central: Quem é Javier Milei, favorito à presidência na Argentina?

14 ago 2023, 15:28 - atualizado em 14 ago 2023, 15:29
Javier Milei Argentina
Argentina registra eleições primárias no domingo, com trunfo da extrema-direita. (Imagem: Unsplash/Gustavo Sánchez)

A Argentina passou ontem pelas eleições primárias, etapa eleitoral que define quem serão os presidenciáveis do pleito nacional que ocorre no final deste ano. Reza a tradição política argentina que aquele que vence a primária, consegue se sagrar alguns meses depois o presidente da república.

Esta é a posição que se encontra Javier Milei, deputado do parlamento argentino que sai com mais de 30% dos votos. Confiante diante do trunfo, o candidato do partido de extrema-direita La Libertad Avanza vislumbra uma vitória já no primeiro turno.

O resultado obtido por Javier Milei fez cair por terra a análise de muitos analistas políticos, que creditavam à candidatura um alcance limitado as zonas mais urbanas da Argentina, como a própria Buenos Aires.

Mas o deputado da oposição kirchnerista não é um candidato convencional. Em 2021, Milei foi eleito para o parlamento com o já conhecido discurso outsider, alinhando-se, de acordo com suas palavras, “quase naturalmente” aos ex-presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump.

Foi também durante as eleições parlamentares de dois anos atrás que Javier Milei disse ser um anarcocapitalista. Entre as medidas defendidas por Milei, está a privatização de todas as estatais argentinas.

O candidato também disse que a dolarizaração completa do país vizinho é a chave para o controle da inflação, de maneira que se poderia abolir até mesmo o Banco Central.

Além de declarações ultraliberais sobre a economia, o presidenciável criou polêmica ao se posicionar favoravelmente à liberação irrestrita de armas de fogo e até mesmo da venda de órgãos. “É somente mais um mercado”, chegou a declarar Milei.

Bullying, consultas de tarot e conversas com o ‘além’

Javier Milei é um economista formado pela Universidade de Belgrano e atuou em consultorias, bancos e grupos de políticas econômicas.

O candidato ganhou projeção para o público a através de participações em talk shows argentinos. Ele possui também o seu próprio programa de rádio, nomeado de “Derrubando Mitos”.

Nas redes sociais, tem milhões de seguidores — só no Instagram são 2 milhões. Ele rifou seu salário como deputado, em um gesto de desprezo com os benefícios dos políticos.

Em uma de suas participações televisivas, Milei confessou ter apanhado dos pais e ter sofrido bullying no colégio em que estudava na capital argentina, onde era chamado de “o louco”.

Também é alvo de muitas especulações a sua relação com a irmã, Karina Milei, que é gerente da sua própria campanha, e a quem Javier chama de “o chefe”.

Segundo uma biografia não-autorizada, repercutida pelo jornal argentino La Nación, o candidato faz leitura de tarô com sua irmã para avaliar em quem pode confiar. Diz-se ainda que Javier utiliza das definições de parapsicólogos para entrar em contato com o seu cão falecido, buscando conselhos do além.

Ressaca pós-Javier Milei: peso argentino despenca e juros vai a 118%

A vitória do ultradireitista nas primárias vem seguida de um dia sanguento nos mercados argentinos.

Com o temor das ideais radicais de Milei para a economia, o dólar dispara mais de 20%, os títulos argentinos caem mais de 10%. Em reação, o Banco Central da Argentina subiu o juro básico em 21 pontos, para 118% ao ano.

No mercado paralelo, o chamado “dólar blue”, também sobe cerca de 10% e o dólar é negociado nesta manhã por volta de 670 pesos nas casas de câmbio do centro de Buenos Aires, segundo a imprensa argentina.

A repercussão ao resultado dissemina-se também para as negociações da bolsa de Buenos Aires, que abriu com uma queda de 3% do índice Merval. Em Nova York, o preço dos títulos da dívida argentina, já muito descontadas diante do risco da moratória, afundaram 13% diante da leitura de piora das condições do país vizinho.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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