COP30: Estratégias e investimentos para o financiamento climático
Na COP30, realizada neste mês em Belém (PA), uma das pautas centrais é o Financiamento Climático, ou seja, destinação de recursos para projetos e políticas que reduzam as emissões de gases do efeito estufa e promovam adaptação aos impactos das mudanças climáticas.
A mitigação contempla medidas que ajudem os países a cumprirem suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), detalhadas no Acordo de Paris, firmado em 2015, que visa limitar o aumento da temperatura média global a menos de 2º C, com esforços para limitá-lo a 1,5º C, em relação aos níveis pré-industriais. Exemplos de tais medidas incluem a adoção de sistemas de energia renovável (como solar e eólica) e programas de eficiência energética.
Já a adaptação inclui medidas para minimizar os efeitos das mudanças climáticas (como secas, inundações e ondas de calor) e reduzir as vulnerabilidades a potenciais danos. Entre os exemplos, incluem-se desenvolvimento de sistemas de gestão hídrica e saneamento e práticas agrícolas mais resilientes a condições climáticas extremas.
De acordo com o Independent High-Level Expert Group on Climate Finance, o financiamento climático global alcançou um recorde de US$ 1,9 trilhões em 2023, mais do que o dobro registrado três anos anteriores. No entanto, apenas 10% destes recursos são destinados a países em desenvolvimento e somente 5% vai para ações de adaptação.
O grupo também apontou que as necessidades globais seriam de US$ 6 trilhões (três vezes mais do que a destinação atual), sendo que os investimentos necessários para os países em desenvolvimento seriam de US$ 2,4 trilhões anuais até 2030 e de US$ 3,3 trilhões ao ano até 2035, considerando a totalização de recursos públicos e privados, tanto domésticos como internacionais.
- LEIA TAMBÉM: Quer saber onde investir com mais segurança? Confira as recomendações exclusivas do BTG Pactual liberadas como cortesia do Money Times
A racionalidade para investimentos tem ido além da prevenção de catástrofes ambientais, tangibilizando também impactos em crescimento e desenvolvimento social e econômico. Por exemplo, energias renováveis já demonstram um potencial de economia de US$ 500 bilhões anuais em relação aos combustíveis fósseis e a migração da matriz energética pode gerar mais de 18 milhões de empregos globalmente.
Por sua vez, modelos integrados de planejamento urbano podem proporcionar redução de custos de até US$ 17 trilhões por meio de economia circular e eficiência energética em países em desenvolvimento até 2050, propiciando ainda a melhoria da qualidade vida da população, com redução da poluição e índices de mortalidade.
Na COP29, realizada em novembro de 2024 em Baku, no Azerbaijão, foi estabelecida uma meta de financiamento de US$ 300 bilhões anuais até 2035 para países em desenvolvimento. Porém, tal valor foi considerado insuficiente para alcançar os objetivos propostos e foi lançado um novo plano, denominado “Roadmap Baku a Belém”, para demandar R$ 1,3 trilhão ao ano, como base para as necessidades de financiamento climático.
Como país organizador da COP30, em 15 de outubro último, o Brasil apresentou em Washington, nos Estados Unidos, uma síntese deste plano para o Círculo de Ministros de Finanças (que conta com 35 países), em torno de cinco eixos prioritários:
- Expansão do financiamento concessional e dos fundos climáticos;
- Reforma dos Bancos Multilaterais de Desenvolvimento;
- Criação de plataformas de país e fortalecimento da capacidade doméstica para atrair investimentos sustentáveis;
- Desenvolvimento de instrumentos financeiros inovadores para mobilização de capital privado; e
- Fortalecimento dos marcos regulatórios para o financiamento climático.
Como protagonista na agenda de sustentabilidade, com grandes projetos em energia renovável e melhorias na gestão e preservação de seus biomas (além da Amazônia), o Brasil também carrega uma grande responsabilidade na transformação de compromissos em ações concretas, com transparência no adequado direcionamento de recursos e monitoramento de seus impactos.
Além de já ter estabelecido uma NDC ousada (buscando redução de 59% a 67% das emissões líquidas de gases de efeito estufa no país até 2035, em relação aos níveis de 2005), o Brasil também anunciou US$ 1 bilhão para o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, gerenciado pelo Banco Mundial. O fundo prevê pagamentos permanentes de US$ 4 bilhões por ano aos países que preservem suas florestas, lista que inclui mais de 70 países em desenvolvimento. O valor anunciado pelo Brasil tem como condicionante o apoio de outros países, prevendo aportes de US$ 25 bilhões pelas nações soberanas e de outros US$ 100 bilhões junto à iniciativa privada.
Este é um exemplo de ação afirmativa necessária para fortalecer o papel de liderança do Brasil nas negociações globais, em adição a seu compromisso com o progresso nas agendas energética, florestal, de agropecuária sustentável e economia circular. Assim, reforça também a conscientização e o engajamento social com as soluções, justificando de forma resoluta o uso dos investimentos e seu retorno para o mundo.
- VEJA MAIS: O que os balanços do 3T25 revelam sobre o rumo da bolsa brasileira e quais ações podem surpreender nos próximos meses – confira as análises do BTG Pactual