Copom: Especialista enxerga “tom duro” e nenhum corte em 2025

O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic em 15% ao ano na reunião desta quarta-feira (17). Para Bernardo Assunção, CEO da Arton Advisors, esse comportamento deve se repetir no restante do ano, já que o comunicado trouxe um tom duro e não sinalizou cortes no curto prazo.
Em parte, essa postura é explicada pelo fato de a economia brasileira ainda se mostrar aquecida. No entanto, Assunção avalia que a desaceleração deve ganhar força a partir do próximo ano.
“O Banco Central foi bastante duro. Eles deixaram claro que seriam extremamente pacientes, segurando os juros na casa dos 15%. Estamos falando do maior patamar em duas décadas, com juro real próximo de 10%”, comenta. “Machuca a economia, mas a inflação ainda não converge para níveis que permitam cortes.”
O especialista destacou que o comportamento do governo federal, expansionista do ponto de vista fiscal, dificulta a atuação do BC em duas frentes.
De um lado, a política monetária restritiva busca conter a demanda; de outro, programas sociais e subsídios estimulam o consumo e pressionam os preços. Além disso, o aumento de gastos eleva a percepção de risco sobre a dívida pública, levando investidores a exigir prêmios maiores para financiar o Tesouro.
“Se o Brasil ficar com esse juro na dívida pública, de 15%, em algum momento teremos que enfrentar a pergunta: quem vai pagar essa conta?”, diz. “Você não consegue conceder isenções no imposto de renda, manter subsídios, bolsas de gás, energia elétrica e transporte, e ao mesmo tempo arrecadar o suficiente para arcar com os gastos.”
No cenário externo, Assunção lembrou que as tarifas impostas por Donald Trump contra o Brasil adicionam incerteza ao câmbio e à inflação.
“O Banco Central talvez não coloque de forma explícita, mas deve ter uma preocupação adicional com o grau de tarifas ou sanções que podem surgir de forma repentina. Se isso acontecer, não é bom para o câmbio — e câmbio alto gera inflação, o que dificulta a convergência para a meta”, afirma.
Ele lembrou ainda que o Brasil acumula cerca de US$ 1 trilhão em estoque de investimento direto estrangeiro (IED), sendo que um terço desse montante — aproximadamente US$ 340 bilhões — vem dos Estados Unidos, contra pouco mais de US$ 40 bilhões da China.
Trata-se de capital produtivo, aplicado em fábricas, bancos e indústrias, que não sai do país de forma imediata. Contudo, a dependência desse fluxo torna o Brasil sensível ao clima político e geopolítico: qualquer deterioração na relação com os EUA pode inibir novos aportes, reduzir a confiança e encarecer a captação de recursos por empresas brasileiras.
Apesar desses riscos, Assunção avalia que o comportamento do Federal Reserve pode ajudar o Banco Central brasileiro, reduzindo a pressão sobre o câmbio. Essa combinação, somada à perspectiva de desaceleração da economia doméstica, abre espaço para algum otimismo moderado no horizonte.