Arena do Pavini

Corretora Gradual definha após prisão de dona e tentativas frustradas de venda

10 maio 2018, 15:09 - atualizado em 10 maio 2018, 15:34

Por Ângelo Pavini, da Arena do Pavini

A Gradual Investimentos, que já foi uma das principais corretoras independentes do mercado, está definhando desde a prisão de sua controladora, Fernanda de Lima, e de seu marido, Gabriel Paulo de Freitas Junior, ambos executivos da instituição. Eles e o assessor jurídico da corretora Wendel de Souza Silva foram presos provisoriamente no dia 12 de abril pela Polícia Federal dentro da Operação Encilhamento, que investiga fraudes contra fundos de pensão de municípios.

Fernanda foi libertada no dia 29 de abril, um domingo, graças a um habeas corpus. Freitas Junior saiu um pouco antes, na sexta-feira. Ambos renunciaram aos cargos que tinham na Gradual, mas mesmo assim as denúncias contra a corretora levaram muitos investidores a deixarem a instituição. Ocorreram também tentativas de venda da Gradual para outras corretoras, não houve interessados.

Um executivo chegou a ser sondado duas vezes, mas declinou da proposta. “É difícil alguém comprar uma instituição depois dessas denúncias, mas talvez alguém faça um acordo para assumir a carteira de clientes”, diz um executivo do mercado, que pediu para não ser identificado. “Já a área de administração de fundos, onde ocorreram os problemas, é mais complicado”.

Clientes procuram alternativas e operadores saem para a Mirae

Segundo executivos do mercado financeiro, há uma grande procura de clientes da Gradual para trocar de corretora. Também funcionários da Gradual estão deixando a empresa, como o o economista-chefe André Guilherme Perfeito e a analista de economia Camila Caso. Eles ainda não disseram para onde vão, apenas que será uma corretora e que divulgarão o nome na segunda-feira.

Já a Mirae Asset está contratando o responsável pela prospecção de novos clientes institucionais e de varejo da Gradual, Pedro Paulo Afonso, e os operadores Roberto Olsen e Wesley Lima, além do responsável pela área de tecnologia, Jefferson Macedo. Eles exercerão as mesmas atividades, explica o diretor de Operações da corretora coreana, Pablo Stipanicic Spyer. A Mirae não trouxe ninguém da área de administração de fundos da Gradual. Junto com os executivos, Spyer estima que venham para a Mirae R$ 1 bilhão em ativos sob gestão de wealth management e R$ 1 bilhão de custódia, além de um giro diário de R$ 150 milhões em ações.

Debêntures de empresa ligada à Gradual

Fernanda e a Gradual foram envolvidos na polêmica venda de debêntures de uma empresa de tecnologia, a ITS, controlada pelo marido da empresária para um fundo de pensão administrado pela corretora. A empresa gestora do fundo, a Incentivo Investimentos, acusou a corretora de não a ter consultado e exigiu o cancelamento do negócio, abrindo diversas ações contra a Gradual, que respondeu com uma investigação nos fundos de municípios geridos pela Incentivo e que também tiveram prejuízo com debêntures de empresas de pequeno porte. Já a Gradual acusou a Incentivo de cobrar 25% do valor para autorizar a compra das debêntures para o fundo e de fazer o mesmo com outras empresas. A emissão foi de R$ 30 milhões e foi, posteriormente, resgatada pela Gradual.

 Papel Fantasma

Em meio às trocas de acusações, a Polícia Federal começou a investigar as operações na chamada Operação Papel Fantasma, de julho de 2017, da qual se originou a Encilhamento. Na ocasião, o caso envolvendo a Gradual e a Incentivo e os regimes próprios de previdência municipais levou executivos da corretora a prestar esclarecimentos.

Punição da Anbima

Além das ações da Polícia Federal, a Gradual foi punida pela Associação Brasileira das Instituições do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima), que multou a instituição em R$ 3,6 milhões, além de ter sido também proibida de usar o selo da entidade pelo prazo de 4 anos. A multa, a maior já aplicada pela associação desde a criação da autorregulação de mercado, equivale a cem vezes a maior mensalidade paga à Anbima por seus associados e atinge o teto máximo aplicável. A decisão ocorreu em 11 de agosto, conforme documento recebido pela Arena do Pavini.

O texto da decisão não detalha a que falhas de procedimento ele se refere ou quais os fundos envolvidos no caso.

Selo de qualidade

Em outro episódio desgastante, a Gradual perdeu o selo do Programa de Qualidade Operacional (PQO) da BM&FBovespa em setembro de 2015. Pouco antes, em fevereiro de 2015, Fernanda havia fechado um acordo com o ex-presidente do Banco BNY Mellonno Brasil e dono da gestora Bridge Trust, Zeca Oliveira, pelo qual ele assumiria 70% da corretora, antecipando R$ 22 milhões como parte do pagamento. Logo depois da perda do selo, o negócio foi desfeito por Fernanda. Oliveira também foi preso na Operação Encilhamento.

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pavini@moneytimes.com.br
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