CPI: Tarifas de Trump começam a dar as caras na inflação dos EUA e dificultam decisão do Fed

As tarifas comerciais anunciadas pelo presidente Donald Trump começaram a mostrar indícios na inflação dos Estados Unidos (EUA). Ao menos é isso o que sugere o economista do Inter, André Valério, ao destacar a reinflação de bens no CPI de junho.
“Ainda não há sinais significativos de repasse tarifário, mas nota-se uma aceleração na inflação de bens, que alcançou o maior valor desde fevereiro”, diz Valério.
A inflação de bens foi puxada, segundo o economista, por itens como utensílios domésticos, de consumo discricionário e de vestuário — tipicamente com alta participação de importados na oferta. O núcleo de bens variou 0,2% em junho, ante deflação de 0,04% em maio.
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Valério explica que o movimento evidencia o risco de um repasse tarifário tardio, com a inflação atual sendo reflexo de queima de estoque dos produtores a preços antigos. Além disso, com a retomada das taxas comerciais após o prazo de 90 dias, não se pode descartar uma nova rodada de aumentos.
O economista classifica a leitura de inflação de junho como “um pouco mais do mesmo”. A inflação americana avançou 0,3%, acelerando frente a alta de 0,1% maio. Já o acumulado em 12 meses subiu de 2,4% para 2,7%.
Ele diz ainda que os números dificultam a decisão do Federal Reserve (Fed) e eliminam praticamente a possibilidade de um corte na reunião do dia 30 de julho. “Por um lado, o resultado em linha com o esperado e ainda acomodado, com dois meses de tarifas em vigor, é uma boa notícia. Porém, nota-se uma reinflação de bens que pode ser o início de um repasse tarifário”.
O Inter espera que a retomada do ciclo de corte de juros se inicie na reunião de setembro. Essa, inclusive, é a aposta do mercado: as chances de uma flexibilização nessa decisão são de 54,4%, de acordo com o CME FedWatch Tool.
O banco, entretanto, pondera que o ajuste dos juros no quinto encontro do ano está condicionado a não haver repasse inflacionário das tarifas ou ao mercado de trabalho deteriorar significativamente nas próximas duas leituras.