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Credit Suisse dobra carteira de crédito no Brasil

26 ago 2020, 8:07 - atualizado em 26 ago 2020, 8:07
Credit Suisse
O Credit Suisse não quis fornecer números sobre o tamanho de sua carteira de crédito (Imagem: Reuters/Arnd Wiegmann)

A carteira de crédito do Credit Suisse no Brasil mais do que dobrou desde o início da pandemia do Covid-19, pois taxas de juros mais baixas e isenções fiscais têm incentivado os tomadores.

Os empréstimos oferecidos pelo banco cresceram depois que o governo acabou temporariamente com a cobrança de impostos de até 3,38% ao ano, de acordo com José Olympio Pereira, presidente do banco suíço no Brasil.

E com a taxa básica de juros, a Selic, em nível mínimo histórico, bilionários como Jorge Paulo Lemann e Michael Klein usaram crédito para comprar mais ações de suas empresas, disseram pessoas a par do assunto neste mês.

“Pela primeira vez, a alavancagem é uma alternativa para os investidores aqui no Brasil como forma de aumentar seus retornos”, disse Pereira em videoconferência com jornalistas da Bloomberg.

O crédito para companhias também está crescendo. O banco com sede em Zurique está entre os 20 participantes de um empréstimo sindicalizado de R$ 14,8 bilhões para empresas de distribuição de energia, organizado em julho pelo BNDES.

O Credit Suisse não quis fornecer números sobre o tamanho de sua carteira de crédito.

Além dos ganhos com crédito, Pereira disse que também está otimista com as perspectivas para a operação de banco de investimento.

As “injeções maciças de liquidez nos mercados globais” pelos bancos centrais estão alimentando uma mudança de investimentos de renda fixa para ações, disse ele.

“O nível de atividade no mercado de ações está uma loucura”, disse Pereira. “Em março eu nunca poderia imaginar que teríamos todo esse movimento.”

A emissão de ações cresceu 40%, para R$ 87,8 bilhões, neste ano até 25 de agosto, de acordo com dados compilados pela Bloomberg, e o Credit Suisse estima que mais R$ 70 bilhões virão até o fim do ano.

“A receita com comissões neste ano será muito maior do que no ano passado”, disse Pereira, referindo-se aos ganhos com assessoria em fusões e aquisições e liderança em transações de ações e dívida.

O Credit Suisse assessorou a AES Tietê (TIET11) na compra, por R$ 1,27 bilhão, de uma participação do BNDES na AES Tietê Energia, da qual a AES era já acionista controladora. O banco também foi o líder da venda, pelo BNDES, de R$ 22 bilhões em ações da Petrobras em fevereiro.

Para fazer frente a esse movimento maior, o Credit Suisse tem trazido executivos sêniores para sua operação no Brasil, incluindo a contratação, no ano passado, do ex-presidente do Banco Central Ilan Goldfajn, como presidente do conselho.

No início deste mês, o banco anunciou a contratação de Ivan Monteiro, ex-presidente da Petrobras, como vice-presidente do conselho de banco de investimento.

E o Credit Suisse nomeou Marcello Chilov para liderar o negócio de international wealth management para Brasil no mês passado. O ex-chefe dessa divisão, Marco Aurélio Abrahão, deixou o banco com seu time após Chilov assumir o novo cargo.

O Credit Suisse assessorou a AES na compra, por R$ 1,27 bilhão, de uma participação do BNDES na AES Tietê Energia, da qual a AES era já acionista controladora (Imagem:REUTERS/Arnd Wiegmann)

“Vamos substituir as pessoas que saíram na área de wealth management”, disse Pereira, acrescentando que a empresa também está aumentando a equipe de banco de investimento. “Então, estamos contratando.”

O Credit Suisse tem sob gestão R$ 230 bilhões em fortunas de clientes brasileiros e está entre os três maiores bancos do país no negócio.

Mesmo em meio à pandemia, a receita do Credit Suisse cresceu em moeda local. Mas como o real perdeu cerca de 28% de seu valor em relação à moeda dos EUA neste ano, a receita caiu em dólares.

Pereira disse que o governo fez um bom trabalho para evitar uma contração econômica maior causada pela pandemia e recuperou o apoio popular com maiores gastos públicos.

“A grande pergunta que os mercados se fazem agora é se o governo está comprometido a voltar à austeridade fiscal no próximo ano, à medida que os efeitos da pandemia vão se reduzindo”, disse Pereira. “A dúvida é como você equilibra a necessidade de popularidade com a disciplina de gastos. Só espero que a disciplina fiscal não perca para a popularidade.”

bloomberg@moneytimes.com.br