Criptoativos

Crédito caro, câmbio instável e avanço das stablecoins: a resposta do mercado à nova década de baixo crescimento

06 jul 2025, 15:00 - atualizado em 02 jul 2025, 11:57
Stablecoins e o dólar empresas já testam transações com moeda tokenizada (Imagem ChatGPT)
Com IOF em alta e volatilidade cambial, empresas brasileiras recorrem às stablecoins para manter liquidez e previsibilidade em transações internacionais. (Imagem ChatGPT)

Segundo um novo relatório do Banco Mundial, estamos caminhando para vivenciar a década de menor crescimento econômico desde os anos 1960. Entre os principais fatores que explicam essa desaceleração, destaca-se o aumento das barreiras comerciais promovidas pelo governo Trump, medida que já impacta aproximadamente 70% das economias globais.

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O cenário se agrava com a continuidade dos conflitos no Oriente Médio, o aumento das tensões geopolíticas e a adoção de políticas monetárias restritivas pelas principais economias. Esses fatores têm elevado de forma generalizada os índices de inflação e impulsionado a alta dos preços das commodities, com destaque para o petróleo.

No Brasil, as projeções para 2025 apontam uma desaceleração ainda maior do crescimento se comparado aos anos anteriores. O aumento da taxa Selic levou o setor privado a revisar suas prioridades de investimento. Além disso, o reajuste do IOF, ocorrido em maio, impôs custos adicionais a operações de crédito, câmbio e investimentos, penalizando empresas dependentes de remessas internacionais, que agora enfrentam margens de lucro reduzidas ou a necessidade de repassar os custos ao consumidor final.

O encarecimento do crédito também compromete o consumo e dificulta o planejamento financeiro de famílias e empresas. Em um momento em que a política fiscal deveria estimular a atividade econômica, o aumento do IOF atua na direção oposta, restringindo operações essenciais para a fluidez dos negócios.

A tradicional volatilidade cambial em economias emergentes, como a brasileira, tende a se acentuar diante de ruídos políticos, tensões externas e incertezas sobre os rumos da economia global. Num dia, o dólar sobe em função da percepção de risco; no outro, recua após uma decisão inesperada do Federal Reserve. Nesse contexto, a gestão de tesouraria e a proteção contra riscos cambiais tornam-se tarefas diárias e estratégicas para a sustentabilidade financeira das organizações.

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Stablecoins: uma resposta do mercado à instabilidade

Diante desse cenário desafiador, cresce a adoção de stablecoins – criptoativos atrelados a moedas fiduciárias estáveis, como o dólar americano ou o ouro. Em países com economia não dolarizada e inflação alta, como o Brasil, as stablecoins se apresentam como solução prática para pagamentos internacionais e preservação da renda. Para brasileiros e empresas que operam globalmente, essas moedas digitais já oferecem uma alternativa concreta para reduzir a exposição à volatilidade cambial no curto prazo, além de permitirem transações com menos burocracia e taxas.

As stablecoins viabilizam liquidações quase instantâneas, operando ininterruptamente por 24 horas e com custos operacionais significativamente inferiores aos do sistema bancário tradicional. Essa eficiência tem impulsionado sua adoção, sobretudo em países que enfrentam restrições cambiais ou instabilidade institucional, onde o uso dessas moedas cresce de forma discreta, mas consistente, como uma nova forma de dolarização digital.

Dados indicam que aproximadamente 70% dos fluxos indiretos das exchanges brasileiras para plataformas globais são intermediados por stablecoins, reforçando seu protagonismo em transações internacionais. Em escala global, o volume de transações com essas moedas atingiu cerca de 14 trilhões de dólares em 2024, superando inclusive o volume anual processado pela Visa – um marco na consolidação das stablecoins como infraestrutura relevante para pagamentos em larga escala.

Entre janeiro de 2023 e fevereiro de 2025, foram liquidados cerca de 94,2 bilhões de dólares em pagamentos não relacionados à negociação de criptoativos via stablecoins, demonstrando sua crescente utilização em casos de uso práticos, para além do universo especulativo. Plataformas institucionais, como a Fireblocks, já processam mais de 35 milhões de transações mensais com stablecoins, representando aproximadamente 15% do volume global desses ativos.

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Entre 2021 e 2025, o mercado de stablecoins apresentou um crescimento expressivo. O Tether (USDT) alcançou cerca de 141 bilhões de dólares em capitalização, enquanto o USD Coin (USDC) avançou mais de 48%, atingindo 52,5 bilhões de dólares, consolidando-se como pilares centrais da nova economia digital baseada em criptoativos estáveis.

Com a entrada de instituições reguladas nesse mercado e os avanços nas discussões regulatórias, tanto no Brasil quanto no exterior, as stablecoins tendem a se integrar à infraestrutura transacional da nova economia. Enquanto isso, a combinação de IOF elevado, câmbio imprevisível e ruídos monetários faz com que cada vez mais empresas e indivíduos busquem soluções que ofereçam previsibilidade, liquidez e agilidade. As stablecoins não solucionam todos os problemas, mas atendem a questões práticas que o sistema financeiro tradicional ainda não conseguiu resolver de forma eficiente.

Em tempos de instabilidade, quem oferece estabilidade – mesmo que digital – ganha protagonismo.

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Cofounder & CBPO da Lerian, uma startup que desenvolve soluções financeiras open-source. Especialista em finanças e economia com bacharelado em economia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2010); intercâmbio bilateral em Ciências Econômicas e Empresariais na University of A Coruña (2010); MBA em Gestão de Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela Fundação Getulio Vargas (2012); MBA Executiva de Economia pela ExxonMobil Business Academy (2014); Mestre em Administração de Negócios pela Coppead UFRJ (2016) e Business Dynamics pela MIT Sloan School of Management. Atua desde 2014 no mercado financeiro e aborda temas como Banking as a Service, Open Banking, embedded finance, PIX, moedas digitais, finanças descentralizadas, fintechs, empreendedorismo feminino, entre outros.
marilyn.hahn@moneytimes.com.br
Cofounder & CBPO da Lerian, uma startup que desenvolve soluções financeiras open-source. Especialista em finanças e economia com bacharelado em economia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2010); intercâmbio bilateral em Ciências Econômicas e Empresariais na University of A Coruña (2010); MBA em Gestão de Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela Fundação Getulio Vargas (2012); MBA Executiva de Economia pela ExxonMobil Business Academy (2014); Mestre em Administração de Negócios pela Coppead UFRJ (2016) e Business Dynamics pela MIT Sloan School of Management. Atua desde 2014 no mercado financeiro e aborda temas como Banking as a Service, Open Banking, embedded finance, PIX, moedas digitais, finanças descentralizadas, fintechs, empreendedorismo feminino, entre outros.