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Daniel Barbosa: Biden vs. Trump – Insights de Nova York

13 ago 2020, 18:39 - atualizado em 13 ago 2020, 18:39
Joe Biden
“Tenho indícios suficientes de que os independentes votarão em Biden, mesmo que prefiram Trump” (Imagem: Facebook/ Joe Biden)

NYC calling! Finalmente encontrei oportunidade para por a conversa em dia com Ken Rapoza. Colunista dos BRICS na Forbes e ex-repórter do Wall Street Journal no Brasil até 2010, Ken com certeza está entre os que melhor conhecem e sabem sentir o Brasil nos EUA.

O telefonema girou em torno da situação nos EUA, das eleições presidenciais, as tensões com a China e o mercado. Compartilho com você os temas centrais da nossa conversa.

Olhando as pesquisas, Joe Biden vai ganhar fácil. Mas em 2016 estas também apontavam Hillary Clinton como vencedora e deu Donald Trump. Nos Estados Unidos, assim como no Brasil, quem confia nos resultados das pesquisas eleitorais?

A intimidação da mídia sobre a opinião pública e, por consequência sobre os cidadãos, é tão forte que 60% dos americanos dizem que não se sentem à vontade para expressarem suas opiniões políticas livremente.

No Brasil também foi semelhante, a polarização provocou rachas entre amigos e familiares e óbvio que ninguém deseja uma atmosfera assim, menos ainda se for no ambiente de trabalho. Resultado: nos EUA quem apoia Trump está voando por baixo do radar das pesquisas e da imprensa. Ninguém quer correr riscos.

Seja como for, segundo Ken o grupo que deve definir o resultados da eleição presidencial não são republicanos ou democratas, mas os eleitores independentes:

“Há quatro anos, o Partido Democrata e seus representantes em think tanks, organizações ativistas, a mídia, e eu incluo a mídia social e Hollywood aqui, têm provocado chiliques de âmbito nacional quase todos os dias por causa do Trump. Tenho indícios suficientes de que os independentes votarão em Biden, mesmo que prefiram Trump, apenas para impedir a continuação desta atmosfera negativa e ataques de raiva generalizados como os que estão ocorrendo. Eles sabem que, se Biden vencer, todo esse clima hiperagressivo morrerá. Ninguém aguenta mais. Eu chamo isso de política de exaustão: o eleitorado, cansado, pode desistir de uma posição para que ele vote contra seu próprio interesse ou simplesmente perca o interesse na sua posição original. Foi parecido com o Brexit mas falhou. Será que esta onda de interferências vai falhar com Trump em 2020? Não sei ao certo, parece que não. Os americanos estão exaustos e chegaram ao limite com a indignação diária.”

A perspectiva econômica se Biden for eleito

A respeito das implicações de uma  possível vitória de John Biden, Ken foi categórico:

“Uma vitória de Biden é potencialmente ruim para as empresas de petróleo e gás. Provavelmente ele vai taxar a gasolina; teoricamente ele pode alegar que os preços da gasolina estão tão baixos que os americanos podem arcar com um aumento. Ele usará esse imposto para financiar o New Deal Verde dos Democratas. Há uma chance de que isso possa ser um criador de empregos em certas indústrias como solar e eólica, mas no momento a maior parte desses itens são todos feitos na China.

Para que Biden seja realmente benéfico para a indústria americana de energia renovável ele teria que fazer com que turbinas eólicas e painéis solares voltassem a ser fabricados nos EUA.

Uma vitória de Biden seria potencialmente desfavorável para o Russell 2000, o índice das Small-Caps. Eles não são multinacionais ágeis com sede em paraísos fiscais como a Apple. Assim sendo, provavelmente as multinacionais e as ações de tecnologia terão um bom desempenho com base no estímulo contínuo e na crença de Wall Street de que a guerra comercial com a China acabou, mas enquanto isso as ações da Russell 2000 podem não ir bem se Biden aumentar os impostos corporativos para financiar programas sociais. Programas estes que poderiam também nunca ser aprovados já que Biden precisaria ganhar na Câmara e no Senado para aumentar os impostos.”

E como fica a China se Biden vencer?

“Uma vitória de Biden favorece a China mais do que uma vitória de Trump. Mas não acho que Biden acene a bandeira branca para os chineses. Há apoio do partido republicano e dos democratas pelo endurecimento com a China.

Um governo Biden pode fazer uma concessão e parar de aumentar as tarifas ou reduzir as existentes. No entanto, posso vê-lo aumentando as tarifas, e muito, sobre certos setores considerados estratégicos para os EUA, como produtos farmacêuticos, minerais das assim chamadas  terras raras – muitos destes são de proveniência chinesa. Ele poderia fazer isso sem esperar que as empresas dos setores afetados reclamem.”

Wall Street Mercados
“O mercado se beneficiou das compras do Fed, estímulos fiscais, incluindo o resgate da Main Street USA” (Imagem: REUTERS/Brendan McDermid)

Economia & Mercado

“A economia dos EUA está em péssimo estado devido ao lockdown. Muitas empresas sobrevivem devido aos pacotes do Fed e do Congresso. Esses pacotes de ajuda não durarão para sempre. Mesmo que durem até o fim de 2020, a questão é se as empresas que se beneficiaram podem sobreviver sem eles ou não. Em estados como Califórnia e Nova Jersey o lockdown ainda está em vigor.

O mercado se beneficiou das compras do Fed, estímulos fiscais, incluindo o resgate da Main Street USA. Ao mesmo tempo vimos um recorde de seguro-desemprego beneficiando muitas pessoas que ganharam mais sem trabalhar do que trabalhando. Empresas do setor de tecnologia se beneficiaram com o lockdown, os acessos ao Facebook e YouTube aumentaram, por exemplo. Mais pessoas comprando na Amazon e o S&P subindo por causa do apoio do Fed.

Este cenário é bastante positivo para os aposentados neste momento, especialmente para os mais velhos que há pouco mais  de dez anos passaram pela Grande Crise Financeira.

Imagine ter se aposentado aos 65 anos há doze anos atrás e ver suas economias cairem 45%. Você não tem um emprego, então você não está mais fazendo aportes regularmente e aí, aos 77 anos … a economia dá pau e quebra. De novo!? Suas economias estariam praticamente de volta aos níveis de 2008!

Os investidores preocupados com o alto preço das ações dos EUA, a ameaça da volta do lockdown e toda a histeria em torno da segunda onda do vírus favoreceram a compra do ouro. Os investidores nos EUA querem voltar a investir, inclusive no Brasil que é um dos favoritos, mas o receio é se essa pandemia continuará até depois de outubro. Estas são algumas das trepidações que acabam inibindo quem está com o dinheiro  na mão.

Vacina Rússia Coronavírus
“Supondo que os EUA e o Brasil tenham sido atingidos com infecções mais ou menos ao mesmo tempo – no final de fevereiro – então estaríamos livres de tudo isso em outubro” (Imagem: Divulgação/Минздрав России)

O Corona Vírus é SARS 2. O vírus SARS 1 durou de novembro de 2002 a julho de 2003 e depois desapareceu das manchetes. Isto é, 8 meses. Se desta vez também durar a mesma coisa, supondo que os EUA e o Brasil tenham sido atingidos com infecções mais ou menos ao mesmo tempo – no final de fevereiro – então estaríamos livres de tudo isso em outubro. Em pelo menos dois meses saberemos se estou certo! Mas lembre-se: Sou apenas analista e não sou um cientista!”

Estas foram opiniões de Ken Rapoza, atualmente analista para assuntos envolvendo a China junto ao think tank “The Coalition for a Prosperous America” em Washington DC cujo foco é o comércio internacional.

Enquanto isto na Alemanha a situação apresenta paralelos com a realidade americana. A preocupação com a saúde econômica é grande e, como foi visto recentemente em Berlim, também é grande a insatisfação de boa parte da população. Muitos alemães questionam a efetividade das medidas impostas e aquecendo mais ainda o clima político neste período onde o fim da era Merkel se aproxima a cada dia.

Em 2021 o povo elegerá um novo chanceler e Angela Merkel já avisou que não vai mais se candidatar apesar de seu partido liderar as pesquisas de opinião.

Então quem poderá ser o próximo chanceler da Alemanha?

Um dos fortes pré-candidatos à cadeira de Angie, apelido de Merkel, é Friedrich Merz. E Merz que trabalhou com o fundo americano Black Rock. Um chanceler com ligações no mercado financeiro? Soa perigoso para alguns aqui. Mas bem antes disso vamos ver o desfecho nos EUA.

Biden está batendo forte mas Trump, até se era considerado um azarão, já venceu uma vez. Será que seria uma grande surpresa se isto se repetisse? Na Alemanha se diz “Totgesagte leben länger” ou, na tradução livre, “os desenganados tem mais sobrevida”.

Estes são nossos insights mais recentes, vamos seguir acompanhando de perto os acontecimentos.

Por favor não se esqueça que somos apenas operadores do mercado. Não somos de nenhuma torcida e se nosso cenário principal falhar, acionaremos o cenário alternativo sem hesitar.

Bons negócios!

Analista de estratégias com opções da Vandermart Solutions
Nesta coluna com insights direto dos mercados em Frankfurt e NYC, Daniel discorre sobre oportunidades com foco em ativos de grande liquidez. Trader certificado (EUREX) e analista da Vandermart Solutions, Daniel é braço direito de Reinhold Fend no Brasil. Fend é autor do software Vandermart Tracker uma maiores referências dos países do DACH (Alemanha, Suíça e Áustria) quando o assunto são estratégias com opções. Junto com Ken Rapoza, BRICS-analyst da Forbes ex-WSJ do Brasil, assinam o “Options Jaguar”.
Nesta coluna com insights direto dos mercados em Frankfurt e NYC, Daniel discorre sobre oportunidades com foco em ativos de grande liquidez. Trader certificado (EUREX) e analista da Vandermart Solutions, Daniel é braço direito de Reinhold Fend no Brasil. Fend é autor do software Vandermart Tracker uma maiores referências dos países do DACH (Alemanha, Suíça e Áustria) quando o assunto são estratégias com opções. Junto com Ken Rapoza, BRICS-analyst da Forbes ex-WSJ do Brasil, assinam o “Options Jaguar”.
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