Aposentadoria

Déficit da Previdência nos 8 maiores países do mundo chegará a US$ 400 tri em 2050

26 maio 2017, 19:39 - atualizado em 05 nov 2017, 14:02

Aposentadoria

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Por Ângelo Pavini, da Arena do Pavini

Quem acha exagerada a insistência do governo em promover uma reforma da Previdência ou pensa que esse é um problema só do Brasil deve ver um estudo feito pelo Fórum Econômico Mundial divulgado hoje. Segundo o estudo, os seis maiores sistemas de pensão do mundo – Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Holanda, Canadá e Austrália – terão um déficit conjunto de US$ 224 trilhões em 2050, pondo em risco os rendimentos das gerações futuras e estabelecendo o mundo industrializado para a maior crise de pensões da história. Se forem somadas China e Índia, os dois países mais populosos do mundo, o déficit cresce para US$ 400 trilhões.

Apenas como comparação, o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas por um país) dos Estados Unidos foi de US$ 18,6 trilhões em 2016. Já o PIB mundial, em 2015, foi de US$ 74 trilhões. Ou seja, o déficit representaria mais de 20 anos da economia americana, ou mais de 5 anos da economia global.

O estudo considerou não apenas a previdência pública, mas todo o sistema previdenciário dos países, que inclui também contribuições individuais, obrigatórias ou não, para sistemas de previdência. No Brasil, a discussão se concentra apenas na parte fiscal e na previdência pública, e terá mais adiante de abordar também esses sistemas complementares, que incentivem cada trabalhador a guardar dinheiro para sua aposentadoria.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O preço de viver até os 100

Para aliviar a crise que se aproxima, os governos buscar soluções para eliminar as dificuldades que impedem o acesso dos trabalhadores de baixa renda aos sistemas de fundos de pensões e previdência, e se antecipar ao envelhecimento das populações, que são as principais fontes do alargamento do déficit previdenciário. Essas são as principais conclusões do relatório do Fórum, “We’ll Live to 100 – How Can We Afford It ?”, ou “Nós vamos viver 100 anos, como vamos pagar isso?”, lançado hoje, que fornece ideias específicas sobre os desafios potenciais enfrentados globalmente.

O aumento previsto da longevidade e do envelhecimento resultante é o equivalente financeiro da mudança climática no meio ambiente, diz Michael Drexler, chefe de Sistemas Financeiros e de Infraestrutura do Fórum Econômico Mundial. “Temos de abordá-lo agora ou aceitar que suas consequências adversas vão assombram futuras gerações, colocando uma pressão impossível sobre nossos filhos e netos.”

O relatório é o mais recente estudo para calcular o impacto do envelhecimento das populações sobre o déficit da previdência nos maiores mercados de pensões do mundo. O problema é maior nos Estados Unidos, onde o déficit atual de US$ 28 trilhões deve subir para US$ 137 trilhões em 2050. O déficit médio nos seis mercados combinados é estimado em US$ 300 mil por pessoa.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Já o déficit total para todos os 8 mercados do estudo (que inclui ainda a China e a Índia, que têm as maiores populações do mundo) atingirá US $ 400 trilhões até 2050. Todos os números são resumidos no gráfico abaixo:

Pavini

O gap representa a diferença entre o valor que seria necessário em cada país (incluindo contribuições dos governos, indivíduos e empregadores) para proporcionar a cada pessoa ativa uma renda de aposentadoria igual a 70% de sua renda pré-aposentadoria hoje e em 2050. Despesas como poupança pessoal e impostos são muitas vezes reduzidas na aposentadoria e atingir 70% da renda pré-aposentadoria, de acordo com as diretrizes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é um referencial grosseiro do valor necessário para proporcionar às pessoas um padrão de vida semelhante ao da ativa na aposentadoria.

Renda menor sofre mais

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Para os assalariados de baixa renda, a meta de 70% não será suficiente e pode resultar em pobreza, a menos que as reservas econômicas sejam aumentadas. O déficit de financiamento das aposentadorias continuará a crescer a uma taxa superior à taxa de crescimento econômico esperado, muitas vezes de 4% a 5% ao ano, impulsionada em parte pelo envelhecimento da população: uma crescente população de aposentados que se espera vivam mais na aposentadoria.

“O desafio da poupança para a aposentadoria está em seu ápice e o momento de agir é agora”, diz Jacques Goulet, presidente da Health & Wealth da Mercer, o principal colaborador do estudo. “Não existe uma “bala de prata” para resolver o problema da previdência. Os indivíduos precisam aumentar sua poupança pessoal e sua educação financeira, enquanto o setor privado e os governos devem fornecer programas para apoiá-los “.

Cinco ações

O relatório sugere cinco ações de alta prioridade que os governos e os líderes políticos devem tomar para adaptar os sistemas de pensões para enfrentar os desafios:

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
  1. Revisar a idade mínima de aposentadoria para aumentar de acordo com a expectativa de vida. Para os países onde as gerações futuras têm uma esperança de vida superior a 100 anos, como os EUA, Reino Unido, Canadá e Japão, uma idade mínima de aposentadoria de pelo menos 70 deve se tornar a norma em 2050.
  2. Tornar o hábito de guardar dinheiro fácil para todos. Um bom exemplo são as reformas recentes no Reino Unido, onde 8% dos ganhos serão automaticamente aplicados em contas de poupança previdência para cada indivíduo a partir de 2019. Esta iniciativa, para automatizar o ato de poupar, até agora tem impulsionado as reservas financeiras dos jovens entre 22 e 29 anos e trabalhadores de baixa renda, e deve criar $ 2.5 bilhão em reservas para aposentadoria adicionais a cada ano.
  3. Apoiar os esforços de educação financeira, começando nas escolas e visando grupos mais vulneráveis da população. Educação e alfabetização financeira devem ser oferecidas ao longo das carreiras das pessoas para aumentar a consciência da importância da poupança. Um bom estudo de caso é a campanha de mídia executada em Cingapura para o lançamento do CPF LIFE, um esquema nacional que funciona como um fundo de previdência privada, com aplicações mensais que depois permitem receber uma renda vitalícia. O programa se concentrou em traduzir uma mensagem simples e facilmente compreendida pela pessoa média.
  4. Fornecer uma comunicação clara sobre o objetivo de cada pilar dos sistemas nacionais de pensões (previdência pública, fundos de pensão ou previdência obrigatória e poupança própria) e sobre os benefícios que serão proporcionados. Isso daria aos indivíduos uma compreensão do nível de renda que eles podem esperar do governo e dos sistemas obrigatórios de poupança (que não existem no Brasil) e quanto eles precisam acumular de suas próprias economias individuais para complementar os rendimentos provenientes de sistemas públicos.
  5. Agregar e padronizar os dados das pensões para dar aos cidadãos uma imagem completa da sua situação financeira. Um bom exemplo é a Dinamarca, onde um painel online recolhe informações sobre pensões para fornecer aos indivíduos uma visão global de suas diferentes contas de investimentos.

O relatório salienta que os governos e os líderes políticos têm um papel central a desempenhar na reforma dos sistemas de pensões para garantir que o mundo poderá se adaptar às sociedades em que viver até 100 anos é comum.

“Como os resultados da aposentadoria se desenrolam lentamente ao longo de décadas, os problemas emergentes são muito difíceis de ver e são praticamente irreversíveis quando ocorrem”, diz Robert Prince, co-diretor de investimentos da Bridgewater Associates e parte da diretoria do Comitê do Projeto de Reforma dos Sistemas de Investimento de Aposentadoria do Fórum Econômico Mundial. “Bons resultados exigem abordagens eficazes e boas decisões aplicadas consistentemente ao longo de décadas”, afirma. “Ações ineficazes tomadas ao longo de décadas vão colocar um peso sobre a sociedade e as economias dos países que será praticamente impossível de aliviar uma vez que ocorra”, acrescenta. Dado o envelhecimento das populações e aumento da expectativa de vida, reformas efetivas são necessárias agora, alerta.

O relatório foi elaborado pelo Fórum Econômico Mundial em colaboração com a Mercer, uma consultoria global de saúde, investimentos e carreiras. O Manual de Aposentadoria, detalhando 12 estudos de caso, está disponível no site do Fórum.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compartilhar

WhatsAppTwitterLinkedinFacebookTelegram
pavini@moneytimes.com.br

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar