Depois de ataques hacker históricos e bilionários, bancos tentam limitar rotas de fuga para dinheiro roubado
O sistema financeiro brasileiro volta a ficar em alerta com a sequência de ataques hackers a empresas de tecnologia que prestam serviços para bancos e fintechs. Há poucos dias, hackers invadiram o ambiente da Diletta, prestadora de infraestrutura digital, e realizaram transações atípicas via Pix.
Segundo estimativas de mercado citadas por reportagens especializadas, o montante desviado poderia chegar a R$ 40 milhões.
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O mesmo padrão, novas vítimas
O ataque à Diletta segue o mesmo padrão de outros episódios recentes: criminosos têm mirado as empresas que operam nos bastidores do sistema financeiro, responsáveis por conectar bancos e instituições de pagamento ao ecossistema do Pix.

Essas companhias desempenham um papel crucial, intermediando operações, mas nem sempre contam com o mesmo nível de proteção das grandes instituições financeiras.
Em junho, a C&M Software foi alvo de uma invasão que resultou em desvio estimado em mais de R$ 1 bilhão. Dois meses depois, foi a vez da Sinqia, também fornecedora de soluções para o setor bancário, sofrer um golpe com prejuízo avaliado em cerca de R$ 420 milhões.
Os ataques consolidaram um alerta: os criminosos migraram do front bancário para as engrenagens invisíveis do sistema financeiro, explorando vulnerabilidades em empresas que sustentam, de forma indireta, o fluxo de pagamentos.
Banco Central e Febraban reagem
A escalada de ataques levou o Banco Central (BC) a reforçar a regulação sobre o setor. Em setembro, a autarquia anunciou novas regras de segurança para fintechs e instituições de pagamento ligadas ao sistema financeiro.
Entre as medidas, está o teto de R$ 15 mil para transferências via Pix e TED realizadas por empresas intermediárias de tecnologia. Além disso, o BC determinou que todas as fintechs deverão obter autorização formal para operar até maio de 2026.
Paralelamente, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) publicou, em 27 de outubro, um novo conjunto de normas de autorregulação para endurecer o combate às contas-laranja e contas frias — aquelas abertas de forma fraudulenta ou usadas por terceiros para movimentar recursos ilícitos.
“Estamos criando um marco no processo de depuração de relacionamentos tóxicos com clientes que alugam ou vendem suas contas”, afirmou Isaac Sidney, presidente da Febraban. “Os bancos não podem permitir a manutenção de contas-laranja, contas frias e de bets ilegais.”
O que muda na prática
Com as novas regras, bancos e instituições financeiras associadas à Febraban — como Bradesco, Itaú, Santander, Caixa, Banco do Brasil, BTG Pactual, Safra, Original, Pan, BMG e Sicredi — ficam obrigadas a:
- Implementar políticas internas específicas para identificar movimentações suspeitas;
- Encerrar de imediato contas consideradas ilícitas e comunicar os titulares;
- Reportar as ocorrências ao Banco Central;
- Elaborar declarações de conformidade assinadas por áreas independentes de auditoria e compliance;
- Fechar contas de apostas irregulares, sem autorização da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) do Ministério da Fazenda.
O processo será monitorado pela Diretoria de Autorregulação da Febraban, que poderá exigir evidências a qualquer momento. O descumprimento das normas poderá resultar em advertências, ajustes de conduta ou exclusão do sistema.
“O aumento alarmante das fraudes e golpes no sistema financeiro exige ações efetivas. As chamadas ‘contas de passagem’ hoje viabilizam práticas criminosas e precisam ser eliminadas”, afirmou Amaury Oliva, diretor de autorregulação da entidade.