Economia

Dia da Consciência Negra: Como funcionava a economia autossuficiente que sustentou o Quilombo dos Palmares por um século?

20 nov 2025, 6:39 - atualizado em 17 nov 2025, 11:08
zumbi dos palmares quilombo dos palmares
Quilombo dos Palmares, do qual Zumbi foi líder por quase duas décadas, resistiu a mais de trinta ataques graças à autossuficiência e organização; entenda como era o sistema. (Imagem: Reprodução)

Um dos sentidos de memória, conforme o dicionário Michaelis, é a “faculdade de lembrar e conservar experiências adquiridas no passado”. O feriado desta quinta-feira, 20 de novembro, realiza exatamente essa função. Não é uma comemoração, mas sim a conservação da lembrança de Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência contra a escravidão e cuja morte deu origem ao Dia da Consciência Negra.

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Assassinado em 1695, Zumbi liderou o Quilombo dos Palmares por 17 anos. Isso só foi possível graças a uma organização que resistiu por quase um século e fez de Palmares o maior quilombo da América Latina.

Mas, afinal, como um movimento de resistência escravista conseguiu sobreviver por tanto tempo em meio ao Brasil colonial?

Um dos motivos está ligado à autossuficiência de Palmares e ao desenvolvimento econômico do quilombo.

Para ter uma ideia, enquanto boa parte da colônia portuguesa passava fome, o grupo vivia em abundância. A seguir, entenda como esse sistema funcionava.

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Palmares chegou a abrigar 30 mil pessoas: como era a organização?

Para relembrar um pouco da história: o acampamento foi formado a partir de uma revolta de negros escravizados em engenhos na capitania de Pernambuco, no final do século XVI.

Na época, os donos de engenhos do norte da colônia estavam ocupados lutando contra a invasão holandesa, o que enfraqueceu o controle português e abriu espaço para a fuga dos escravos para áreas de mata.

Com essa brecha, vários grupos foragidos passaram a se estabelecer na região da Serra da Barriga, onde hoje fica a cidade alagoana União dos Palmares, e foram se fortalecendo com o passar dos anos.

Ao longo do tempo, o quilombo cresceu e se tornou uma comunidade independente da lógica colonial.

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Segundo registros históricos, em um século de organização, Palmares chegou a abrigar entre 20 e 30 mil habitantes. Não se tratava só de negros e negras, mas também de indígenas e pessoas brancas pobres, muitas consideradas “fora da lei” na época.

Não é à toa que o Quilombo dos Palmares chama atenção dos estudiosos até hoje pela grandiosidade e prosperidade dos assentamentos.

Ao resistir por quase 100 anos, a comunidade se destacou por razões geográficas e, principalmente, pela autossuficiência econômica, o que ainda não existia no Brasil colônia.

Por dentro de Palmares: como funcionavam a geografia e economia do quilombo?

A localização do Quilombo dos Palmares foi fundamental para o fortalecimento do grupo ao longo dos anos.

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Como os assentamentos ficavam em uma região serrana, com relevos altos, encostas íngremes, vales estreitos e mata fechada, havia dificuldade para os militares atacarem as comunidades quilombolas.

Mas além da proteção dos moradores, os fatores geográficos também foram essenciais para o desenvolvimento econômico de Palmares.

Os recursos naturais eram abundantes na região e favoreceram a agricultura no quilombo. Entre os cultivos mais importantes estavam mandioca, feijão, batata e milho. Também extraíam frutas e palmito da mata.

Os quilombolas produziam melaço, praticavam caça e pesca, e criavam porcos e galinhas. Essa diversidade garantia abundância de alimentos e a autossuficiência a Palmares.

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Além disso, um ponto-chave para a economia do quilombo era que a produção de alimentos não era só para subsistência dos moradores. Havia fartura, essencial para criar relações com outros grupos.

Todo excedente agrícola era comercializado com comunidades vizinhas em troca de ferramentas, tecidos, armas e itens que não eram produzidos nos assentamentos.

Na prática, o Quilombo dos Palmares se tornou uma potência regional e essa combinação de desenvolvimento econômico, geografia favorável e trocas externas garantiu a sobrevivência do grupo por quase cem anos.

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A colônia seguia um caminho oposto e passava fome

O mais curioso é que, enquanto Palmares mantinha abundância de alimentos, a colônia portuguesa enfrentava situação oposta, chegando à fome.

A produção agrícola colonial era muito voltada para a exportação da cana-de-açúcar, o que deixava a agricultura para alimentação da população limitada à subsistência e, às vezes, à escassez.

Outro problema era a forte dependência de Portugal. O Brasil colonial importava muitos produtos de Lisboa e, sem essas relações com a coroa portuguesa, o sistema entraria em colapso.

Por muitos anos, essas diferenças favoreceram Palmares. O quilombo sofreu mais de trinta tentativas de invasão em quase cem anos, mas a autossuficiência funcionava como escudo.

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Isso porque o grupo estava dividido em diferentes mocambos – nome dado aos assentamentos do quilombo. Cada um focava em uma atividade produtiva e, graças a essa diversidade econômica, quando um era atacado pelo exército, a economia como um todo não sofria impacto.

No entanto, foi em 1694 que Palmares começou a declinar. Após um século de resistência, um ataque ao principal centro político do quilombo, o Mocambo do Macaco, abalou as estruturas do grupo.

Um ano depois, o líder Zumbi foi capturado e assassinado, fato que, mais de 300 anos depois, deu origem ao feriado da Consciência Negra em 20 de novembro.

Com informações do livro “Sociologia do negro brasileiro”, de Clóvis Moura.

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Formada em Jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP), já trabalhou com marketing e redes sociais em uma consultoria financeira e é redatora dos portais Seu Dinheiro e Money Times.
giovanna.figueredo@empiricus.com.br
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