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Disparadas de 150% a 2000%: O que explica o salto dos lucros das elétricas no 2T23; mais dividendos?

29 ago 2023, 20:03 - atualizado em 30 ago 2023, 0:41
Apagão, Leilão, Brasil
Elétricas têm alta do lucro, mas nem tudo que reluz é ouro (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

Lucros com disparada de três a quatro dígitos marcaram os resultados das elétricas no segundo trimestre de 2023.

A Cemig (CMIG4), por exemplo, viu o seu resultado final disparar incríveis 2.396,96%. Transmissão Paulista (TRPL3) subiu 252%. Pelos menos cinco empresas, de onze analisadas, tiveram alta de mais de 100% no indicador.

Veja na tabela abaixo:

Empresa Ticker Comparação com 2T22
Transmissão Paulista TRPL4 252%
Taesa TAEE11 60%
Auren Energia AURE3
Reverteu prejuízo
AES Brasil AESB3 286%
Cemig CMIG4 2.396,96%
Engie Brasil EGIE3 46,8%
Eletrobras ELET3 16%
Equatorial EQTL3 49,2%
Alupar ALUP11 304%
Copel CPLE6 56,2%
Energisa ENGI11 6,4%
Eneva ENEV3 152,7%

Mas o que explica essas cifras? Motivos para mais dividendos?

De acordo com analistas ouvidos pelo Money Times, não necessariamente. Ocorre que as empresas passaram por uma temporada mista, com balanços “sujos” e itens não recorrentes, enquanto a base de comparação fraca ajudou a impulsionar ainda mais as cifras.

Ricardo Schweitzer, analista independente, lembra ainda que ao analisar os resultados de qualquer empresa, é importante ter em mente que o lucro líquido é influenciado por três resultados distintos: operacional, financeiro e tributário.

“Em alguns casos, podemos ter efeitos não-recorrentes ou de qualquer outra forma anômalos no período analisado – ou naquele usado como base de comparação -, que podem fazer parecer que a empresa teve grandes avanços ou retrocessos entre os períodos. Geralmente não é o caso”, argumenta.

Ainda segundo o especialista, no segmento de transmissão elétrica, o desempenho operacional das empresas é tipicamente mais estável – receitas de operações continuadas são reajustadas por inflação.

“Crescimentos acima disso, ou retrações, são majoritariamente relacionadas à entrada de novas operações ou ao encerramento de concessões”, diz

Já na geração, acrescenta, o resultado operacional decorre fundamentalmente da produção e da compra e venda de energia, enquanto na distribuição, isso ocorre entre consumidores finais.

“Tudo isso para dizer que, do ponto de vista operacional, não é típico que empresas do setor apresentem variações das magnitudes apontadas. Isto nos sugere que essas variações venham de outras bases – que, por suas próprias naturezas, dificilmente significam algo estrutural para as empresas”, coloca.

Para Schweitzer, dois típicos fatores para esse tipo de variação são:

  1. melhores resultados financeiros – que, por exemplo, estavam consumindo praticamente todo o resultado operacional e, agora, são um fardo menor para as empresas e;
  2. não-recorrentes de ordem tributária.

Espaço para mais dividendos?

Já Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos, vê a alta dos lucros das elétricas como mostra do aumento da demanda por energia elétrica, indicando uma recuperação econômica robusta para determinados segmentos da economia, bem como a eficiência operacional das empresas.

“Esse crescimento nos resultados pode, de fato, contribuir para o aumento dos dividendos, pois empresas com receitas e lucros crescentes têm maior capacidade de distribuir proventos aos acionistas”, argumenta.

Mas Schweitzer diz que a equação não é tão simples. “Eu não olharia para esse aumento dos lucros, como regra geral e um indicativo sustentável de mudança em políticas de dividendos“, discorre.

Altas dos lucros vão continuar?

A questão que se coloca agora é se as disparadas dos lucros vão continuar. E, de acordo com analistas, sim.

Segundo Lima, algumas empresas, como as geradoras, podem se beneficiar de custos mais baixos de compra de energia e da entrada em operação de novos ativos.

“Já as transmissoras, após fases intensas de investimento, podem focar em distribuição de dividendos. A renovação das concessões de distribuição de energia também será um fator importante a ser monitorado, impactando os resultados futuros”, discorre.

Na visão de Schweitzer, do ponto de vista operacional, as tendências vistas até aqui tendem a persistir.

“No front financeiro, aos menores índices de inflação começam a se somar, também, as quedas dos juros pós-fixados (SELIC, CDI). Ou seja: os resultados financeiros devem seguir melhorando”, argumenta.

Por outro lado, Alves, da VG Research, recorda que o segundo semestre possui sazonalidade, com temperaturas mais quentes, e normalmente, e falta das chuvas.

“As empresas de geração entregam resultados mais fracos nesse período, enquanto as distribuidoras atuam de forma mista e as transmissoras não possuem grande volatilidade”, observa.

Outro ponto que o investidor precisa ficar atento são os leilões. Gabriel Bassotto, analista chefe de ações do Simpla Club, diz que os próximos certames vão atrair investimentos na ordem de bilhões de reais.

“Ao mesmo tempo que traz oportunidades, estamos observando leilões com deságio muito grande. As empresas não vão conseguir gerar valor para o seu acionista se pagarem muito caro”, coloca.

Nesta terça, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou a abertura de consulta pública sobre o edital do primeiro leilão de transmissão de energia de 2024, prevendo a oferta de 15 lotes que devem exigir ao todo R$ 20,5 bilhões em investimentos.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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