Dividendos acima de R$ 50 mil devem começar a pagar IR em 2026; que impactos podemos esperar para o mercado acionário?
A partir de 1º de janeiro de 2026, a tributação de dividendos deve começar a valer no Brasil. Investidores que receberem mais de R$ 50 mil por mês de uma mesma empresa terão 10% de Imposto de Renda retidos na fonte.
Que impactos essa mudança deve ter para as companhias e para o mercado acionário brasileiro? O Money Times ouviu especialistas para tentar entender.
Corrida em 2025 e mais recompras
Por enquanto, o primeiro efeito já visto é uma “corrida” de dividendos: empresas vêm antecipando anúncios para evitar a nova alíquota.
Para 2026, porém, as opiniões se dividem. A maior parte dos especialistas ouvidos afirma que os impactos devem ser marginais.
“A tributação diminui o valuation das empresas, mas é pouco. Marginal. No Brasil, o dividendo médio já é baixo, entre 3% e 5% ao ano, então tributar essa fatia não muda a essência da tese de investimento”, afirma Fernando Siqueira, head de Research da Eleven. “O investidor brasileiro normalmente busca mais o ganho de capital, que já é tributado.”
Siqueira também diz que não espera mudança relevante no apetite por setores tradicionalmente associados a dividendos, como bancos e elétricas. “Não vejo uma mudança significativa no apetite por essas empresas. Não será algo que fará as pessoas mudarem seus comportamentos ou estratégias.”
Na mesma linha, João Daronco, analista da Suno, também aposta em um impacto reduzido. Mas, segundo ele, empresas com grande participação de pessoas físicas na base acionária podem resolver ajustar suas políticas de capital.
“Nessas companhias, teremos dois efeitos: a antecipação dos dividendos, que já está acontecendo, e a possibilidade de priorizar recompras em vez de proventos no futuro.”
Ainda assim, Daronco não enxerga alterações relevantes no valuation nem no custo de capital, já que existem, justamente, outras formas de remuneração aos acionistas.
Poucas pessoas afetadas
Hugo Cabral, analista da Nord, reforça que apenas uma parcela pequena das pessoas físicas será efetivamente impactada. “Para essa minoria, a atratividade de empresas pagadoras de dividendos pode ter uma leve redução, já que o retorno líquido diminui. Nesse cenário, o investidor pode exigir uma taxa de retorno maior, incorporando o efeito dos dividendos nos cálculos.”
Cabral lembra que são poucos os investidores que ultrapassam o limite de R$ 50 mil em proventos mensais de uma mesma empresa. Com um dividend yield de 8%, isso exigiria um investimento aproximado de R$ 7,5 milhões — embora esse valor seja bem menor em casos de empresas que concentram pagamentos em poucos meses do ano.
Segundo ele, embora a nova tributação não deva alterar de maneira relevante o mercado no curto prazo, pode reduzir, na margem, o interesse de investidores de maior patrimônio em follow-ons futuros.
Impacto para estrangeiros
O analista que vê maior impacto da medida é João Zanott, da EQI Research.
“Investidores tendem a considerar a carga tributária ao estimar o retorno requerido. Isso pesa especialmente para estrangeiros que remetem lucros ao exterior”, diz. “Além do tributo sobre dividendos, eles também estão sujeitos a uma alíquota de 10% ao enviar seus ganhos para fora do país. Serão duas camadas de tributação.”
Na margem, analistas também esperam alguma migração de fluxo para ativos isentos — como LCIs e LCAs — e até para empresas de perfil mais growth.
Por ora, porém, a maior parte do mercado prefere aguardar os efeitos práticos da nova regra.