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Do ‘amor’ à guerra declarada: A briga entre Musk e Trump e seus efeitos no mercado

06 jun 2025, 19:00 - atualizado em 06 jun 2025, 17:35
Presidente dos EUA, Donald Trump, e o bilionário Elon Musk 19/11/2024 Brandon Bell/Pool via REUTERS
Presidente dos EUA, Donald Trump, e o bilionário Elon Musk 19/11/2024 Brandon Bell/Pool via REUTERS

A aliança entre Elon Musk e Donald Trump, antes celebrada como estratégica, virou um embate público com efeitos diretos sobre ações, criptomoedas e percepção de risco global.

O rompimento ganhou tintas ainda mais carregadas nesta semana, após a saída de Musk do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), críticas ao orçamento dos EUA e ameaças de retaliação por parte de Trump.

O impacto imediato foi sentido na Tesla (TSLA), que perdeu US$ 153 bilhões em valor de mercado em um único dia, com as ações despencando 14%. A turbulência ainda reverberou no mercado cripto, com o bitcoin (BTC) caindo para a faixa dos US$ 100 mil antes de se recuperar.

Linha do tempo da relação Musk–Trump

  • Julho de 2024: apoio após atentado
    Após uma tentativa de assassinato durante um comício na Pensilvânia, Elon Musk declara apoio total a Donald Trump em sua plataforma X;
  • Agosto – outubro de 2024: aproximação pública
    Musk participa de transmissões com Trump e é visto em comícios usando boné da campanha. Em outubro, aparece no palco ao lado de Trump e o chama de “único candidato a preservar a democracia americana”. Depois disso, sugere, publicamente, estar disposto a integrar o governo e se apresenta como representante do novo Departamento de Eficiência Governamental (DOGE);
  • Novembro de 2024: nomeação oficial
    Após a reeleição de Trump, Musk é oficialmente nomeado chefe do DOGE, ao lado do ex-candidato presidencial republicano Vivek Ramaswamy. O departamento é criado por decreto executivo com a missão de cortar gastos e reestruturar o governo. Na mesma época, Trump comparece ao lançamento da nave Starship da SpaceX, ao lado de Musk;
  • Janeiro de 2025: exaltação pública
    Durante a posse, Trump chama Musk de “nova estrela” e o inclui em reuniões com CEOs das maiores empresas de tecnologia dos EUA;
  • Fevereiro – março de 2025: tensões nos bastidores
    Musk implementa cortes agressivos em agências federais, gerando resistência interna. Trump afirma que o controle das agências cabe aos secretários de gabinete, não a Musk. Ainda assim, Trump continua defendendo Musk publicamente, chegando a transformar o gramado da Casa Branca em vitrine da Tesla após receber um carro da marca do bilionário;
  • Abril de 2025: sinais de afastamento
    Musk anuncia que pretende reduzir seu envolvimento no DOGE. Relatos apontam sobrecarga e distração, o que preocupa investidores da Tesla e da SpaceX. Na ocasião, a Tesla já acumulava queda de 40% nas ações no ano até então;
  • Maio de 2025: críticas públicas
    Em entrevista à CBS, Musk critica o projeto de lei de impostos e gastos de Trump, dizendo que contraria os princípios de austeridade do DOGE. No dia seguinte, ele deixa a Casa Branca. Trump realiza um evento de despedida, elogia Musk, mas minimiza a saída do bilionário, dizendo que “o DOGE é seu bebê”;
  • Junho de 2025: rompimento declarado
    Musk volta a criticar o projeto de lei, chamando-o de “abominação repugnante”. A troca de críticas se intensifica nas redes. Em resposta, Trump ameaça cancelar contratos com empresas de Musk. O empresário reage dizendo que Trump só venceu com sua ajuda. Logo após, o presidente norte-americano admite que a relação pode ter chegado ao fim. “Elon e eu tínhamos um ótimo relacionamento. Não sei se continuaremos assim”.

Como isso mexeu com o mercado?

A disputa entre as duas figuras mais influentes da política e da tecnologia gerou uma reação imediata e uma espécie de efeito dominó. Vale lembrar que as empresas de Elon Musk receberam (e recebem) bilhões de dólares de incentivo do governo norte-americano. Um corte desses benefícios tem potencial de derrubar os projetos do bilionário.

Por exemplo, a Tesla é o décimo primeiro nome no ranking das maiores empresas do mundo em valor de mercado. Ato contínuo, uma perspectiva de que uma companhia desse tamanho pudesse sofrer um baque do governo derrubou as bolsas norte-americanas.

Do mesmo modo, as criptomoedas, que se comportam como ações de empresas de tecnologia, também sofreram com a disputa.

  • Tesla (TSLA): A queda de 14% nas ações eliminou US$ 153 bilhões em valor de mercado. A empresa deixou de integrar o grupo das companhias trilionárias. Musk perdeu cerca de US$ 30 bilhões em patrimônio pessoal.
  • Índices americanos: A Tesla representa cerca de 2% do S&P 500. A queda da ação causou um impacto direto de 0,30 p.p. no índice. O Nasdaq, mais exposto ao setor de tecnologia, também sentiu o baque.
  • Bitcoin (BTC): A criptomoeda recuou para US$ 100 mil com o aumento da volatilidade e da incerteza política. Na manhã seguinte, recuperou parte das perdas, sendo negociada a US$ 103 mil.

O conflito Musk–Trump ocorre num momento de alta sensibilidade dos mercados, com investidores já cautelosos em relação à inflação, juros e desaceleração global. A ruptura entre os dois adiciona incerteza política e riscos sobre contratos públicos com empresas ligadas a Musk, além de acender um alerta sobre imprevisibilidade institucional.

A disputa também escancara o peso que figuras individuais exercem sobre a percepção de mercado, e como decisões políticas, pessoais e até emocionais podem influenciar ativos bilionários.

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gabryella.mendes@moneytimes.com.br