Do equity crowdfunding ao agro: Arara Seed capta R$ 50 mi e mira terras agrícolas, algas marinhas e agricultura regenerativa

O agronegócio vai muito além das grandes empresas listadas na bolsa. Hoje, ferramentas de investimento permitem que investidores se aproximem de startups e projetos inovadores do setor, abrindo espaço para oportunidades que unem tecnologia, sustentabilidade e potencial de valorização no campo.
Um exemplo é a Arara Seed, plataforma de equity crowdfunding voltada ao agronegócio e alimentos, que já captou R$ 50 milhões – entre ofertas públicas e rodadas privadas – e pretende alcançar R$ 200 milhões até 2032.
Fundada em 2022 e regulada pela CVM 88, a plataforma busca democratizar o acesso ao investimento agrícola, conectando investidores a startups promissoras do setor.
A Arara Seed nasceu após uma “peregrinação” do CEO Henrique Galvani, que, aos 17 anos, deixou o interior de São Paulo para viver em Lincoln, Nebraska (EUA), região com forte tradição no agronegócio.
De volta ao Brasil, Galvani ingressou na universidade e iniciou sua carreira como auditor em uma consultoria de fusões e aquisições (M&A) voltada ao setor agrícola em Ribeirão Preto. Com 13 anos de experiência no grupo BLB, ele participou de operações relevantes na revenda de insumos, incluindo Nutri, AgroGalaxy (AGXY3) e Lavoro, e em 2023 foi reconhecido na lista Forbes Under 30.
“Somos um crowdfunding que permite que empresas com faturamento de até R$ 40 milhões captem até R$ 15 milhões por meio de uma emissão pública. Esse é o primeiro passo para o acesso ao mercado de capitais. Atuamos com ofertas públicas e privadas. O crowdfunding está em alta, e acreditamos que a tokenização vai ampliar significativamente nosso mercado”, afirma Galvani em entrevista ao Money Times.
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Novas frentes: mini-CRIs e mini-CRAs
Diante do cenário macroeconômico desafiador, a Arara Seed criou uma vertical de dívidas, que permite a emissão de mini-CRIs e mini-CRAs — títulos de dívida de empresas do setor imobiliário e do agronegócio que captam recursos de investidores, geralmente com rentabilidade atrelada ao IPCA ou a juros prefixados — diretamente pela plataforma.
Nos últimos meses, a empresa realizou duas captações, de R$ 7 milhões e R$ 8 milhões, com rentabilidade entre IPCA +10,4% e IPCA +12%.
Oportunidades em terras e expansão agrícola
Com mais de 3 mil investidores cadastrados e 680 ativos disponíveis, a Arara percebeu um aumento na demanda por terras agrícolas, impulsionada pela queda dos preços das commodities.
Isso fez com que a empresa voltasse sua atenção para pastagens degradadas e expansão agrícola em novas fronteiras, fora dos polos já valorizados como Ribeirão Preto (SP) e Triângulo Mineiro.
“O nosso foco está sendo olhar esses 28 milhões de hectares de pastagens degradadas que podem ser recuperadas no Brasil”, destaca o executivo.
O foco em agricultura regenerativa e investimentos verdes
Arara Seed também aposta na agricultura regenerativa, modelo que busca restaurar o solo e aumentar a eficiência produtiva com menor uso de defensivos. Segundo Galvani, o conceito difere da agricultura orgânica: “O objetivo é otimizar o uso de insumos. Não quer dizer vamos deixar de usar químicos, o Brasil é um país tropical, isso seria algo impossível.”
O CEO cita o Eco Invest Brasil, um programa do governo federal que busca atrair investimentos privados e estrangeiros para projetos sustentáveis de longo prazo, oferecendo instrumentos financeiros e linhas de crédito para estimular setores como transição energética, bioeconomia e recuperação ambiental.
“Vamos ter algo em torno de R$ 17,3 bilhões em um edital para recuperação de pastagens. Também serão disponibilizados créditos mais acessíveis para quem adotar práticas de agricultura regenerativa”, afirma.
Apesar dos avanços, ele alerta para a falta de força e credibilidade no mercado de carbono. Para ele, são necessários pilares e métodos de mensuração para conferir integridade ao assunto.
“Precisamos de certificados para culturas, para termos padrões para pagar um prêmio para produtos como soja sustentável do Cerrado e soja livre de área de desmatamento. Para mim, o maior desafio do mercado é a integridade do que é de fato a agricultura regenerativa“, destaca.
Fertilizantes de algas marinhas? O avanço e inovação do Brasil em biológicos
Outro eixo de crescimento observado pela empresa é o dos bioinsumos, mercado que movimentou R$ 5,7 bilhões na safra 2023/24 e pode chegar a R$ 9 bilhões até 2030, segundo projeções do setor.
Startups como Gênica e Agrion têm liderado a inovação nesse campo. Galvani destaca o avanço dos fertilizantes biológicos à base de algas marinhas cultivadas na costa brasileira, que podem reduzir a dependência externa por insumos — uma vulnerabilidade exposta durante a guerra entre Rússia e Ucrânia —, além dos custos do agro com fertilizantes.
“Tenho estudado muito sobre fertilizantes biológicos à base de algas marinhas cultivadas na costa brasileira, porque vejo que é um mercado gigantesco, tanto para a nutrição do solo quanto para o foliar. Com o avanço da recuperação de pastagens degradadas, a demanda por fertilizantes vai crescer 20% no Brasil e não é bom para nós termos essa dependência externa”, afirma.
Crise no agronegócio?
Para Galvani, o agronegócio vive um momento cíclico, afetado por questões climáticas e compressão de preços das commodities. Ainda assim, ele considera o setor sólido e resiliente.
Os principais desafios, diz, estão na sucessão familiar e na implantação de governança dentro das propriedades rurais.
“O agronegócio é o motor do país. A inadimplência aumentou, mas por falhas de gestão e crédito. Historicamente, o agro é e continua sendo um bom pagador”, conclui.