Do “Joesley Day” à compra da Eletronuclear: como os irmãos Batista se reergueram de um escândalo e ampliaram seu império

A J&F anunciou na quarta-feira (15) a compra da participação da Eletrobras (ELET3) na Eletronuclear por R$ 535 milhões. A operação amplia o portfólio do império dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que agora passa a ter presença também no setor de energia nuclear. Mas o sucesso atual é fruto de uma longa reconstrução — e de uma virada improvável após um dos maiores escândalos políticos e corporativos da história recente do Brasil.
É inegável que os irmãos Batista construíram um dos maiores conglomerados empresariais do país. O que começou em 1953 com o pequeno açougue de José Batista Sobrinho, pai dos empresários, no interior de Goiás, hoje soma mais de 50 marcas em oito setores diferentes, com atuação em 20 países.
Algumas das marcas são:
Empresa | Ramo de Atuação | Países Presentes |
JBS | Alimentos e Proteínas | Brasil, Paraguai, Argentina, Uruguai, Canadá, México, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, País de Gales, Irlanda do Norte, Irlanda, Holanda, França, Itália, Espanha, Emirados Árabes, Arábia Saudita, Austrália, Nova Zelândia e Vietnã. |
Eldorado Brasil | Celulose | Brasil, China, Áustria e Estados Unidos. |
Canal Rural | Comunicação e Serviços Diversos | Brasil e Bolívia. |
Âmbar Energia | Energia | Brasil, Bolívia. |
NoCarbon | Locadora de Veículos Elétricos | Brasil. |
Lhg Mining | Mineração | Brasil, Paraguai e Uruguai. |
Flora | Saúde, Higiene e Cosméticos | Brasil. |
Banco Original | Serviços Financeiros e Tecnologia | Brasil. |
PicPay | Serviços Financeiros e Tecnologia | Brasil. |
Fluxus Oil, Gas & Energy | Óleo e gás | Brasil, Bolívia e Argentina. |
Do açougue à expansão internacional
No início, o negócio de José Batista Sobrinho, conhecido como Zé Mineiro, era voltado à compra e venda de gado. Com o tempo, a empresa ganhou fôlego com a abertura de matadouros e frigoríficos — movimento que levou à mudança de nome para Friboi, em 1975.
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Nos anos 1980, a entrada da segunda geração da família na administração trouxe uma gestão mais profissional e ambiciosa, impulsionando o crescimento. Mas foi nos anos 2000 que a empresa deu um salto rumo à liderança no mercado nacional de proteína bovina.
O ponto de virada veio com a aquisição da Swift Armour, na Argentina, que marcou o início da expansão internacional. Em seguida, o grupo ampliou a presença no país vizinho com a compra de seis novos frigoríficos, consolidando sua liderança global no setor.
Em 2007, a empresa realizou seu IPO, levantando R$ 1,6 bilhão e passando a se chamar JBS.
O “Joesley Day” e a queda dos Batista
A trajetória de crescimento foi interrompida por um dos episódios mais turbulentos da história recente do mercado brasileiro: o chamado “Joesley Day”.
Durante a Operação Lava Jato, os irmãos firmaram acordo de delação premiada com o Ministério Público, incluindo a gravação de conversas entre Joesley Batista, então CEO da JBS, e o ex-presidente Michel Temer.
Em 17 de maio de 2017, a gravação veio a público com a revelação de que Temer supostamente dava aval para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. O escândalo abalou Brasília e provocou pânico nos mercados: o Ibovespa despencou mais de 10%, e a B3 acionou o circuit breaker pela primeira vez desde a crise de 2008.
Ainda naquele ano, Joesley e Wesley foram presos por corrupção, pagamento de propina e insider trading, acusados de vender ações e dólares antes da divulgação das gravações.
Em 2023, porém, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) absolveu os irmãos das principais acusações.
A remontada dos irmãos Batista
Muitos apostaram que seria o fim da trajetória dos irmãos Batista. No entanto, após sete anos do escândalo, eles conseguiram se reerguer.
Com base em uma estrutura financeira sólida e apoio de executivos de confiança, os empresários voltaram a atuar diretamente na JBS em 2024, marcando o retorno oficial ao comando.
Segundo a Forbes, Joesley e Wesley Batista ocupam atualmente a 17ª posição entre as pessoas mais ricas do Brasil, com uma fortuna estimada em R$ 25 bilhões.
O passo mais recente do grupo foi a entrada no setor de energia nuclear, por meio da subsidiária Âmbar Energia, com a compra da participação da Eletrobras na Eletronuclear.
Criada em 1997, a Eletronuclear é responsável pela operação do Complexo Nuclear de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro — que inclui as usinas Angra 1 e Angra 2, em funcionamento, e Angra 3, ainda em construção.
Hoje, a Âmbar possui 50 ativos, que abrangem diferentes frentes do setor energético, como geração hidrelétrica, solar, biomassa, biogás e térmicas a gás natural e carvão mineral.