Gente S/A

Do microcosmo familiar ao mercado de trabalho: desafios e dinâmicas do poder

15 ago 2024, 9:59 - atualizado em 15 ago 2024, 9:59
MCTI carreira trabalho corporativo emprego poder
No mundo corporativo, as dinâmicas de poder se manifestam de diversas formas e há uma vasta bibliografia sobre o tema. (Imagem: Desola Lanre-Ologun/Unsplash)

Uma vez, quando reclamei sobre a bagunça em casa, um rabino me disse: “o que você queria? É uma casa com crianças, não um museu.” Verdade, ainda mais vinda de alguém que tem muitos filhos.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Ainda assim, de tempos em tempos, tenho meus ataques de ansiedade em relação à bagunça de casa, expulso mesmo todo mundo, coloco minha música e aciono o turbo clean tabajara. Em outras tantas, é um trabalho em família, ainda que sob protesto das crianças.

Mas, depois do último chilique, fiquei pensando e tentando entender de onde vinha esse meu desconforto extremo. Por que meu marido não sofre como eu? Será apenas uma questão de personalidade ou sensibilidade?

A pista veio de um dado histórico: durante pouco mais de 10 anos morei sozinha. Entre outras coisas, isso significa que eu tinha total controle sobre a minha bagunça – o que bagunçar, como bagunçar, quando bagunçar –, assim como o seu oposto: quando e como arrumar. Poder de decisão e controle sobre o ambiente ao meu redor, o meu microcosmo.

Perder ou compartilhar poder (quase sempre) é fonte de desconforto… seja lá em qual dimensão da vida for.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

No mundo corporativo, as dinâmicas de poder se manifestam de diversas formas e há uma vasta bibliografia sobre o tema. Como socióloga bairrista que sou, tenho a tendência a evocar os clássicos da área para me ajudar a (re)pensar sobre os desafios cotidianos, por mais banais que possam parecer.

No caso dessa reflexão sobre a bagunça em casa, foi Michel Foucault e sua microfísica do poder que me estenderam a mão: o poder está distribuído nas pequenas interações do cotidiano, nas sutilizas das relações interpessoais.

Além disso, ele também se manifesta fisicamente, na forma como o ambiente ao nosso redor está organizado e como este influencia nosso comportamento.

O desconforto em compartilhar ou perder poder é uma experiência comum em vários contextos do mundo do trabalho, mas ele aparece com maior força em determinados contextos, tais como:

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
  • Transição de Carreira: em muitos casos, recomeçar uma jornada profissional significa perder status e influência acumulados ao longo de muitos anos, o que pode gerar um sentimento de vulnerabilidade. Reconquistar esse “capital social” é um grande desafio.
  • Fusões e Aquisições: quando empresas se fundem ou são adquiridas, os líderes das organizações envolvidas frequentemente enfrentam a necessidade de compartilhar poder com novos parceiros ou até mesmo de perder posições de comando. Essa redistribuição de poder pode gerar insegurança, resistência e, em alguns casos, conflitos que afetam o desempenho da organização.

Em suma, seja no lar ou no mundo corporativo, o poder é algo que, quando perdido ou compartilhado, pode gerar desconforto. Estar atento às dinâmicas das relações interpessoais e trazer à consciência as raízes de gatilhos emocionais (próprios e alheios) são passos fundamentais para lidarmos melhor com experiências desse tipo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compartilhar

Mãe, socióloga e eterna aprendiz. Por mais de 15 anos, trabalhei com análise, fortalecimento e desenvolvimento de políticas públicas de respeito e promoção de direitos fundamentais no Brasil e nos EUA. Depois de um sabático de 6 anos dedicados à maternidade, fiz transição de carreira para o mercado financeiro, atuando nas áreas de comunicação interna, DEI, employer branding e cultura organizacional. Sou Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo e Mestre em Estudos Latino-Americanos e Caribenhos pela New York University.
bruna.vogel@empiricus.com.br
Mãe, socióloga e eterna aprendiz. Por mais de 15 anos, trabalhei com análise, fortalecimento e desenvolvimento de políticas públicas de respeito e promoção de direitos fundamentais no Brasil e nos EUA. Depois de um sabático de 6 anos dedicados à maternidade, fiz transição de carreira para o mercado financeiro, atuando nas áreas de comunicação interna, DEI, employer branding e cultura organizacional. Sou Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo e Mestre em Estudos Latino-Americanos e Caribenhos pela New York University.