Do Sul ao Centro-Oeste: O presente e o amanhã da agricultura, segundo o produtor rural
O 3tentos (TTEN3) Day reuniu três produtores rurais de diferentes regiões do Brasil, que apresentaram cenários distintos e perspectivas para a agropecuária nacional com base nas transformações dos últimos 20 anos e nas novas tendências do setor.
O “Painel do Campo: Evoluções e Desafios do Agro”, mediado por Luiz Augusto Dumoncel, COO da 3tentos, contou com a participação de Thalles Pezzini, produtor em Santa Bárbara do Sul (RS); Daniel Gonçalves da Silva, de Jaguarão (RS); e Peterson Piovesan, de Porto dos Gaúchos (MT).
Entre as principais mudanças desde 2005, os produtores destacaram:
- Plantio direto: essencial para manter a produtividade e a sustentabilidade do solo;
- Biotecnologia: maior eficiência e redução de custos;
- Agricultura digital: precisão crescente na tomada de decisão;
- Piora da relação custos/margens: exigindo mais gestão e eficiência operacional.
O papel da diversificação e a “inimiga” da agricultura
Com 28 anos na atividade e nove anos à frente da gestão familiar, após processo de sucessão, Thalles Pezzini cultiva soja, milho e trigo — tanto irrigado quanto de sequeiro. Para ele, a diversificação é um dos pilares do futuro da agricultura.
“Um dos segredos da longevidade no agro é não colocar todos os ovos na mesma cesta — diversificar culturas, ciclos e sistemas para sustentar resultados ao longo dos anos. Trabalhamos a céu aberto; tudo pode acontecer; por isso diversificar é essencial.”
Pezzini reforça que o produtor não pode se emocionar nos anos bons, nem se desesperar nos anos ruins. Olhando para os próximos 20 — “ou até 100” — anos , ele acredita que o grande desafio será reduzir a variabilidade dos resultados.
“Variabilidade é inimiga da agricultura. Precisamos buscar consistência ao longo dos anos. Como fazer isso? Com tecnologia, IA, análise de dados, gestão de pessoas, sucessão bem estruturada e investimentos que tragam estabilidade: irrigação, rotação de culturas, manejo de solo e integração.”
O empresário do campo e a importância da rotação de culturas
Há seis anos na metade sul do Rio Grande do Sul — região de grandes oportunidades, mas também de forte volatilidade climática —, Daniel Gonçalves da Silva opera um sistema de rotação conhecido como “ping-pong” entre arroz e soja. A estratégia tem gerado ganhos agronômicos e maior produtividade para ambas as culturas.
Segundo ele, a lógica agronômica precisa estar acima da econômica: “A rotação melhora o solo e sustenta resultados no longo prazo. Isso é essencial”.
Daniel reforça ainda que o produtor rural se tornou um empresário do campo, e que a gestão é condição básica para sobrevivência.
“Há 20 anos, muitas propriedades eram tocadas sem estrutura de empresa. Hoje, o produtor que não adota gestão profissional não sobrevive”.
Outro ponto destacado é a evolução da mão de obra rural.
“Não falta gente no campo — e hoje o campo paga mais que a cidade. Estamos vendo uma mudança no perfil da mão de obra, que deixa de ser intuitiva e passa a ser cada vez mais especializada”.
Hedge, sucessão familiar e oportunidades nos ciclos de mercado
A família de Peterson Piovesan tem origem na pecuária, e a agricultura entrou apenas na segunda geração, por iniciativa dele e de sua irmã.
“Em 2009, decidimos entrar na agricultura para recuperar pastagens degradadas. Começamos com arroz de sequeiro, em módulos pequenos. O primeiro módulo de soja veio em 2012”.
Para Peterson, manter-se na atividade exige cada vez mais uma postura de empresário rural, com estratégia clara de hedge e atenção ao processo de sucessão familiar.
“A sucessão é sempre um desafio: o filho pode ter acompanhado o pai desde pequeno, mas não necessariamente na gestão. Erros fazem parte do processo. Trabalhar bem a sucessão é essencial para manter a família no agro por décadas”.
Ele também destaca a necessidade de saber lidar com os ciclos do mercado. “Muitos produtores erram justamente no ano bom, acelerando demais o custo — e, quando vem o ano ruim, esse custo demora para cair. Mesmo nos anos ruins há oportunidades, e é preciso aproveitá-las. Renovar frota, por exemplo, costuma ser mais vantajoso no final de um ciclo difícil”.