Dólar avança a R$ 5,46 após Fed sinalizar apenas um corte nos juros em 2026
O dólar enfrentou um dia movimentado com cautela com cenário eleitoral, expectativa de decisão do Banco Central, inflação dentro da meta e corte nos juros dos Estados Unidos.
Nesta quarta-feira (10), o dólar à vista (USDBRL) encerrou a sessão a R$ 5,4686, com alta de 0,60%.
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O movimento destoou da tendência externa. Por volta das 17h (horário de Brasília), o DXY, indicador que compara o dólar a uma cesta de seis divisas globais, como euro e libra, caía 0,52%, aos 98.700 pontos.
O que mexeu com o dólar hoje?
As decisões de política monetária nortearam as movimentações do câmbio nesta quarta-feira (10).
Nos Estados Unidos, o Comitê Federal do Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA) corttou os juros em 0,25 ponto percentual, para a faixa de 3,50% a 3,75% ao ano, como o esperado. Essa foi a terceira redução consecutiva.
A decisão, mais uma vez, não foi unânime: Stephen Miran votou pelo corte de 0,50 ponto percentual, enquanto Austan Goolsbee e Jeffrey Schmid optaram por manter o Fed Funds na faixa de 3,75% a 4,00% ao ano. Sendo assim, o placar ficou 9 a 3, a maior dissidência desde setembro de 2019.
Na avaliação de Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, a divisão no Fomc “mostra uma maior dificuldade do Comitê na tomada de decisões em meio ao balanço de riscos que continua delicado, com inflação longe da meta e atividade desacelerando”.
O mercado também acompanhou a atualização das projeções do Fed para os próximos anos – o “famoso” dot plot, ou gráfico de pontos. A mediana das projeções mostra apenas um corte nos juros em 2026, com o Fed Funds encerrando o próximo ano na faixa de 3,25% a 3,50% ao ano, sem novidades em relação ao dot plot anterior, divulgado em setembro.
Durante a coletiva de imprensa, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que as perspectivas para inflação e emprego nos Estados Unidos não mudaram “muito” em relação a última decisão do Fomc, em outubro.
“Embora dados importantes do governo federal dos últimos meses ainda não tenham sido divulgados, dados disponíveis do setor público e privado sugerem que as perspectivas para emprego e inflação não mudaram tanto esde a nossa reunião em outubro”, disse Powell.
O presidente do Fed ainda disse que há sinais de desinflação, mas ainda acima da meta de 2%. “Vamos sinais de desinflação no setor de serviços, mas alguma alta em bens por tarifas. […] Os riscos de inflação estão para cima e de emprego para baixo”, afirmou.
Powell também comentou que os membros do Fomc decidiram iniciar compras de títulos do Tesouro de curto prazo apenas com o objetivo de manter um amplo suprimento de reservas ao longo do tempo. “Precisamos de reserva ampla para lidar com pressão de pagamento de importos, por exemplo.”
Inflação e Copom
No Brasil, o dólar ganhou força em dia de inflação e também decisão de política monetária.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do Brasil, subiu 0,18% no mês de novembro, após registrar alta de 0,09% em outubro. O resultado ficou em linha com a expectativa de alta de 0,18% no período.
Em 12 meses, a inflação acumulou alta de 4,46% — a estimativa do mercado era de uma desaceleração de 4,68% para 4,47%. Com isso, o IPCA voltou para dentro da meta perseguida pelo Banco Central, de 3% com tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.
Para a economista Luciana Rabelo, do Itaú BBA, a inflação mostrou uma composição ligeiramente mais benigna.
“De um lado, os industriais subjacentes vieram um pouco acima do esperado (com um efeito menor dos descontos da Black Friday). Por outro lado, serviços subjacentes vieram abaixo do esperado, com surpresa baixista concentrada em alimentação fora do domicílio (refeição) e conserto de automóveis. A divulgação de hoje confirma tendência mais benigna da inflação no curto prazo”, afirmou a economista, em relatório.
Além disso, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve manter a Selic em 15% ao ano. O mercado, porém, espera alguma indicação de início do ciclo de afrouxamento monetário no primeiro trimestre de 2026, após dados mais fracos da economia na semana passada. A decisão será divulgada ainda hoje após o fechamento do mercado.
A expectativa pelas decisões de política monetária nos e no Brasil movimentou o mercado de câmbio nesta terça-feira (9). Hoje foi o primeiro dia de reuniões do – nos EUA – e Comitê de Política Monetária (Copom) brasileiro.
O cenário eleitoral continuou no radar.
“O real segue pressionado pela busca de posições cambiais defensivas após o auemnto das incertezas políticas com a confirmação da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (PL). A volatilidade dos ativos domésticos, somanda à curva de juros local ainda relutante em devolver prêmio, reforça o ambiente de aversão ao risco”, afirmou Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.