Dólar sobe a R$ 5,40 com plano do governo para mitigar impacto do ‘tarifaço’ de Trump

O dólar voltou a ganhar força ante o real com o enfraquecimento das commodities e retomada da cautela com o cenário fiscal doméstico.
Nesta quarta-feira (13), o dólar à vista (USDBRL) encerrou as negociações a R$ 5,4018, com alta de 0,27%.
O movimento destoou da tendência vista no exterior. Ante moedas fortes, o dólar seguiu em desvalorização com as apostas de corte nos juros dos EUA beirando a 100%. Por volta de 17h (horário de Brasília), o DXY, indicador que compara o dólar a uma cesta de seis divisas globais, como euro e libra, caía 0,26%, aos 97,834 pontos.
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O que mexeu com o dólar hoje?
O dólar seguiu na trajetória de perdas ante as moedas globais com o aumento da precificação de um corte nos juros nos Estados Unidos na próxima reunião do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano).
Nesta quarta-feira (13), os operadores veem 97,9% de chance de o Fed cortar os juros em 25 pontos-base em setembro, de acordo com a ferramenta FedWatch, do CME Group, o que levaria a taxa para a faixa de 4,00% a 4,25% ao ano. Ontem (12), a chance era de 93,9%. Os investidores também aumentaram suas apostas em cortes nos juros em outubro e dezembro.
O gatilho para o aumento das apostas foi o dado de inflação abaixo do esperado, divulgado ontem (12). O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,2% em julho, abaixo do esperado, e acumulou alta de 2,7% em 12 meses.
Embora o CPI não seja o indicador inflacionário de referência para o Fed, o dado é usado para calibrar as expectativas sobre a trajetória dos juros na maior economia do mundo.
A perspectiva também foi reforçada após novas declarações do secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent. Ele afirmou que vê espaço para uma redução de 50 pontos-base nos juros já no próximo mês com base nos números fracos de emprego.
“Se tivéssemos visto esses números em maio, em junho, suspeito que poderíamos ter tido cortes nos juros em junho e julho. Portanto, isso me diz que há uma chance muito boa de um corte de 50 pontos-base” em setembro, disse Bessent em uma entrevista à Bloomberg. “Os juros estão muito restritivos. Provavelmente, deveríamos estar 150 a 175 pontos-base mais baixo”, acrescentou.
Mas ante o real, o movimento foi o oposto. Por aqui, o dólar ganhou força com a retomada da cautela fiscal do mercado após o anúncio do esperado plano de contingência para setores e empresas afetados pela tarifa de 50% sobre a importação dos produtos brasileiros nos EUA e que entrou em vigor há uma semana.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou uma medida provisória que estabelece um conjunto de medidas para mitigar os impactos econômicos do tarifaço. O pacote inclui R$ 30 bilhões em linha de crédito, aportes de R$ 4,5 bilhões em diferentes fundos garantidores e até R$ 5 bilhões em créditos tributários a exportadores.
Também haverá uma prorrogação de um ano no prazo do mecanismo de “drawback” — regime aduaneiro que permite a suspensão ou isenção de tributos incidentes na aquisição de insumos usados na fabricação de produtos exportados.
O governo ainda anunciou uma ampliação do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra), com concessões de créditos tributários de até R$ 5 bilhões até dezembro de 2026.
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Na avaliação do economista do Inter, André Valério, o pacote do governo federal não é grande o suficiente para gerar distorções significativas em termos fiscais. Para ele, a medida veio dentro do esperado.
“O risco é a perpetuação das medidas, que poderiam se tornar mais uma forma de política industrial, criando mais distorções e, potencialmente, impactando a condução da política monetária via incerteza fiscal e crédito subsidiado”, disse Valério em nota.
Já a Warren afirma que “será necessário acompanhar se o impacto primário de cerca de R$ 10 bilhões estará sujeito às limitações do arcabouço fiscal”. “Cabe notar que, em nosso entendimento, não se pode excluir um gasto da meta fiscal por meio de Medida Provisória”, disse a gestora em nota.
O economista-chefe da BGC Liquidez, Felipe Tavares, disse que a medida, com a retirada de R$ 9,5 bilhões do primário, fere as expectativas do mercado de um fiscal sem surpresas para 2025, “no sentido de que os problemas já tinham sido precificados e não era esperada nenhuma ‘surpresa’ extra”.
Os dados ficaram em segundo plano. As vendas no varejo tiveram um recuo de 0,1% em junho na comparação com o mês anterior. A expectativa dos analistas consultados pela Reuters era de avanço de 0,7% no período.