Dólar sobe a R$ 5,33 após ata do Fed consolidar apostas de manutenção dos juros em dezembro
A expectativa de manutenção dos juros nos Estados Unidos ganhou força e o dólar também subiu ante as moedas globais e emergentes.
Nesta quarta-feira (19), o dólar à vista (USDBRL) encerrou a sessão a R$ 5,3385, com alta de 0,39%.
O movimento seguiu a tendência externa. Por volta das 17h (horário de Brasília), o DXY, indicador que compara o dólar a uma cesta de seis divisas globais, como euro e libra, operava com avanço de 0,66%, aos 100,205 pontos.
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O que mexeu com o dólar hoje?
A política monetária dos Estados Unidos continuou a orientar as movimentações do câmbio nesta quarta-feira (19).
O mercado operou em compasso de espera pelo relatório de empregos (payroll). Hoje, o Departamento de Estatística do Trabalho dos EUA (BLS, na sigla em inglês) anunciou que não divulgará o payroll de outubro e o relatório referente ao mês de novembro foi adiado para 16 de dezembro. O payroll de setembro segue previsto para amanhã (20).
A divulgação do BLS ‘azedou’ o humor dos investidores, com a percepção de que o Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA) não terá dados suficientes para a próxima decisão de política monetária, prevista para o dia 10 de dezembro, e, por isso, o BC norte-americano deve manter os juros inalterados.
As apostas de interrupção do ciclo de afrouxamento monetário foram também “alimentadas” pela ata da última decisão do Fed. No documento, a autoridade monetária afirmou que, apesar de reduzir os juros em 0,25 ponto percentual, os membros do Comitê Federal do Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) seguem divididos quanto ao rumo das taxas.
Segundo a ata, muitos participantes defenderam a necessidade de um corte dos juros, argumentando que os riscos negativos para o mercado de trabalho se intensificaram nos últimos meses.
Outro conjunto de autoridades, porém, se mostrou contrário à redução. Esses participantes avaliaram que o progresso em direção à meta de 2% ficou estagnado ao longo do ano e que a alta recente das leituras de inflação exige prudência.
A divergência se estendeu à avaliação sobre quão restritiva está hoje a política monetária. Enquanto alguns integrantes consideraram que, mesmo após o corte, os juros continuariam em território restritivo, outros argumentaram que a resiliência da atividade econômica e as condições financeiras mais favoráveis mostram que a taxa não é tão contracionista.
Para André Valério, economista sênior do Inter, a ata da reunião “reforçou uma percepção que tem se tornado cada vez mais pública: há uma clara divisão entre os membros do Comitê. Eles observam um mercado de trabalho que enfraquece gradualmente, enquanto a inflação permanece acima da meta e com perspectivas de novos repasses tarifários nos próximos meses”.
“Chama atenção, particularmente, a escolha da linguagem utilizada. Em determinado trecho, a ata afirma que alguns membros veem a possibilidade de uma nova redução em dezembro, caso a economia evolua como esperado. Em outro momento, indica que muitos consideram apropriado manter a taxa inalterada pelo restante do ano”, acrescentou o economista.
Na visão de Valério, tudo indica que a decisão de dezembro será bastante dividida, com elevada dissidência.
Perto do fechamento, a ferramenta FedWatch, do CME Group, indicava 66,2% de chance de o BC manter os juros na faixa de 3,75% a 4,00% ao ano, ante 49,9% da véspera (18). Já a probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual caiu de 50,1% ontem para 33,8% hoje.
Além do cenário internacional, o real perdeu força ante o dólar com o enfraquecimento das commodities, já que o Brasil é um país exportador. O contrato mais líquido do petróleo Brent, também para janeiro, encerrou as negociações com recuo de 2,12%, a US$ 63,51 o barril na Intercontinental Exchange (ICE), em Londres.
Na avaliação de Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, o movimento de enfraquecimento do real ante o dólar é reforçado pela realização de lucros após a recente valorização da moeda brasileira e pela demanda sazonal de fim de ano, que aumenta as remessas ao exterior. No ano, o real acumula valorização de quase 14% ante a divisa norte-americana.