Dólar sobe a R$ 5,47 com julgamento de Bolsonaro, PIB acima do esperado e exterior

O dólar engatou mais uma alta ante o real em um dia movimentado por dados no Brasil e nos Estados Unidos e o início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
Nesta terça-feira (2), o dólar à vista (USDBRL) encerrou as negociações a R$ 5,4748, com alta de 0,64%. Durante a sessão, a moeda chegou a superar brevemente a cotação de R$ 5,50.
O movimento destoou da tendência vista no exterior. Por volta de 17h (horário de Brasília), o DXY, indicador que compara o dólar a uma cesta de seis divisas globais, como euro e libra, subia 0,56%, aos 978.330 pontos.
- LEIA MAIS: Comunidade de investidores Money Times reúne tudo o que você precisa saber sobre o mercado; cadastre-se
O que mexeu com o dólar hoje?
Os dados econômicos movimentaram o câmbio nesta terça-feira (2).
No Brasil, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,4% no segundo trimestre de 2025 (2T25). O resultado representa desaceleração frente ao avanço de 1,4% nos três primeiros meses do ano. O número, porém, veio acima das projeções do mercado, de avanço de 0,3% no período.
O PIB totalizou R$ 3,2 trilhões em valores correntes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram R$ 2,7 trilhões vindos de valor adicionado a preços básicos, e outros R$ 431,7 bilhões de impostos sobre produtos líquidos de subsídios.
Para o Santander, os dados do PIB confirmaram a expectativa de desaceleração no 2T25, mostrando o fim do impacto positivo da agropecuária. “Apesar da surpresa positiva em relação à nossa previsão, observamos sinais mais claros de desaceleração em segmentos sensíveis ao ciclo econômico”, afirmou o economista do banco, Gabriel Couto.
Couto ainda avaliou que espera um cenário de baixo crescimento ao longo do segundo semestre deste ano. “Os riscos positivos incluem a resiliência do mercado de trabalho e o impulso fiscal observado no terceiro trimestre (3T25), enquanto no lado negativo destacamos os efeitos contracionistas da política monetária e a deterioração das condições de crédito.”
Após o dado, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda afirmou que a atual projeção oficial para o PIB em 2025, uma alta de 2,5%, agora tem “leve viés de baixa” após resultado da atividade econômica do 2T25.
Em nota técnica, a pasta afirmou que a avaliação é motivada pela desaceleração mais acentuada no segundo trimestre em relação ao que era esperado em julho, além da repercussão dos efeitos defasados e cumulativos da política monetária sobre a atividade.
O início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) pela tentativa de golpe de Estado também dividiu as atenções. O processo deve durar até a sexta-feira da semana que vem, dia 12.
O inquérito tem sido um ponto de tensão nas relações entre Brasil e Estados Unidos, sendo a justificativa do presidente norte-americano Donald Trump para impor uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros e para a aplicação de sanções individuais a autoridades brasileiras.
Dólar sobe com atividade econômica dos EUA
No exterior, o dólar também ganhou força com novos dados de atividade econômica dos Estados Unidos, que vieram abaixo do esperado. Há também a expectativa pelo relatório mensal de empregos, o payroll, de julho — que será divulgado na próxima sexta-feira (5).
O setor manufatureiro do país contraiu pelo sexto mês consecutivo em agosto, com o impacto das tarifas do presidente Donald Trump.
O Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM, na sigla em inglês) informou que o índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor subiu de 48,0 em julho para 48,7 no mês passado. Os economistas consultados pela Reuters previam que o PMI subiria para 49,0.
Uma leitura do PMI abaixo de 50 indica contração no setor industrial, que responde por 10,2% da economia norte-americana.
Com o dado, o mercado elevou a aposta de corte nos juros norte-americanos pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) na próxima decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), prevista para o dia 17 deste mês.
Perto do fechamento, os agentes financeiros precificavam 91,7% de chance de o BC dos EUA reduzir os juros em 0,25 ponto percentual, de acordo com a ferramenta FedWatch, do CME Group. Ontem (1º), a probabilidade era de 86,4%. Hoje, a taxa está na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano.
As tarifas de Trump voltaram a gerar incerteza nos mercados. Uma corte federal norte-americana considerou ilegal a adoção das taxas comerciais nesta terça-feira (2). O tribunal permitiu que as tarifas permanecessem em vigor até 14 de outubro para dar ao governo Trump a chance de entrar com um recurso na Suprema Corte dos EUA. Mas o veredicto não afetou as tarifas aplicadas ao aço e ao alumínio.
No final da tarde, Trump disse que vai protocolar amanhã (3) uma apelação à Suprema Corte para reverter a decisão. “EUA terão sérios problemas sem as tarifas. Sem elas, nós seremos um país de terceiro mundo”, disse o presidente durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca.
As tensões geopolíticas ficaram no radar. Trump também disse hoje (2) que não está “nem um pouco preocupado” com a formação de um eixo contra os Estados Unidos que inclua a China e a Rússia.
As declarações de Trump no “Scott Jennings Radio Show” foram feitos depois que o presidente chinês, Xi Jinping, recebeu líderes, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin, em uma cúpula em Tianjin, na China. O encontro aconteceu ontem (1º).